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Os psicólogos “militantes”

Deixar de assumir uma postura contra a banalização da ciência psicológica no Brasil é também contribuir com a destruição do próprio trabalho

Marisa Lobo - 27/07/2019 11h08

Quem me acompanha durante esses anos sabe o que já precisei enfrentar para defender o direito de expressar minhas convicções pessoais sobre os mais diversos assuntos, mas principalmente sobre minha fé e entendimento sobre temas que contrariam os interesses de alguns ativistas infiltrados nos Conselhos de Psicologia. Essa não é uma realidade isolada, pois outros colegas também já passaram ou ainda passam por isso. Mas qual é a diferença do nosso caso em relação a outros profissionais cristãos?

Sei que não é fácil passar em média cinco anos estudando para conseguir uma formação profissional. Muitos precisam fazer grandes sacrifícios para conseguir pagar por seus estudos. São pessoas que sonharam um dia ter a sua independência, talvez o próprio consultório para os que atuam na área clínica e outros recursos próprios do trabalho de psicólogo. Pensando por esse lado, entendo que muitos colegas não queriam se envolver em situações polêmicas, defendendo coisas que podem, sim, render desgastes emocionais e até processos éticos.

O problema é que deixar de assumir uma postura contra a banalização da ciência psicológica no Brasil é também contribuir com a destruição do próprio trabalho, mas aos poucos. Sempre que você deixa de manifestar o que entende sobre determinados assuntos, falando como profissional, para evitar se envolver em polêmicas, você está contribuindo para o enfraquecimento da psicologia enquanto ciência no Brasil, e ao mesmo tempo favorecendo o esfacelamento da profissão, pois se não há credibilidade em nossa categoria perante a sociedade, consequentemente todo o nosso trabalho é desvalorizado.

Da imagem do louco aos militantes

Por décadas sofremos com a associação negativa da nossa imagem ao “louco”. Falar de atendimento psicológico era e ainda é coisa para “louco”. Esse preconceito continua nos prejudicando, mas como se não bastasse, agora está surgindo outro tipo de imagem associada ao atendimento psicológico. A imagem do psicólogo “militante”, fruto dos constantes e cansativos desvios de finalidade do Sistema Conselho de Psicologia acerca dos interesses que dizem respeito à psicologia no Brasil.

Com o constante posicionamento político e ideológico do Conselho Federal de Psicologia e regionais sobre temas como aborto, ideologia de gênero (transexualismo, travestismo, transgenderismo” e outras expressões “não identificadas”), descriminalização da maconha, concepção de família e religião, além de pautas ligadas notadamente aos movimentos de esquerda no país, o que temos visto é a preocupação cada vez maior da sociedade com relação à capacidade ética e técnica dos psicólogos no exercício da profissão.

Tenho ouvido pais e mães relatando a preocupação sobre o encaminhamento de seus filhos para psicoterapeutas que eles não sabem se podem confiar, simplesmente porque viram na postura do profissional (através do relato dos filhos) a intenção de querer conduzir o processo terapêutico, não conforme a demanda do cliente, mas de acordo com o que acreditam ser o ideal para eles. Há relatos até de acupuntura sendo praticada no consultório, florais de Bach, cromoterapia e recomendação para sessão espiritual mediúnica.

No campo político não é diferente. Assim como temos observado nas salas de aula de colégios e universidades, há psicólogos utilizando o exercício profissional para violar o Artigo 2 do Código de Ética do Psicólogo, induzindo seus clientes em trabalhos de grupo, na área da assistência social e escolar, principalmente, para rejeitarem pautas ligadas ao pensamento conservador, de direita e fundados na cultura judaico-cristã.

Tudo isso acontece porque o Sistema Conselho de Psicologia deixou de cumprir o que é o seu dever legal, de fiscalizar e regulamentar a profissão no país. Ao invés disso, o órgão utiliza nossos recursos (anuidades) muito mais para usar o seu poder de articulação a fim de militar em prol das ideologias políticas dos gestores. Enquanto isso os bons psicólogos, comprometidos com a ciência e ética da profissão, vão perdendo cada vez mais espaço de trabalho em face de outras atividades, como o “coach” e “psicoterapias” ilegais, sem o devido reconhecimento e chancela da comunidade científica.

Se envolver é assumir compromisso com a profissão

Não podemos evitar o confronto quando ele já existe diante de nós. A psicologia está sendo confrontada diariamente por quem viola nossos direitos através de práticas ilegais e que passam longe dos verdadeiros interesses da população. Como profissional você pode escolher não se envolver, focar em seu trabalho e não dizer uma palavra contra essa bagunça, mas até quando?

Se você não tiver uma postura ativa agora, cedo ou tarde verá a sua profissão totalmente desacreditada e vai sentir o peso disso. Essa desvalorização já começou e os sinais estão na própria sociedade, além das queixas de estudantes e profissionais em geral que se sentem, muitas veze,s amordaçados e com falta de opções. É possível reverter esse quadro, mas para isso precisamos agir.

Portanto, se envolva mais, tomando conhecimento do que está acontecendo na Psicologia brasileira. Participe de grupos de colegas interessados em reagir. Opine sempre que puder, verbalmente ou por escrito. Não deixe passar as oportunidades de manifestar o seu pensamento em situações em que a ciência estiver sendo ignorada. Apoie colegas que lutam contra o aparelhamento ideológico na Psicologia interagindo, seguindo e compartilhando suas ações. Esse é um compromisso individual, mas que se fizermos em conjunto, certamente faremos uma diferença muito maior.

 

Marisa Lobo possui graduação em Psicologia, é pós-graduada em Filosofia de Direitos Humanos e em Saúde Mental e tem habilitação para Magistério Superior.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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