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Estupro de vulnerável? Pense bem, antes de exaltar o tal “morador de rua”

Tenho motivos suficientes para suspeitar de que a mulher foi vítima de estupro de vulnerável

Marisa Lobo - 29/03/2022 15h54

Morador de rua contou sua versão sobre o caso Foto: Reprodução/YouTube Metrópoles

Na semana passada, fiz uma publicação abordando a violência doméstica, apontando o quanto nós, como Igreja, ainda pecamos neste quesito. Durante esse período, ganhou repercussão nacional o caso do “morador de rua” que foi flagrado tendo relações sexuais com uma mulher em seu veículo, após ter sido supostamente convidado por ela. O autor do flagrante foi o próprio marido, um personal trainer.

Como tudo que ocorre na internet, rapidamente, o tal morador de rua passou a ser “memetizado” por uma leva de internautas que não pouparam adjetivos para rotular a mulher e o homem que a “pegou”; enquanto o seu marido, o personal, tentava defender a honra da sua esposa quase que isoladamente.

Não demorou muito para que novas informações viessem à tona, revelando o estranho caso de uma mulher, casada e mãe, que teria decidido levar um estranho em situação de rua para dentro do próprio carro, fosse, na verdade, o episódio oriundo de um surto psicótico de uma pessoa que há meses vinha apresentando sintomas de adoecimento mental.

Sim, esse foi o apontamento de um laudo psiquiátrico feito sobre a mulher que se envolveu com Gilvaldo Alves de Souza, o “morador de rua”. Dito isto, quero aqui fazer duas observações pontuais, a fim de que o leitor possa compreender a gravidade da situação, assim como a correlação disso com a violência doméstica.

Personal trainer diz que esposa foi estuprada por morador de rua Foto: Reprodução/YouTube Metrópoles

1. Estupro de vulnerável?
Como psicóloga, ao analisar todos os relatos da situação disponíveis na mídia, envolvendo a esposa do personal trainer e Givaldo, tenho motivos suficientes para suspeitar de que a mulher foi vítima de estupro de vulnerável, crime este praticado contra alguém que, por alguma razão, não possui condições de se defender.

No caso em tela, a mulher estava em provável surto psicótico, apresentando sinais de delírio, motivo pelo qual teve um comportamento absolutamente incomum, colocando em risco a própria vida. Como o homem já vivido que é, será mesmo que Givaldo não percebeu que estava diante de uma mulher mentalmente doente?

Um áudio vazado pela mídia, em que a mulher conta detalhes do ocorrido, sugere que ela foi induzida por Givaldo a sair com ele para um local reservado. Isto, somado aos relatos do morador de rua sobre a relação sexual, no qual ele faz questão de detalhar o passo a passo do ato sem qualquer pudor e respeito pela esposa do personal, reforça, para mim, a tese de que ele, e não ela, foi o responsável pela condução da situação até o seu desfecho final.

Além disso, mesmo após a repercussão do caso, já ciente de que a mulher com quem teve relações é casada e estava possivelmente fora de si, Givaldo não poupou detalhes ao contar sobre o que fez com ela, sexualmente falando. Essa atitude sugere uma índole de perversão típica de abusadores sexuais, os quais se “orgulham” em divulgar as suas obscenidades.

Se as minhas suspeitas estiverem corretas, então, estamos tratando de um crime horrendo, cruel e digno da mais severa punição, o qual se torna ainda mais lamentável pela forma com que foi retratado inicialmente pela mídia.

O caso aconteceu no Distrito Federal Foto: Reprodução/ Print de vídeo YouTube Metrópoles

2. A violência do “machismo”
Como citei anteriormente, a violência doméstica é um problema real até mesmo no seio da Igreja Cristã; e parte disso diz respeito ao machismo que endeusa homens como Givaldo, o tal morador de rua que se orgulha de fazer relatos pornográficos da relação que teve com uma mulher portadora de problemas mentais.

Não venha me chamar de “feminista”, pois não é preciso defender o feminismo para reconhecer a realidade do machismo.

Admitir que existem homens ignorantes a ponto de achar que podem tudo por causa da sua condição sexual não é uma questão ideológica, mas de inteligência e honestidade intelectual. Assim como admitir que há mulheres frustradas que ignoram a própria natureza em função de uma causa imbecil que não as representa.

A violência contra a mulher também é parte da visão que temos sobre nós mesmas. Quando somos retratadas como objetos sexuais e admitimos isso, por exemplo, fazendo piadas com situações como essa ocorrida com a esposa do personal, estamos endossando a agressão contra a figura feminina; inclusive, dentro de casa.

A mídia também tem parte nisso, tanto que passou a reforçar a figura do morador de rua como um “pegador”. Por incrível que pareça, segundo rumores, até partidos políticos estão pensando em convidar o sujeito para se candidatar. Um completo absurdo de embrulhar o estômago!

Esse é o retrato fiel da atmosfera na qual algumas mulheres vítimas da violência vivem em suas casas, onde o agressor muitas vezes é visto como alguém digno de louvor.

Termino alertando sobre esse mal, pois nem tudo é o que parece. Portanto, pense bem antes de emitir juízos precipitados, pois a pessoa que a princípio aparenta ser um “cidadão de sorte” pode ser, na verdade, um criminoso da pior espécie.

Marisa Lobo possui graduação em Psicologia, é pós-graduada em Filosofia de Direitos Humanos e em Saúde Mental e tem habilitação para Magistério Superior.

* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.

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