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Ameaça de ‘Cabeção’ em matar o pai é parte de uma ideologia cúmplice das drogas

Situações como essa, do ator Sérgio Hondjakoff, são a ponta do iceberg

Marisa Lobo - 07/06/2022 13h00

Sérgio Hondjakoff aparece em surto e ameaça matar o pai Foto: Reprodução/Vídeo redes sociais

Acordei hoje e me deparei com um vídeo chocante do ator Sérgio Hondjakoff, que ficou famoso no Brasil pelo personagem Cabeção na novela Malhação. Dependente químico, ele aparece transtornado, no vídeo, devido ao efeito de drogas, ameaçando matar o próprio pai com um bastão.

É difícil encontrar palavras para expressar o tamanho da tristeza ao ver cenas como essas. Mesmo como psicóloga, atuante na luta a favor da criminalização das drogas há mais de 30 anos, esse é o tipo de coisa que ainda me deixa profundamente abalada, triste e sufocada pela sensação de impotência.

O que me resta, então, é fazer algumas considerações que possam servir de alerta para a sociedade, considerando que até hoje lido com pacientes que enfrentam a dependência química, e que ainda encontro, infelizmente, resistência nas políticas de enfrentamento ao abuso de drogas.

CUMPLICIDADE IDEOLÓGICA
Em primeiro lugar, situações como essa, do ator Sérgio Hondjakoff, são a ponta do iceberg, porque só as vemos quando o problema já se tornou absurdamente grave. O ponto é que há uma dimensão na qual poucos são capazes de enxergar devidamente, e entendê-la é fundamental.

Essa dimensão começa pelas ideologias cúmplices das drogas, sendo a principal a que prega o uso recreativo de substâncias como a maconha. Isso porque, muitas vezes, é por intermédio dessa droga que a “porta de entrada” para a dependência de entorpecentes mais pesados, como a cocaína e o crack, é aberta.

O álcool e o cigarro também podem ser portas de entrada para a dependência química pesada. E, ambos, estão atrelados à cumplicidade ideológica cultural, por exemplo, quando são glamourizados em comerciais de TV, filmes e em outros meios.

No Brasil, essa cultura da alcoolização (embriaguês) como meio de diversão em baladas e até nas reuniões em família, é um problema real. Isso tem feito muitos jovens abraçarem o mundo das drogas por tabela, quando são apresentados a outros entorpecentes, achando que conseguirão manter o mesmo controle aparente.

Não é por acaso que a exclusão dos comerciais de cigarro, na TV, ajudou a cair absurdamente o número de fumantes nos últimos anos. Essa é uma evidência clara do quanto a cultura está diretamente relacionada ao contexto de dependência química não somente no Brasil, mas no mundo.

Mas, a maconha deve ser o alvo especial da nossa atenção devido ao seu potencial mais prejudicial a curto e médio prazo, tanto em termos de vício, quanto em sequelas físicas. Portanto, quem prega a legalização dessa droga como substância “recreativa” está sendo cúmplice de uma ideologia responsável, em parte, por situações como essa do Cabeção.

Sérgio Hondjakoff em 2013 Foto: AgNews

COMUNIDADES TERAPÊUTICAS
Outro alerta que faço é sobre a importância das comunidades terapêuticas (C.T). Os governos anteriores, notadamente esquerdistas, não apenas promoveram a cultura do uso recreativo de drogas como a maconha, como também combateram ferrenhamente o trabalho das CTs.

A maioria das CTs é mantida por igrejas, por isso a abordagem sobre o problema da dependência é diferente das clínicas tradicionais, uma vez que existe um enfoque religioso, disciplinar e moral no tratamento. O projeto Cristolândia, da Convenção Batista Brasileira, é um exemplo de grande sucesso.

No atual governo, a partir de 2019 foi lançada uma nova política sobre drogas, na qual as comunidades terapêuticas passaram a ter um lugar de destaque. Parabéns ao governo Bolsonaro! Mas, infelizmente, os anos de esquerdismo na administração pública deixaram sequelas profundas no país, tornando o trabalho das CTs algo monumental.

Assim, agora precisaremos de muitos anos para conseguir reverter o estrago da cumplicidade ideológica sobre o uso das drogas, bem como a demonização que foi feita sobre as CTs durante as gestões anteriores. Em todo caso, o fato de o governo atual ter reconhecido a importância das comunidades, buscando estreitar parcerias com elas, já constitui um importante avanço.

POR FIM, A FAMÍLIA
Meu último alerta diz respeito ao papel da família. Se engana quem enxerga o problema das drogas como algo exclusivo do usuário. O dependente não está dissociado da sua cultura, assim como não está da sociedade e, principalmente, dos seus familiares.

Ao mesmo tempo em que a dependência química é um problema interno, do usuário, também é externo, pois envolve a relação desse indivíduo com o meio. Raras vezes, o dependente químico não possui algum tipo de conflito no ambiente familiar, e eles são variados, mesmo quando os parentes são ausentes, por exemplo.

É por isso que nós, conservadores, temos a família como a maior de todas as pautas, porque entendemos que dela partem os grandes problemas do indivíduo, consequentemente, da sociedade. E quando falamos disso, não nos referimos a um amontoado de pessoas debaixo do mesmo teto, mas de figuras distintas como pai, mãe e filhos, cada qual no seu papel, em convivência.

Não é por acaso, portanto, que a desconstrução da família tradicional está diretamente associada a uma geração em que os problemas de ordem emocional dispararam no mundo inteiro. Tudo faz parte da mesma engrenagem de deterioração humana, alimentada em grande parte por ideologias progressistas.

CONCLUSÃO
Como é possível notar, o problema das drogas é extremamente complexo, pois envolve múltiplos fatores. Políticas públicas, cultura, família e as motivações pessoais compõem esse difícil contexto, razão pela qual o dependente químico nunca deve ser tratado de forma fragmentada.

A situação de Sérgio Hondjakoff não é diferente da que está ocorrendo neste exato momento com milhões de pessoas, mas esse é um terror que, apesar de difícil, tem solução. No caso dele, a intervenção deve ser focal, imediata, de atenção integral e permanente.

Quanto a nós, como sociedade, precisamos reverter os efeitos da ideologia cúmplice das drogas, investir na família, valorizar a parceria com as instituições religiosas e atuar com força total no combate ao tráfico e à corrupção. É um trabalho realmente gigante, mas não há outro caminho.

Marisa Lobo possui graduação em Psicologia, é pós-graduada em Filosofia de Direitos Humanos e em Saúde Mental e tem habilitação para Magistério Superior.

* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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