O que esperar da CPI do Crime Organizado?
Precisamos falar com seriedade sobre como o Estado se rendeu ao medo, à omissão e à ideologia
Magno Malta - 05/11/2025 17h59

Se eu dissesse “nada”, talvez bastasse para resumir o sentimento geral de quem acompanha a política brasileira. Mas a verdade é que não posso encerrar o artigo assim. Precisamos falar com seriedade em relação ao crime organizado no Brasil e sobre como o Estado se rendeu ao medo, à omissão e à ideologia.
Falo com a autoridade de quem esteve, há 25 anos, na linha de frente da CPI do Narcotráfico, na Câmara dos Deputados. Naquele tempo, o tráfico era, essencialmente, comércio de drogas.
No entanto, o que aquela CPI revelou, pela primeira vez, foi que o problema não era apenas policial, mas também político, econômico e social. Já havia infiltração do crime no Estado, no financiamento de campanhas e na corrupção em delegacias. O diagnóstico foi feito, mas o tratamento nunca veio.
Afinal, o Brasil é um país que investiga, mas não corrige. A CPI de 1999/2000 cumpriu seu papel. O Estado, não.
O tempo passou, e o que antes eram facções se transformou em organizações criminosas com estrutura empresarial: dominam presídios, comunidades e até instâncias de poder. O que antes era tráfico, hoje é poder paralelo. O crime governa territórios, cobra impostos, impõe regras, regula o comércio, o transporte, o gás e até a internet. Criou-se um “Estado dentro do Estado”
Hoje, o tráfico é apenas a vitrine. A verdadeira fonte de renda das facções está no domínio territorial. Elas cobram pedágio de motoboys e vans, exploram ambulantes, controlam o preço do gás e até da conexão de internet.
Além do narcotráfico, expandiram-se para o roubo de cargas, fraudes financeiras, pirataria digital e lavagem de dinheiro. Trata-se de uma economia subterrânea multibilionária.
Por isso, combater o crime organizado deixou de ser um problema policial. É uma questão de soberania nacional. Afinal, quando o Estado perde o controle sobre partes do seu território, perde também a sua autoridade. E o cidadão comum torna-se refém.
Em muitas comunidades, o morador precisa pedir autorização para abrir o comércio, receber uma visita ou simplesmente viver. O tráfico virou autoridade. É ele quem dita as regras, pune, mata, decide quem vive e quem morre. A ausência do Estado foi o convite para a instalação de outro poder: cruel, armado e sem lei.
Como bem escreveu Luiz Eduardo Soares, especialista em segurança pública, “a violência prospera quando o Estado se mostra incompetente ou cúmplice”. E o Brasil, infelizmente, tem sido os dois.
Enquanto isso, o discurso ideológico segue invertendo papéis. O mesmo sistema que enfraquece as polícias glamouriza o criminoso e transforma o bandido em vítima social.
Diante desse cenário, vale olhar para um exemplo fora das nossas fronteiras. Um pequeno país da América Central, El Salvador, mostra que a vontade política muda tudo. O presidente Nayib Bukele decidiu enfrentar as maras, as temidas gangues, com pulso firme, estratégia de Estado e coragem para bancar decisões impopulares.
O resultado é que o país, antes um dos mais violentos do mundo, hoje ostenta índices históricos de redução da criminalidade. Bukele provou que, onde há vontade política, há transformação real.
No Brasil, falta exatamente isso: vontade política.
E é com esse espírito que chegamos à CPI do Crime Organizado, instalada no Senado Federal. Sou membro titular e, desde o início, sabíamos o jogo político que se desenhava. O PT, que sequer assinou o requerimento da CPI, acabou emplacando o presidente da comissão: o senador Fabiano Contarato, aliás, do meu estado.
Abro aqui um parêntese…
Contarato chegou ao Senado em 2019 com discurso de direita, mas rapidamente se alinhou ao PT. É delegado, sim, mas sua atuação sempre esteve ligada à Delegacia de Trânsito, ou seja, lidava com ocorrências envolvendo motoristas embriagados. Não tem histórico de enfrentamento ao crime organizado. E é claro que não será independente ou imparcial. Quem acredita nesse discurso de ser implacável com o crime? Agirá conforme o manual partidário: o de proteger o discurso e esconder os fatos.
Mas nós, parlamentares de direita, estaremos ali para garantir que a verdade não será silenciada. Podem até tentar varrer os fatos para debaixo do tapete, mas o povo vai saber o que está acontecendo. Seremos a voz da coerência dentro dessa comissão. E, sem medo da palavra, seremos os paladinos da verdade.
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Magno Malta é senador da República. Foi eleito por duas vezes o melhor senador do Brasil. |
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