Caçada a Bolsonaro
Naquela prisão domiciliar não está apenas um homem, mas um símbolo que continua representando milhões de brasileiros
Magno Malta - 29/08/2025 12h57

Às vésperas do julgamento de Jair Bolsonaro, sinto-me como um personagem observador de uma história sombria. Não sei se estamos em 1984, de George Orwell, ou em O Processo, de Franz Kafka. Talvez em ambos. Orwell nos alertou sobre a manipulação da verdade pelo Estado; Kafka, sobre a impotência diante de um tribunal que já condena antes de ouvir o acusado. Hoje, o Brasil parece condensar os dois universos em uma única e dolorosa realidade.
Recordo com clareza o mês de julho, quando Bolsonaro foi obrigado a usar tornozeleira eletrônica. O espetáculo foi montado para constranger… um ex-presidente da República inocente reduzido ao estigma de delinquente comum.
Mas, não parou aí. Vieram as proibições de entrevistas, a censura nas redes, a vigilância permanente. Cada medida cuidadosamente arquitetada para sufocar não apenas um homem, mas a voz de milhões de brasileiros que ele representa.
Pouco tempo depois, em agosto, como já prevíamos que a situação iria acirrar, veio a prisão domiciliar. Eu mesmo estive em momentos de culto com Bolsonaro e no escritório do Partido Liberal antes de não poder mais encontrá-lo. Fiz questão de estar junto, porque sabíamos que a escalada do arbítrio não se limitaria à tornozeleira.
A lógica é clara: erguer uma narrativa típica de regimes autoritários, em que o opositor não é apenas contido, mas também exposto, humilhado, esvaziado de qualquer dignidade. A Justiça, que deveria proteger a Constituição, passou a ser instrumento de intimidação. Não se exige prova; basta um depoimento frágil, uma versão conveniente, uma interpretação moldada. A suspeita se transforma em sentença e a “verdade oficial” suplanta os fatos.
Agora, às portas do dia 2 de setembro, a encenação ganha novo ato. Policiais reforçam a vigilância ao redor da residência de Bolsonaro como se um homem monitorado, cercado de câmeras, pudesse simplesmente fugir.
Há até quem defenda a presença da polícia dentro de sua casa, ignorando que ali vivem sua esposa e sua filha. É a invasão não apenas de um lar, mas da intimidade de uma família; o que revela a crueldade e a arbitrariedade do processo.
O mais estarrecedor é a naturalização de tudo isso. O Brasil parece se habituar a uma lógica em que a exceção vira regra e a perseguição se mostra como zelo jurídico. Não é investigação, é condenação antecipada; não é julgamento, é formalidade encenada.
Mas é aqui que a história dá sua reviravolta. Porque dentro daquela prisão domiciliar não está apenas um homem, mas um símbolo que, mesmo calado, continua representando milhões de brasileiros.
Mas a esperança resiste. Porque nenhuma tornozeleira é capaz de acorrentar um povo desperto. Por isso, no dia 7, o Brasil vai às ruas. Pela liberdade. Pela verdade. Pelo fim da ditadura da toga.
E, sobretudo, pela certeza de que a noite mais escura não apaga a chegada da manhã.
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Magno Malta é senador da República. Foi eleito por duas vezes o melhor senador do Brasil. |
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