Boulos: Da invasão ao ministério
Qual é, afinal, o papel dele neste governo? O de ministro de Estado ou o de militante de luxo?
Magno Malta - 23/10/2025 14h38

A conhecida frase “Aos amigos, os favores da lei; aos inimigos, os rigores da lei” é atribuída a alguns autores. Mas, neste caso, eu a tomo como o lema não oficial do governo Lula. A cada movimento político da esquerda, a impressão é a mesma: os aliados são premiados, enquanto o povo continua pagando a conta. E a mais recente demonstração dessa máxima está na nomeação de Guilherme Boulos como ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Boulos é aquele velho conhecido da militância radical de esquerda. Deputado federal e, até pouco tempo atrás, o rosto mais visível do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST).
Um homem que construiu sua fama invadindo propriedades privadas e liderando ocupações, como a que ficou conhecida em 2013, no terreno da Construtora Viver, em São Paulo, e outra, em 2014, na Zona Leste, que envolveu milhares de famílias. O discurso era de justiça social; a prática, a do confronto.
Agora, esse mesmo personagem senta-se à mesa do poder. Nada mal para quem dizia lutar contra o sistema. O militante virou ministro e, convenhamos, não foi porque tenha mudado de ideia, mas porque se tornou útil ao projeto de poder do PT.
A relação entre Lula e Boulos vem de longa data. Desde as jornadas de 2013, quando o MTST ganhou visibilidade nacional, o então ex-presidente enxergou em Boulos uma ferramenta eficiente de mobilização popular. Com o tempo, o “invasor” transformou-se em aliado fiel.
Em 2018, enquanto Lula estava preso, Boulos foi candidato à Presidência pelo PSOL. Foi derrotado, claro, mas mantido por perto. Afinal, quem serve bem ao rei nunca é esquecido.
Sua nomeação ao ministério não é apenas uma cortesia entre camaradas, mas uma jogada política. Boulos, que em 2022 obteve mais de 1 milhão de votos para deputado federal por São Paulo, é hoje um ativo eleitoral valioso. Colocá-lo dentro do governo é garantir que ele permaneça “sob controle”, funcionando como um soldado disciplinado dentro da estrutura petista.
Oficialmente, ele comandará a interlocução com os movimentos sociais (ou estreitará contatos com diferentes públicos). Na prática, será o elo entre o Planalto e as bases. Uma ponte para manter a militância animada até 2026.
Mas há uma ironia evidente nisso tudo: o homem, que invadia propriedades privadas em nome da luta contra o sistema, agora ocupa um cargo que simboliza o próprio sistema. O mesmo que ele dizia combater. E ninguém parece se incomodar. O passado é convenientemente esquecido quando se é “amigo do rei” e se tem pretensões mais altas.
Essa nomeação deixa claro o que o governo entende por “democracia”. Não é pluralidade, é cooptação. Não é diálogo com a sociedade civil, é a institucionalização da militância.
E quem não faz parte do grupo? Bem, esses seguem enfrentando “os rigores da lei”.
Por isso, repito a pergunta que deve estar na cabeça de muita gente: qual é, afinal, o papel de Guilherme Boulos neste governo? O de ministro de Estado ou o de militante de luxo, mantido no coração do poder para garantir que a base continue domesticada?
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Magno Malta é senador da República. Foi eleito por duas vezes o melhor senador do Brasil. |
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