Conheça os 4 países da “Lista da Vergonha”: Belarus
Quando a Bielorrússia declarou sua independência, em 1991, passou a se chamar Belarus
Lawrence Maximus - 11/03/2022 17h56
Na última semana, a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) aprovou, por ampla maioria, uma resolução contra a invasão russa da Ucrânia. Isso, após três dias de discursos de mais de 100 países. O texto “deplora nos mais fortes termos a agressão da Rússia contra a Ucrânia”. Ela é não vinculante, o que significa que, a partir dela, os países não são obrigados a fazer nada. Sua importância, portanto, é política: mostra como a maioria dos países vê a invasão promovida por Moscou. Você que acompanhou os textos de terça, quarta e quinta-feira, se optar, pode pular os próximos parágrafos e ir para a breve história da Belarus, a última contemplada neste Especial.
Boa parte da comunidade internacional acusa a Rússia, de Vladimir Putin, de violar o artigo 2, da Carta das Nações Unidas; que pede aos seus membros para não recorrer a ameaças ou à força para solucionar conflitos. A resolução deixou de “condenar”, como estava inicialmente previsto, para “deplorar nos mais fortes termos a agressão da Rússia contra a Ucrânia”.
Todavia, gostaria de destacar os países que votaram contra a resolução, para entendermos esses atores no cenário da comunidade internacional. Sobretudo, assim como é importante ressaltar as abstenções da China, Índia e África do Sul, aliados da Rússia.
Veja como ficou o resultado:
141 votos a favor (o Brasil votou aqui ao lado de EUA, União Europeia e outros).
5 votos contra (Rússia, Belarus, Coreia do Norte, Eritreia, Síria).
35 abstenções (China, Índia e África do Sul entre outros países).
Portanto, neste especial, que começou nesta terça e vai até sexta-feira, desejo destacar alguns fatores da geopolítica e religião. Para conhecer melhor os países que votaram contra a resolução da ONU, a favor da invasão russa; são eles: Coreia do Norte, Síria, Eritreia e Belarus; denominados por este artigo, a “Lista da Vergonha”, dividido em quatro partes. Hoje vamos falar da Belarus.
BREVE HISTÓRIA
A Bielorrússia ou Belarus, oficialmente República da Bielorrússia ou República de Belarus, é um país sem saída para o mar localizado na Europa Oriental, que faz fronteira com a Rússia ao nordeste; com a Ucrânia ao sul; com a Polônia ao oeste; e com a Lituânia e Letônia ao noroeste.
Esse país do Leste Europeu até se tornar independente em 1991, anteriormente conhecido como Bielorrússia ou Rússia Branca, foi a menor das três repúblicas eslavas incluídas na União Soviética (as duas maiores são a Rússia e a Ucrânia).
Embora os belarrussos compartilhem uma identidade étnica e linguagem distintas, nunca desfrutaram anteriormente de unidade e soberania política, exceto durante um breve período em 1918. A história belarrussa é, portanto, menos uma narrativa nacional isolável do que um estudo das forças regionais, sua interação e seus efeitos sobre o povo bielorrusso. O território que agora é a Belarus sofreu partição e mudou de mãos repetidamente. Como resultado, grande parte de sua história é inseparável da de seus vizinhos.
Desde a independência, a Belarus manteve laços estreitos com seu vizinho mais dominante, a Rússia. Em 1999, os dois países assinaram o Tratado da Fundação Estatal da União, que visava criar uma confederação politicamente integrada com uma moeda comum. A natureza precisa dessa parceria, no entanto, permaneceu pouco clara no século 21.
O legado do passado soviético da Belarus também continuou a se manifestar, tanto na persistente proeminência dos partidos políticos comunistas quanto no estilo autoritário de governo do país.
Cerca de um quinto de sua população reside na capital central, Minsk. Essa é uma cidade moderna que foi quase inteiramente reconstruída após sua quase destruição na Segunda Guerra Mundial.
CENÁRIO POLÍTICO
O sufrágio na Belarus é universal desde os 18 anos. Há mais de uma dúzia de partidos políticos registrados. Mas, desde a eleição de Lukashenko em 1994, o sucesso político dependeu mais da lealdade ao presidente do que da filiação partidária. Na verdade, o presidente é tecnicamente independente de todos os partidos políticos.
Entre os partidos que apoiam Lukashenko estão o Partido Comunista da Belarus (KPB), sucessor do monolítico Partido Comunista governante da era soviética; o Partido Liberal Democrata da Belarus; e o Partido Agrário.
Partidos de oposição são permitidos, mas tiveram pouco sucesso eleitoral. Eles incluem o Partido Comunista da Belarus (PKB); o Partido da Frente Popular Belarus (BPF); o Partido Conservador-Cristão da Frente Popular Belarrussa; o Partido Cívico Unido de centro-direita; e os social-democratas belarrussos de centro-esquerda.
O governo se recusou a reconhecer vários outros partidos políticos, sendo o mais proeminente o Partido da Democracia Cristã belarrussa.
Organizações de jovens políticos incluem a União da Juventude Patriótica patrocinada pelo governo e a Frente Jovem, um grupo de oposição não registrado.
Embora o fascismo tenda a enfraquecer a oposição, para as eleições presidenciais de 2006 a maioria dos partidos de oposição, bem como algumas associações não governamentais, formaram as Forças Democráticas Unidas (UDF) para endossar um único candidato para concorrer contra Lukashenko. Sem sucesso nessa eleição, o UDF se reagrupou para as eleições legislativas de 2008, mas os candidatos da oposição novamente não conseguiram conquistar nenhum assento.
Em setembro de 2021, a Belarus recebeu dezenas de milhares de tropas russas para a maciça simulação militar conjunta Zapad (Ocidente). Os exercícios da Zapad eram realizados a cada quatro anos, e o evento de 2021 serviu como uma demonstração do compromisso da Rússia com o regime de Lukashenko após os protestos generalizados de 2020.
As tropas russas retornaram à Belarus, em janeiro de 2022, ostensivamente para outro exercício militar conjunto, mas seu verdadeiro propósito foi revelado no mês seguinte, quando a Rússia lançou uma invasão em larga escala na Ucrânia.
CENÁRIO RELIGIOSO
Historicamente, a Belarus teve a predominância de diferentes religiões, principalmente o cristianismo ortodoxo, o catolicismo (especialmente nas regiões ocidentais), diferentes denominações do protestantismo (especialmente durante o período de união com a Suécia protestante).
O país já foi um dos grandes centros judaicos da Europa, com até dez por cento da população pertencendo à religião em determinado ponto de sua história. Porém, a população de judeus foi reduzida drasticamente pelas guerras, fomes, o Holocausto e a imigração subsequente. Atualmente, os judeus formam uma minoria bem pequena, de cerca de um por cento ou menos.
Algumas minorias praticam o islamismo e outras religiões. Diversos belarrussos se converteram à Igreja Ortodoxa Russa depois que o país foi anexado pela Rússia, após a partilha da Comunidade Polonesa-Lituana. Como consequência, a ortodoxia russa tem atualmente mais adeptos que as outras denominações cristãs.
É importante destacar que, de acordo com o artigo 16, da Constituição da Belarus, o país não tem religião oficial. No entanto, embora a liberdade de religião seja estabelecida no mesmo artigo, organizações religiosas tidas como ameaçadoras ao governo, à ordem social ou ao país podem ser proibidas.
Finalmente, Belarus e Rússia mantêm laços estreitos historicamente. O governante Aleksandr Lukashenko é o aliado mais próximo. Inclusive, geograficamente, de Putin. Na ONU, o embaixador do país, Velentin Rybakov, também criticou o “dois pesos e duas medidas” do Ocidente.
Forças russas, atacando a partir de solo belarrusso, atacaram o sul ao longo da margem oeste do rio Dnieper e dirigiram em direção a Kiev. Enquanto o ataque russo estava em curso, Lukashenko organizou um referendo sobre a alteração da constituição belarrussa; surpreendentemente, o resultado alinhado com os desejos de Putin.
Assim, a Belarus renunciou formalmente ao seu status de potência neutra, abrindo a porta para uma guarnição russa permanente que incluía armas nucleares. A nova Constituição também deu a Lukashenko imunidade vitalícia da acusação.
Lawrence Maximus é cientista político, analista internacional de Israel e Oriente Médio, professor e escritor. Mestre em Ciência Política: Cooperação Internacional (ESP), Pós-Graduado em Ciência Política: Cidadania e Governação, Pós-Graduado em Antropologia da Religião e Teólogo. Formado no Programa de Complementação Acadêmica Mastership da StandWithUs Brasil: história, sociedade, cultura e geopolítica do Oriente Médio, com ênfase no conflito israelo-palestino e nas dinâmicas geopolíticas de Israel. |