Juliana Leite - 25/08/2025 09h43

É curioso, quase obsceno, ver um homem como Lula invocar a imagem da criança — essa figura frágil, intocada, a serviço da qual nenhuma objeção parece possível — para justificar a sua mais recente cruzada: a censura. É uma manobra que tem o cheiro do oportunismo e o tato do estelionato moral. Não é a criança que está em risco, é a liberdade. A criança é apenas o escudo, o boneco de ventríloquo que permite ao ventríloquo do poder mover os lábios sem ser acusado de ventriloquismo.

O problema real é outro: Lula nunca se habituou a viver em um país onde jornalistas independentes, sem coleira nem migalhas do palácio, têm a ousadia de expor falcatruas, de desnudar aquilo que ele preferiria manter envolto em panos sujos. A obsessão dele não é com a proteção do menor, mas com o controle da narrativa — essa palavra que os tiranos modernos aprenderam a idolatrar como se fosse um ídolo de barro que, se despedaçado, arrasta consigo a autoridade do dono. O larápio não suporta o espelho, e então tenta cobri-lo com véus de pureza infantil.

E assim chegamos ao paradoxo grotesco da nossa época: quem hoje se coloca como defensor da democracia não são os que ocupam os púlpitos oficiais, mas aqueles que eles chamam de inimigos — nós, a direita, a única trincheira que ainda resiste à erosão da liberdade.

Enquanto os autoproclamados democratas planejam suas censuras, nós nos tornamos os hereges necessários, os que se recusam a ajoelhar diante do altar da narrativa única. É um papel ingrato, mas inevitável: resistir à tirania que se mascara de zelo, e lembrar que toda censura começa com uma promessa de proteção e termina com um silêncio imposto.

Juliana Moreira Leite é jornalista especialista em cultura, escritora e curiosa. Nesse espaço vai falar sobre assuntos da atualidades sob a sua visão.

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