Juliana Leite - 28/04/2025 09h32

Enquanto o mundo civilizado enviava dois ou quatro representantes discretos para o enterro do papa — respeitosos, comedidos, gente que sabia o tamanho do momento — o Brasil se superava no vexame internacional: mandou 20. 20!

Não era uma delegação, era praticamente uma excursão de formatura. Ternos mal cortados, gravatas tortas, olhos brilhando pela chance de sair em alguma foto mundial. E, claro, a velha vocação brasileira de transformar qualquer tragédia alheia em palco para sua própria mediocridade.

Enquanto isso, aqui dentro, o espetáculo do horror segue firme. A anistia é negada sem pudor, como se fosse um capricho. Mães, pais, trabalhadores — gente comum que ousou acreditar no direito de protestar — seguem presos, tratados como terroristas de fancaria. Como se carregar um batom fosse carregar uma bomba. Como se levantar a voz fosse um crime maior do que destruir um país inteiro.

Está tudo errado. Tão errado que já falta até o constrangimento. Um governo que se fantasia de diplomata para fora e de ditador para dentro. Um governo que não sabe mais distinguir vergonha de vaidade. Um governo que se especializou em posar para enterros enquanto enterra, vivo, o próprio povo.

Juliana Moreira Leite é jornalista especialista em cultura, escritora e curiosa. Nesse espaço vai falar sobre assuntos da atualidades sob a sua visão.

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