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Caso Glenn Greenwald lembra dossiê Cayman e escândalo dos aloprados

Profissionais têm demonstrado profundo desconhecimento da legislação cível e penal brasileira

Helder Caldeira - 29/07/2019 11h32

Glenn Greenwald é fundador do site The Intercept Brasil Foto: Agência Câmara/Vinicius Loures

Um dos resultados da Operação Spoofing será instar o Congresso Nacional a definir em lei parâmetros mais claros para a punição de jornalistas que fazem uso indevido da constitucional liberdade de imprensa como uma espécie de excludente para toda e qualquer ilicitude.

Recentes manifestações de profissionais renomados e de associações ligadas ao Jornalismo — algumas delas administradas por envolvidos no escândalo — têm demonstrado profundo desconhecimento da legislação cível e penal brasileira e uma sanha em defender que a liberdade de imprensa faculta, inclusive, o cometimento de crimes. É um equívoco.

Deflagrada pela Polícia Federal para prender os hackers que invadiram celulares das maiores autoridades da República, roubaram dados cibernéticos privados e fizeram quase mil vítimas, a Operação Spoofing revelou bem mais do que crimes cometidos por estelionatários digitais. Ela lançou luz sobre o nebuloso comércio clandestino da informação no Brasil.

Quanto um veículo de comunicação estaria disposto a pagar pelo produto de um crime que pode virar manchete? Um jornalista pode aceitar ser receptador ou cúmplice de atos ilícitos sob a pecha do livre exercício profissional em nome de um suposto “interesse público”? O que acontece quando a imprensa atua como partícipe de crime contra a Segurança Nacional?

São algumas perguntas que o Brasil precisará responder caso as investigações da Polícia Federal apontem para algum tipo de pagamento pela obtenção de informações que, por sua vez, teriam implicado no cometimento de crimes de natureza gravíssima e violações evidentes a dispositivos constitucionais.

O rumoroso caso envolvendo jornalistas de tabloide digital, políticos da esquerda e hackers de Araraquara faz lembrar os escândalos do Dossiê Cayman (1998) e do Dossiê dos Aloprados (2006). Ou seja, não é a primeira vez que mercenários buscam justamente os profissionais de imprensa com a finalidade de aferir lucro e gerar factoides de mídia para destruir adversários políticos com ilações e sensacionalismo.

Essa engrenagem antiética, de militantes políticos disfarçados de jornalistas imparciais, voltará ao debate na Câmara e no Senado e, muito provavelmente, vai parar no plenário do Supremo Tribunal Federal.

Helder Caldeira é escritor, colunista político e palestrante. Há duas décadas atua e escreve sobre a Política brasileira. É autor dos livros ‘Águas Turvas’, ‘Bravatas, gravatas e mamatas’, ‘Pareidolia política’, entre outros. Contato: eventos@heldercaldeira.com.br
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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