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O cristão e o perigo das meias-verdades – Parte 1

Se é meia-verdade, logo não é verdade. Por consequência é uma mentira inteira

Gilberto Garcia - 13/10/2017 13h23

Saiba sobre os cuidados que se deve ter antes de afirmar algo

Há alguns anos, um incidente amplamente divulgado pela impressa internacional, em que o renomado economista norte-americano, Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia, fez declarações públicas envolvendo em suspeitas o nome do, à época, indicado, e logo após, presidente do Banco Central do Brasil, o economista Armínio Fraga, veio a público reconhecendo seu equívoco e pediu desculpas. O que, infelizmente, é raro, pelas suspeitas levantadas, e, pelo seu descuido de não ter checado a veracidade das fontes das informações que divulgara.

Temos vivido um tempo da prevalência do direito individual do cidadão, que tem sua vida privada protegida pelo artigo 17 do Código Civil, “(…) O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória. (…)”. É, por isso que até as empresas e organizações comunitárias têm tido interesse ao lidar com a famosa “indústria dos boatos”. Devemos ter todo o cuidado para que não sirvamos de instrumento de fomentação ou divulgação de meias-verdades, dos “boateiros profissionais”, no local de trabalho, nas igrejas, nas escolas, nos condomínios, nas comunidades onde vivemos, sujeitas a processos por danos morais.

Até porque em nosso universo cristão, SE É MEIA-VERDADE, LOGO NÃO É A VERDADE. POR CONSEQUÊNCIA É UMA MENTIRA INTEIRA. Como também conhecemos bem os efeitos danosos de informações, muitas vezes, “plantadas” com o único objetivo de desestabilizar este ou aquele líder que está “aparecendo muito” ou “incomodando setores do poder estabelecido”. Sendo que, depois de feito, pedir desculpas não resolve, pois o dano está causado; carecendo, consequentemente, de reparação financeira pesada.

O livro de Tiago traz várias recomendações sobre a língua e expressa, principalmente, a preocupação de seu uso de forma a abençoar pessoas, alertando também para os estragos que ela pode produzir. A Bíblia orienta que ninguém deve ser acusado de qualquer fato senão pela confirmação de duas ou três testemunhas, sendo “copiada” por todos os sistemas judiciais.

Deuteronômio 19:15 diz: “Uma só testemunha não se levantará contra alguém por qualquer iniquidade, ou por qualquer pecado, seja qual for o pecado cometido; pela boca de duas ou de três testemunhas se estabelecerá o fato”, para, a partir daí, iniciar-se a verificação das acusações.

A lei pátria é bastante objetiva com relação àquilo que é dito ou divulgado sobre alguma pessoa ou alguma instituição, visando denegrir sua imagem, e não é provado por quem disse, ou por quem propagou o que ouviu de terceiros, sobretudo, neste tempo das “fake news”, como são denominadas as falsas notícias.

A Constituição de 1988 ampliou o conceito de direito à imagem, dando-lhe uma conotação patrimonial e moral, de tal maneira ficando, entre outras penalidades legais, além de se retratar publicamente, sujeita a processo de indenização de danos morais e patrimoniais, quem acusa alguém, e não pode provar judicialmente o que alegou, pois os danos causados a imagem carecem de reparação legal.

O Código Penal classifica, ainda, como criminosos tais comportamentos, elencando-os como CALÚNIA, INJÚRIA E DIFAMAÇÃO. É o próprio Código que explicita: CALÚNIA – imputar a alguém falsamente fato definido como crime; INJÚRIA – ofender alguém em sua dignidade ou decoro; DIFAMAÇÃO – imputar a alguém fato ofensivo à sua reputação.

Aprendemos algumas lições sobre o perigo de divulgar “coisas” que ouvimos e/ou sabemos, mas não temos como provar, ao ler este “episódio” que teria supostamente ocorrido entre o filósofo Sócrates e um amigo, o qual transcrevemos abaixo:

“Conta-se que, um dia, um amigo foi procurar Sócrates, o célebre filósofo grego, desejando contar-lhe uma ‘coisa’ sobre a vida de um outro amigo comum:

– Quero te contar algo sobre o nosso amigo Andreas, que vai te deixar boquiaberto.

– Espera – interrompeu o filósofo – Passaste isso que vais me contar pelo ‘teste das três peneiras”?

– Três peneiras? – indagou o interlocutor. – Que três peneiras?

– Primeira peneira: a ‘coisa’ que vais me contar é verdadeira?

– Eu assim creio, pois me foi contada por alguém de confiança? – respondeu o amigo.

– Bem, alguém te disse …

Vejamos, então:

– A segunda peneira: A ‘coisa’ que tu pretendes me contar é boa?

O outro hesitou, titubeou e respondeu:

– Não, exatamente …

Sócrates continuou sua inquirição:

– Isso começa a me esclarecer, verifiquemos a terceira peneira, que é a prova final: o que tinhas a intenção de me contar é de utilidade tanto para mim como para nosso amigo Andreas, e para ti mesmo?

– Não, não e não.

– Então, meu caro – disse Sócrates – a ‘coisa’ que tu pretendias me contar não é certamente verdadeira, nem boa, nem útil. Assim sendo, não tenho a intenção de conhecê-la e aconselho-te que não procure veiculá-la”.

A cada dia somos alvo de pessoas com grande desejo de contar-nos “coisas” a respeito dos outros. Devemos procurar sempre fazer o “teste das três peneiras”: 1. É verdade? 2. É bom? 3. É útil?, atribuído ao celebre filósofo grego, Sócrates.

E aí, você se policia para não propagar meias-verdades sobre a vida das pessoas?

Gilberto Garcia é advogado, pós-graduado e mestre em Direito. Professor universitário e Presidente da Comissão Especial de Direito e Liberdade Religiosa do IAB (Instituto dos Advogados Brasileiros).
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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