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Síndrome da família perfeita

A grande maioria das pessoas está muito mais próxima do real do que do ideal

Ellen Sarmento - 23/08/2017 09h51

Síndrome da família perfeita / Foto: Pixabay

Desejaria compartilhar em nosso post de hoje como todos nós carregamos uma imagem do que pensamos ser uma família perfeita. Essa imagem pré-fabricada provém de diversas fontes: cultura, redes sociais, mídias, livros, filmes hollywoodianos, entre outras influências. O fato é que temos uma “imagem de família” que gostaríamos de viver.

Somos seres visuais, e assimilamos através de imagens muitos conteúdos e valores que serão consolidados ao longo de nossa trajetória de vida. Com isso, começamos a partilhar de um ideal de como nossa família deveria ser. Defrontamo-nos com imagens que sempre nos lembram como as famílias perfeitas agem e até se vestem.

É evidente que uma postagem de uma foto nas redes sociais pode nos dirigir a uma imagem preconcebida de família perfeita. E acabamos imaginando que todas as famílias deveriam ser como essa imagem compartilhada. E tudo vai bem até percebermos que aquela imagem não representa uma família real. Na verdade, é possível que a família perfeita seja bem diferente do que imaginamos.

Cada família vive uma realidade distinta e problemas diferentes. Vícios, casos extraconjugais, divórcios, filhos que saem do controle. Para outros, o cenário é menos radical. Pode ser um desgaste gerado pela tensão de compartilhar o mesmo espaço com pessoas que dizemos amar, uma fadiga devido a pressões de uma carreira frustrante, um relacionamento que perdeu a vivacidade, noites fora de casa por causa de viagens a trabalho. E há ainda aquelas famílias cujo cotidiano é um acontecimento inesperado que estremece a vida: uma doença ou um acidente, uma demissão. Seja qual for a situação, o fato é que essas famílias não estão vivendo a vida que gostariam.

O ponto comum em todas essas situações é o seguinte: ao final, resta em nossas mentes uma imagem de família que jamais conseguiremos atingir. Olhamos para a família “perfeição” e falamos: “Não somos assim… mas continuamos a alimentar uma forte pressão para sermos desse jeito”.

Muitas famílias não se enquadram tão bem nesse retrato de família perfeita. A grande maioria das pessoas está muito mais próxima do real do que do ideal.

É importante mencionar que a idealização da família perfeita é capaz de destruir o coração de um pai e de uma mãe, além de limitar a futura esperança dos filhos.

Diante disso, temos algumas ferramentas que serão de grande ajuda para atravessarmos essas barreiras. Existem duas maneiras de se trabalhar. Quando optamos pela abordagem da imagem perfeita, buscamos moldar toda e qualquer família à imagem que temos da família ideal. Por outro lado, quando escolhemos a abordagem da história mais ampla, aprendemos a enxergar que todo lar é como um filme no qual podemos sair de meros espectadores a autores de nossa própria história.

A segunda abordagem requer que venhamos a modificar a maneira de pensar. Ela requer uma transformação de como nos enxergamos como pais, filhos e avós dentro e fora de nosso núcleo familiar. A mudança demanda tempo, mas é permanente.


Ellen Sarmento é psicóloga clínica e palestrante, com formação em terapia sistêmica familiar pela Núcleo Pesquisas. Especializada em atendimento familiar e de casal. Capacitada pelo Ackerman Institute, em Nova York, e pelo Instituto Bowen, em Washington.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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