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Muitas contas e pouco salário. Como lidar?

Dinheiro não é nada sem controle. É preciso gerir as entradas e saídas do meu negócio e, no final de cada mês, identificar qual foi o resultado líquido do exercício

Como Lidar - 07/05/2019 11h15


“Eu trabalho como autônomo e meu salário basicamente não é o mesmo todos os meses, mas minhas dívidas sim. Como meu salário nem sempre dá para pagar todas as dívidas, queria saber se vocês têm alguma sugestão que possa me ajudar nessa jornada.”

Leandro Andrade, Brasília, DF

RESPOSTA

Primeiramente, caro leitor, parabéns por sua iniciativa de desenvolver sua carreira de forma autônoma e empreendedora! O Brasil precisa de mais gente como você. Até porque, o emprego da maneira como estamos acostumados a conhecer, está ficando cada vez mais escasso e a tendência cada vez maior é as pessoas buscarem empreender para desenvolver suas carreiras e tirar o seu sustento.

“Não ter mais patrão”; “Tirar férias quando quiser”; “Ser dono da sua própria agenda”; “Fazer seu próprio salário”… são sonhos que quase todos os trabalhadores têm em seu íntimo. Por outro lado, os desafios e as dificuldades de ter seu próprio negócio exigem muita disciplina e perseverança. Todos esses aspectos positivos citados possuem a sua contrapartida negativa:

  • Não ter mais patrão – significa que você mesmo terá que cuidar do planejamento, investimento, estratégia e execução de cada etapa do seu negócio e, tanto o fracasso quanto o sucesso serão atribuídos somente a você. Ninguém mais poderá ser responsabilizado;
  • Tirar férias quando quiser – significa poder fazer alguns feriados mais prolongados sim, mas também é raramente tirar um mês de férias a cada 11 trabalhados. Conheço pouquíssimos empresários que podem se dar a esse verdadeiro luxo;
  • Ser dono da sua própria agenda – pode incorrer na tentação de lotá-la de compromissos particulares e sobrar pouco tempo para as atividades de trabalho. Não confunda qualidade de vida com ficar à toa ou trabalhar pouco;
  • Fazer seu próprio salário – no começo, é a mais difícil das tarefas. Em seu próprio negócio, a longo prazo você acaba usufruindo de 100% do resultado final de sua atividade. Isso, sem dúvida, é muito melhor do que ter que entregar tudo para o patrão em troca de um salário e bônus. No entanto, até que sua empresa dê lucro, uma fase inicial de investimentos e baixo faturamento é inevitável.

Para ser empreendedor é preciso paciência, pois alguns negócios só começam a dar retorno depois de dois anos! Nessa fase inicial o empresário/autônomo tem que entender que ele precisa ter uma reserva de liquidez e segurança para dar conta dos primeiros meses em que o negócio ainda não gera receita suficiente para ele levar para casa e pagar as contas.

Esse, aliás, é outro aspecto fundamental para um pequeno negócio não morrer, logo no início: obedecer ao princípio da entidade. Ou seja: não misturar as contas de casa com as contas da empresa. Mesmo que você seja autônomo ou profissional liberal e não tenha um CNPJ, é importante separar as despesas da atividade profissional das despesas da casa. De preferência, procure gerir as entradas e saídas em controles e contas separadas. Seu vou ao mercado e faço compras para casa, devo pagar com meu cartão da conta da casa. Se, nessa mesma ida, eu estou levando qualquer item para o escritório, tenho que pedir para o caixa fazer o total das compras que eu já passei para minha casa, pagá-las com o cartão da casa e, depois, passar o material de escritório e pagar com o outro cartão, de uma conta separada, do meu negócio.

Dinheiro não é nada sem controle. É preciso gerir as entradas e saídas do meu negócio e, no final de cada mês, identificar qual foi o resultado líquido do exercício. Esse resultado líquido eu transfiro para minha casa e lá eu pago as minhas contas e despesas de casa. Isso é fundamental para qualquer empreendedor dar certo. Misturar contas pessoais com as da empresa é uma receita de fracasso que está por trás de 8 em cada 10 pequenos negócios que fecham no Brasil, antes mesmo de completar 2 anos.

Com base nesse controle de receitas e despesas do seu negócio, e encontrando o faturamento líquido de cada mês, faça uma média dos últimos 12 meses e trabalhe sempre com o valor mais conservador, ou seja, o menor deles, e estabeleça esse valor como limite para as despesas de sua casa. Os gastos pessoais devem enquadrar-se dentro do limite de faturamento do seu pior mês do ano. Se você fizer dessa forma, você nunca ficará no vermelho.

As receitas extras da empresa – os meses de maior faturamento – devem primeiramente ser aplicados/investidos na formação de uma reserva técnica, para que você possa ter pelo menos seis meses de contas da casa pagas, se porventura o seu negócio ficar sem faturar por algum período ou passar por uma queda qualquer no faturamento. Uma vez cumprida essa reserva, aí sim, o que exceder, a família pode usufruir em matéria de viagens, festas e realização de pequenos sonhos de consumo – sem exageros. É preciso depois pensar na sua aposentadoria.

Se hoje as despesas da casa são maiores que o seu pro-labore (retirada líquida mensal do seu negócio), cortes deverão ser feitos urgentemente! Do contrário, a família começará a entrar em um círculo vicioso de dívidas. Uma boa dica é procurar aumentar a renda e buscar soluções criativas para se gerar receita com recursos que, às vezes, estão até mesmo dentro de casa.

Estes são conselhos básicos, que devem ser colocados em prática urgentemente. Para te dar mais material, cada link (palavras sublinhadas em azul) citado ao longo desta resposta te levará a um artigo que eu escrevi aqui em minha coluna “Você e seu dinheiro” , que vai ao ar todas as terças-feiras. Recomendo também a todo empreendedor, acessar o portal do Sebrae pelo menos uma vez por semana e fazer um dos cursos gratuitos lá disponíveis. Conhecimento é uma das chaves para o sucesso!

Forte abraço e, sucesso!

Anderson de Alcantara é profissional do mercado financeiro há 30 anos, atua como consultor financeiro na 3468 Finance e é professor titular do Ministério Videira – Educação Financeira à luz da Bíblia.

COMO LIDAR tem o propósito de servir como ferramenta de esclarecimento e apoio aos leitores apresentando perguntas e respostas, sobre variados temas.

Se você tem alguma questão ou dúvida que precise da explicação de um profissional, envie para redacao@plenonews.com.br

* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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