Bia Sartori - 01/06/2020 17h05

Em tempos de pandemia do COVID-19, enquanto os profissionais da linha de frente se sobrecarregam de trabalho e falta de tempo, outros (me incluo aqui) obrigados à reclusão, em decorrência do exercício da cidadania responsável, são presenteados e surpreendidos com o tempo dentro de suas casas.

Passado o tempo do estranhamento, das adaptações necessárias, a mente vai se acomodando às novas rotinas de trabalho e atividades. A vida segue, e surge espaço nas emoções agitadas para o olhar interior, que reflete para nossos cantos, encantos e desencantos; e também, para nossa casa.

Olhamos para um ângulo do ambiente que sempre esteve de determinada forma, e de repente não nos agrada mais! A necessidade de tirar tudo do lugar, limpar, decidir o que volta para o lugar, o que vai ser guardado e o que pode ter outro destino. Vontade de trazer coisas novas, misturar com o que já existe, observar de longe, mexe daqui, ajeita ali, fazendo uma nova composição que agrade o olhar. E surge aquele sorriso de satisfação!

A artista plástica, Lene Matui, nos convida à uma percepção intencional na hora da decisão da compra de uma obra de arte: “ Eu sempre penso que nós temos que fugir do que é comercial ou modismo. A gente tem que se identificar com a imagem que está sendo colocada. A composição no ambiente tem que fazer sentido para você. Se a obra for só uma composição no ambiente, ela vai perder boa parte da comunicação dela como arte. “

Ela explica qual a relação que precisamos observar: “Quando um artista se inspira em outro, às vezes olha coisas que gostaria de ter feito. Falamos que nos apropriamos de uma ideia. Então, aquela obra que será exposta, que foi outra pessoa que produziu, e não o próprio dono do ambiente, que vai se apropriar da expressão do outro, aquela que ele se identifica. ”

A necessidade de tirar tudo do lugar, limpar, decidir o que volta para o lugar, o que vai ser guardado e o que pode ter outro destino

“Colocar um quadro na parede é mais do que pensar em decoração, paleta de cores ou boa composição. A obra tem que falar alguma coisa, dizer algo para a pessoa. O desafio é pensar a composição no ambiente como um todo, e não seccionada. Às vezes, a pessoa gosta muito de um quadro, que não está alinhada com o estilo da decoração. Por exemplo, a casa é toda moderna e a predileção é por um quadro de paisagem bucólica e figurativa. É importante o equilíbrio do que você quer expressar e da composição do ambiente. ”

Algumas técnicas de composição são importantes no arranjo, criando uma linha imaginária, que leva o olhar do observador na direção do ponto ou objeto que queremos destacar.

Já quando pensamos em paredes, com quadros e objetos, essa linha deve ser um eixo que organiza a composição.

Neste exemplo, uma história real de recomposição de quadros e objetos, por motivo de mudança de residência, as gravuras em preto e branco de paisagens curitibanas, do fotógrafo Shigueo Murakami, foram trazidas de um escritório masculino, juntando-se aos móveis e outros objetos coloridos, e iluminaram a sala de jantar, deixando a atmosfera acolhedora e cheia de significados. O enquadramento diferenciado das fotografias, foi desejo particular da proprietária.

Como sempre insisto, nossa casa é sempre reflete algo que acontece internamente. Seja na arrumação, na limpeza, no estilo, na atmosfera. Assim, como é importante dar atenção aos cantos e composições da nossa casa, dedicando tempo, energia e zelo, também vale olhar com carinho para alguns cantos em nosso interior que merecem essa atenção.

Bom tempo de recomposição! Mãos à obra!

Bia Sartori , designer de interiores formada pelo SENAC e pós-graduada pelo IPOG; personal organizer formada pela OZ!, pedagoga com especialização em Orientação Educacional pela PUCC.