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Roraima, a Venezuela e o ouro do Brasil

A Venezuela é uma tragédia humanitária, mas Roraima está cheia de garimpeiros; você sabia?

André Mello - 24/09/2018 11h29

Você sabia que o exército está de prontidão em Roraima? Acha que é por causa do fluxo de imigrantes venezuelanos? Sim, eles chamam a atenção do mundo. A Venezuela é uma tragédia humanitária, mas Roraima está cheia de garimpeiros! Sabia?

GARIMPANDO UMA HISTÓRIA
Uma das vantagens de ser linguista é poder andar entre missionários e antropólogos. Ouvir suas narrativas, contribuir para a preservação de línguas e salvação de vidas. Outra, como linguista e jornalista, é desencavar fósseis de histórias que não são muito bem contadas. A desavantagem é ficar muito tempo sem sinal de Internet – e ter cuidado redobrado para não comprometer pessoas sérias. Mas foi assim que descobrimos um barril de pólvora, em Roraima. E um alerta, estamos perdendo muito em não guarnecermos nossas fronteiras. Além de drogas e armas, que entram, há imensas riquezas, escoando pelo ladrão.

CRISE HUMANITÁRIA E RIQUEZAS MINERAIS
Roraima, Venezuela e fronteiras são palavras muito lembradas nesses tempos eleitorais e, também, de uma tragédia humanitária sem precedentes na América Latina. Milhões de venezuelanos (2,5 milhões, oficialmente) abandonaram uma autocracia falida, deixando para trás fome e violência.

A tragédia ainda é maior porque a Venezuela é um dos membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), ou seja, é um país rico, com um povo miserável. E do outro lado da fronteira, no Brasil, está a reserva ianomâmi, com muito, muito ouro sem donos…

Quando juntamos ouro, petróleo e miséria, temos um barril de pólvora composto por pessoas sem nada, dispostas a tudo. Inclusive, a arriscar a vida.

Área de garimpo ilegal Foto: Vinícius Mendonça/Ibama

GARIMPO PROFISSIONAL
O garimpo nas terras indígenas ianomâmis é documentado, pelo menos, desde 2014.

A Folha de S.Paulo, em duas matérias, em 2014 e, agora, em 2018, demonstrou que entre os rios Uraricopera e Mucajaí havia balsas, com equipes que trabalho, imensas crateras de água e barro, e dunas de terra estéril. Decididamente, não são artefatos indígenas. Helicópteros, antenas de wifi e smartphones entraram nas reservas. O garimpo aumentou de tamanho e amplia o recrutamento de “mão de obra” barata.

O delegado da polícia federal em Roraima, Alan Robson Ramos, declarou à imprensa que “a menor infraestrutura do garimpo custa algo como R$300 mil”, ou seja, os donos do garimpo têm capital e utilizam a massa desesperada.

SAÍDA DA FUNAI, ENTRADA DO GARIMPO
Os grupos indígenas do local começaram contando aos missionários que com a saída das bases da Funai, em 2013, o local começou a se encher de garimpeiros. O Ministério Público Federal, em Roraima, move ação civil pública, para que a Funai reinstale suas bases, mas o órgão alega falta de recursos.

Nas reportagens da Folha, de 2014 e 2018, há fotos e demonstrações da ação do Exército. Sem dúvida, as forças armadas são a grande esperança, mas os repórteres da Folha não encontraram venezuelanos.

Essa talvez, possa ter sido a realidade em agosto – o que duvidamos, pois a movimentação de pessoas vindas da Venezuela, ou do Brasil, ao longo das reservas já era grande – porém, agora, em setembro, nas igrejas e nas cidades fronteiriças e, especialmente, em torno da reserva as línguas e os costumes mudaram. Líderes indígenas e até soldados sentem-se ameaçados. Ampliou-se, notadamente, a prostituição e o crime. Há, claramente, criminosos aproveitando-se da inação e da falta de regras para lucrar, tanto com o tráfico de pessoas, como com o contrabando.

O Brasil, mais uma vez, demora para proteger seu povo e suas reservas. Ficam para trás florestas queimadas, crateras imensas e terras estéreis. E ainda tem gente que acha que o maior problema no desmatamento é o agronegócio. Precisamos acordar, para proteger e preservar. E, também, para não perder. O Brasil não valoriza seu povo e suas reservas?

André Mello é jornalista, tradutor, teólogo e cientista da religião.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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