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Opinião André Mello: Lula surpreende no Datafolha

Primeira Pesquisa depois da prisão de Lula surpreende. PT ganha, mas não leva. Se tudo continuar como está o segundo turno pode ser entre dois evangélicos. E agora? As igrejas, como o Brasil, racham? A polarização vai para o púlpito?

André Mello - 17/04/2018 09h53

Lula ganha, mas não leva – O Datafolha, instituto de pesquisas ligado à Folha de S.Paulo, realizou pesquisas nos dias 11 e 13 de abril, em 227 municípios. O destaque foi para nove cenários (situações): três com Lula, liderando (com 31%) e seis sem Lula.

Nos cenários sem Lula, a grande beneficiada é Marina Silva; que, aparentemente herda os votos do PT.
Nos cenários com Lula, haveria segundo turno.

Historicamente, o PT conquistou uma parcela do eleitorado de 30%. Número suficiente para levar Lula ao segundo turno, como em 1989.

E, no momento, Bolsonaro e Marina disputariam o segundo lugar. Tanto Marina quanto Bolsonaro disputam o voto evangélico…

Há duas surpresas na pesquisa:

A primeira é perceber que o eleitorado de Lula (que inclui até mesmo uma parcela dos evangélicos) não o abandonou, mesmo diante da prisão e dos oito processos que terá pela frente. Uma revista de circulação nacional sugeriu que se trata de devoção religiosa. Mas podemos dizer que não há nada de “carolice”, ou fanatismo, na opção política pelo petista. Pelo contrário, é apenas uma mostra de que os 30% do eleitorado que sempre apoiam as esquerdas continuam votando do mesmo jeito. Certamente, muitos analistas esperavam um desgaste maior. Mas a resiliência do voto petista é uma surpresa, apenas para quem esqueceu de 1989.

A segunda é Marina Silva. É mais desconcertante para quem se acostumou a enxovalhar e criticar a ausência da líder da REDE nos debates nacionais. Aparentemente, a ausência de Marina foi uma decisão arriscada que deu certo. Assim como a sua presença maior nas redes sociais. Porém, como perdeu um deputado (Molon saiu da REDE para filiar-se ao PSB), Marina não terá muito tempo de propaganda.

O que não foi surpresa, o voto em Bolsonaro, permaneceu cristalizado. E apenas demonstra-se que o candidato de direita mais bem colocado permaneceu do mesmo tamanho. Li algumas análises que sugeriam o improvável, que o voto lulista migraria para Bolsonaro. Bolsonaro é o “antiLula” e só isso não basta para ser eleito.

Depois da caravana de Lula no Sul do país e, agora, depois do Datafolha, fica claro que essa migração era tão improvável quanto a mudança da Casa Branca para o Havaí. O eleitor de Bolsonaro é socialmente o oposto do eleitor lulista – homem, branco, de classe média alta.

Quem herdou os votos femininos foi Marina Silva. E, cá entre nós, Bolsonaro precisará mudar muita coisa se quiser atrair a maior parcela do eleitorado brasileiro. Sua imagem e discurso ficaram associados ao modelo “macho alfa” – que não ganha voto feminino, nem mídia.

Mas a mídia anda em baixa… Porque curiosamente, os três candidatos que lideram os cenários eleitorais não se chamam Alckmin. Lula, Bolsonaro e Marina têm apenas uma coisa em comum: apanham da mídia. E quanto mais apanham, mais crescem. Como no cenário internacional, o eleitorado brasileiro também tem a febre epidêmica – “do contra”. E em todas as simulações, os candidatos que ocupam, ou ocuparam cargos no governo, ou que adotaram a agenda situacionista não superam 2% dos votos. E isso inclui também um candidato de peso, que conta com apoio evangélico, Flávio Rocha (dono da Riachuelo). Não importa qual o cenário e opositor, os governistas e os liberais não decolam nas pesquisas.

Se chegarmos às eleições com esse cenário, o eleitorado penderia para Marina (que ganha as projeções de segundo turno contra Bolsonaro). Bolsonaro não ganha em nenhum cenário e empata com Ciro Gomes. Além disso, o candidato também responderá processos por suas declarações – e ao menos uma denúncia de racismo já foi protocolada contra Bolsonaro na Procuradoria-Geral da República (PGR), por Raquel Dodge. Se for processado, também cairá nas mãos dos juízes e fornecerá mais lenha para o fogo midiático.

Mas andam dizendo que a eleição só começa depois da Copa. Será?

André Mello é jornalista, tradutor, teólogo e cientista da religião.

 

* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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