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Opinião André Mello: E o Dia do Índio passou em branco?

Os índios totalizam 817.463 brasileiros, ou seja, 5% da população. Quem realmente se preocupa com eles?

André Mello - 24/04/2018 11h02

O Dia do Índio não pode passar em branco
Parece um trocadilho infame, mas é a realidade. O Dia do Índio, 19 de abril, passou em branco. Não apenas porque os brancos, ou não indígenas, deixaram de celebrar, homenagear e lembrar os povos nativos do Brasil. Mas porque não lembramos desse povo que faz parte da nossa brasilidade.

Se devemos chamar atenção para algo é preciso dizer que os povos indígenas saíram de seu “papel” romântico e ficcional. As escolas indígenas, os hospitais indígenas e, principalmente, os produtores indígenas desafiam o discurso de que as tribos são um museu vivo de um passado de 500 anos. Cabral encontrou homens e mulheres que logo ficaram fascinados pelas armas, roupas, calçados e tecnologias novas. Continua sendo assim.

Autonomia para escolher
A autonomia dos povos indígenas, que muitos dizem defender, significa também que as tribos devem escolher como preferem manter sua cultura e de que forma gostaria de interagir com outros povos e línguas.

Hoje, há tribos poliglotas, que até falam português. Muitos índios pilotam barcos e aviões. Há cabanas com ar-condicionado, ventilador, TV e até energia solar. E ao mesmo tempo, há povos tradicionais que mantêm um estilo de vida indígena, mas são apaixonados pela Bíblia.

Soja e tribunal também são programas de índio
Muitos, no Brasil, ignoram que os Parecis e os Paranás são tribos que estavam desaparecendo, mas que hoje crescem demográfica e economicamente.

Os Parecis entraram em contato com os brancos no século 17. Autodenominados Halíti (povo) foram denominados Parecis pelo bandeirante Antonio Campos, em 1720. Em 1908, Rondon, fez contato com a tribo. Durante o ciclo da borracha serviram de mão de obra e experimentaram uma disputa, por vezes violenta com os seringueiros. A Missão Utiariti a tribo do extermínio e, de 1970 em diante, os Parecis adotaram o cristianismo, tornando-se, nas lutas por suas terras, grandes produtores de soja do Mato Grosso e desenvolveram várias táticas de apicultura (criação de abelhas).

Tribos no tribunal
Os Paranás, no Mato Grosso e no Pará, pertencem a outro ramo linguístico (Jê) e perderam desde o seu contato 2/3 de sua população, em razão de doenças e massacres. Em 1975, foram transferidos para o Xingu, mas depois de 20 anos de exílio, retornaram para sua terra natal. Entraram na Justiça e ganharam ações contra a Funai, voltando a alcançar, depois da indenização e reparações, 600 indivíduos.

Fora do museu
Você consegue imaginar tribos indígenas entrando na Justiça? Plantando soja? Criando abelhas? Pois, então, imagine: eles não são peças de museu, nem parte de um zoológico, são gente como nós. E todo dia é dia de índio.

Segundo o Censo do IBGE de 2010, os índios são 817.463 brasileiros. 5 % da população. 270 idiomas. E, por enquanto, somente os missionários cristãos parecem estar realmente preocupados com eles… É isso mesmo?

André Mello é jornalista, tradutor, teólogo e cientista da religião.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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