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Epidemia de fake news contagia vacinação

Imunização contra pólio, tuberculose, rotavírus, meningite, tétano, e sarampo recua. Sociedade Brasileira de Pediatria alerta que uma epidemia de fake news nas redes sociais afeta campanhas.

André Mello - 22/06/2018 11h40

PEDIATRAS EM ALERTA – A vacina contra a Tuberculose (BCG) é aplicada nas maternidades. Mas o movimento antivacinal e o defensores dos partos alternativos fizeram a cobertura da vacina BCG, que era de 110% em 2002, recuar para 91% em 2017. E a tendência é de recuo na curva vacinal. 10% das crianças correm risco, desnecessário, de contrair uma doença mortal. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) atribui a queda da vacinação aos movimentos defensores de terapias alternativas e, principalmente, ao avanço de informações falsas nas redes sociais. Uma epidemia de fake news contagia whatsapp, facebook e twitter. A SBP e o Programa Nacional de Imunização apelam para que os pais procurem informações com os pediatras e desconfiem das “notícias falsas”, fantasiosas e boatos. A Sociedade Brasileira de Pediatria comunicou a todos os seus associados um alerta para que dobrem a atenção contra a Poliemolelite.

A NOVA ERA CONTRA A VACINA – O movimento antivacinal, que atualmente ajuda a espalhar conceitos de que a vacina provoca doenças, estimula terapias alternativas e práticas “espirituais” que ficaram conhecidos na década de 80/90 como “Nova Era” (“New Age”). Defensores de parto fora da maternidade, de cristais e florais para “fortalecer a imunidade”, os movimentos antivacinais caíram no gosto de uma parcela da classe A no Brasil e no mundo. Sociedades Internacionais de Medicina – como a OPAS e OMS – já diagnosticaram o movimento, responsabilizando-o pela volta do Sarampo e da Pólio em locais onde essas doenças já haviam sido erradicadas. A Organização Panamericana de Saúde (OPAS) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertam que o Brasil corre o risco de perder o certificado de eliminação da pólio e sarampo – que o país conquistou em 2016.

BASTA UM CASO – Como são doenças contagiosas, uma pequena redução da cobertura vacinal favorece a reintrodução da doença – como ocorreu recentemente na Venezuela. Uma criança com paralisia (por pólio) na Venezuela e a reintrodução do sarampo em Roraima, Amazonas e no Rio Grande do Sul, bem como em viajantes brasileiros nos EUA acenderam todos os alertas. Antes do surto, apenas 80% das crianças eram vacinadas em Roraima. O Brasil já tem 1240 casos de sarampo em investigação e 147 casos confirmados. Ano passado, depois de um surto na Europa, o governo alemão passou a exigir que as escolas e pré-escolas informem as autoridades quando os pais não conseguirem comprovar a imunização dos filhos. Em Portugal e nos EUA, há punições aos pais que não vacinam seus filhos – pois essa questão passou a ser considerada um risco à coletividade, superando a liberdade individual.

RETROCESSO – A vacinação contra sarampo caiu de 90% (em 2014) para 70% (em 2017). A vacinação contra difteria e tétano (DTP) caiu de 98% (em 2002) para 76% (em 2017). A vacinação contra meningite C caiu de 105% (em 2011) para 78% (em 2017). A vacinação contra rotavírus caiu de 79,8% (em 2007) para 75% (em 2017). A vacina BCG, contra a tuberculose, fornecida aos menores de um ano na maternidade, caiu de 110% (em 2002) para 91% (em 2017). E a pólio – que provoca paralisia infantil – teve a cobertura vacinal recuando de 100% (e, 2002) para 77% (em 2017). Em todos esses casos, essas enfermidades mortais podem ser evitadas.

PROVIDÊNCIA – A associação “Christians in Science” (que tem seu equivalente brasileiro na ABC2 – “Associação Brasileira de Cristãos na Ciência”) alerta que a oferta de vacinação contra doenças infecto-contagiosas é fruto de uma ação divina, através de mentes e governos, para evitar enfermidades e mortes. Assim, os cientistas da “Christians in Science” afirmam que os cristãos não podem usar o argumento do livre-arbítrio para recusar a providência de tratamentos que salvam vidas – proporcionados pelo domínio da natureza e mandato cultural, proporcionados por Deus aos homens. “Se os cientistas podem ver e entender, prevenir e curar; recusar o tratamento é um ato de rebelião contra Deus”, alertam.

Quem não crê em vacina, também duvida da ordem na Criação. Então, além de ilegal, imoral, arriscado e mortal, deixar de vacinar também seria mais um pecado?

André Mello é jornalista, tradutor, teólogo e cientista da religião.

 

* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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