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4 naipes ministeriais: políticos, economistas, conservadores e militares

Bolsonaro viverá uma luta intensa em dezembro e janeiro. Quatro grupos disputam espaço e poder, formando um baralho completo - em quatro naipes. Os Políticos (com vantagem para o DEM), os Conservadores (católicos e evangélicos), os Liberais (economistas e executivos de finanças) e os Militares. Os últimos são os "moderadores". Equilibrar esse jogo é a arte de governar.

André Mello - 27/11/2018 17h00

OS POLÍTICOS – O presidente eleito, Jair Bolsonaro, decidiu diminuir o peso dos partidos da base aliada no futuro governo. O principal prejudicado, até agora, é o PSL (partido que foi forjado e que ganhou tamanho na eleição). Com isso, Bolsonaro pode ter frustrado os planos daquele que embarcaram no PSL com as perspectiva de fazer parte do novo governo – mas também pode ter diminuído o tamanho e a força do novo partido no Congresso Nacional. Quem se saiu bem, nas articulações, é o grupo de Ônyx Lorenzoni (DEM/RS). O futuro ministro-chefe da Casa Civil fortaleceu-se como articulador junto ao governo Temer e o MDB, emplacando três ministros no futuro governo, em pastas estratégicas. Já foram indicados dez novos ministros, três são filiados ao DEM: Henrique Mandetta (Saúde), Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Tereza Cristina (Agricultura). O grupo político que se fortaleceu no governo é do eixo sulista e matogrossense. Henrique Mandetta, futuro ministro da Saúde, integra o grupo político da futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM-MS).

BEBBIANO, PSL e o PR – Gustavo Bebianno presidiu o PSL durante a campanha eleitoral e foi indicado para o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), criado por Michel Temer, com o objetivo de acelerar privatizações e concessões de serviços públicos (rodovias, aeroportos etc). Resta saber como vai amansar a bancada do partido, com apenas uma pasta. Ainda que com grandes cifras (privatizações) em pauta. Além do PSL, o PR, partido que aliou-se a Bolsonaro em vários estados e composto por vários candidatos militares, também precisa ser “acalmado”. A bancada do PR é formada por policiais e militares que são simpáticos ao presidente eleito. O PR tem sido “herdeiro” do Ministério dos Transportes, e vários líderes da legenda dãos as cartas nos Dnits estaduais, por exemplo. O ministério das Minas e Energia e da Infraestrutura, também, são atraentes para as diversa bancadas. Mas tanto o grupo militar quanto Paulo Guedes têm interesses nestes ministérios.

OS ECONOMISTAS E EXECUTIVOS – As principais estatais do Brasil serão chefiadas por economistas e executivos liberais, que articulam-se sob a liderança de Paulo Guedes e da Escola de Chicago. Paulo Guedes deve assumir um super-Ministério da Fazenda, previsto para incorporar também as pastas do Planejamento, da Indústria e Comércio, além da secretaria que hoje cuida de concessões e privatizações. Guedes tem convidado e indicado nomes do mercado financeiro para as pastas que são estratégicas. Pedro Guimarães assumirá a Caixa Econômica Federal. Guimarães, PhD em Economia pela Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, com especialização em privatizações, tem experiência no mercado financeiro, com passagem por instituições como os bancos Bozano, Simonsen; BTG Pacutal e Brasil Plural. A atual direção da Caixa, afinada com a futura direção, já anunciou um PDV (programa de demissão voluntária). Roberto Campos Neto (cujo avô foi ministro durante o governo militar) foi indicado para o Banco Central. Atualmente é diretor do banco Santander, responsável pela tesouraria. É especialista em finanças pela Universidade da Califórnia.

O Senado, que tem a atribuição de aprovar a indicação, deve chancelar a indicação de Roberto Campos Neto. Roberto Castello Branco, diretor no Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento Econômico da Fundação Getúlio Vargas foi indicado para presidente da Petrobras. Castello Branco doutor em economia pela FGV e tem pós-doutorado pela Universidade de Chicago. Foi Professor da FGV, presidente executivo do Ibmec, diretor do Banco Central, diretor executivo de instituições financeiras e diretor e economista chefe da Vale S.A. Finalmente, para o Banco do Brasil, foi indicado Rubem Novaes, PhD em Economia pela Universidade de Chicago, professor da Fundação Getúlio Vargas, diretor do BNDES e presidente do Sebrae. A articulação feita por Guedes acumula forças e estratégias no setor econômico e, em uma visão panorâmica, reedita os “choques de gestão” das administrações do PDSB, com fortes indicativos de enxugamento e privatizações. Guedes também trabalha, contra as indicações de bancadas e políticos, para reduzir o número de ministérios de 29 para 15. Provavelmente, não conseguirá diminuir as forças das bancadas e, também, dos militares no futuro governo – e já se especula que o governo poderá chegar a 20 ministérios.

OS CONSERVADORES – Apesar da mídia falar bastante sobre a força da bancada evangélica, os ministros indicados para as pastas que interessam aos evangélicos são católicos. O futuro ministro das relações exteriores, Ernesto Henrique Fraga Araújo, apresenta-se em seu Blog: “Sou Ernesto Araújo. Tenho 28 anos de serviço público e sou também escritor. Quero ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista. Globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural. É um sistema anti-humano e anti-cristão”. Além do embaixador, o grupo conservador e cristão também foi responsável pela indicação do futuro ministro da educação, o colombiano Ricardo Vélez Rodríguez, filósofo e professor emérito da Escola de Comando e estado Maior do Exército. O futuro ministro tem graduação em filosofia pela Universidade Pontifícia Javeriana (1964), graduação em teologia pelo Seminário Conciliar de Bogotá (1967), mestrado em filosofia pela PUC-Rio (1974), doutorado em filosofia pela Universidade Gama Filho (1982) e pós-doutorado pelo Centro de Pesquisas Políticas Raymond Aron, Paris.

Olavo de Carvalho é mencionado como o nome que chancelou as duas escolhas, apesar de boa parte da mídia fazer também referências ao Pastor Silas Malafaia e à bancada evangélica, em especial na indicação do Ministério da Educação. Também faz parte do grupo de conservadores – e também é católico praticante – o futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro. Preocupações com a Moral e Ética, portanto, pautam a ação dos conservadores no governo e, ao lado da luta contra a corrupção, que foi bandeira do voto de protesto em Bolsonaro, o “Brasil Conservador” também se articula politicamente.

OS MILITARES – Liderados pelo General Hamilton Mourão, que recentemente concedeu uma longa entrevista à Folha, e também pelo General Augusto Heleno Ribeiro os militares vão ocupando o protagonismo no futuro governo Bolsonaro, como moderadores dos outros grupos. Em geral, articulam-se para impedir que os grupos políticos entrem em confronto e, também, para garantir que os ministérios não se tornem “carniça de político”. Augusto Heleno assumirá o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), substituindo o general Sérgio Etchegoyen e terá a missão de monitorar o governo. O general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz para ocupar a Secretaria de Governo, substituindo Carlos Marun, como responsável na articulação com o Congresso. Também faz parte do grupo militar o engenheiro e astronauta Marcos Pontes, que chegou a ser cotado para vice-presidente de Bolsonaro, assim como Augusto Heleno – cargo que acabou ficando com o general Hamilton Mourão.

O Ministério da Defesa também será ocupado por um militar, o general Fernando Azevedo e Silva, general da reserva e assessor do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. O general Joaquim Brandão pode ser o sexto militar indicado para o futuro governo se o seu nome for confirmado para o Ministério de Infraestrutura (que vem sendo alvo de disputas entre bancadas e grupos políticos). Claro, sem deixar de lembrar que o próprio presidente eleito também busca articular-se politicamente e apresentar-se como membro da “família militar”. Seriam, então, os militares um “poder moderador” na Nova República?

André Mello é jornalista, tradutor, teólogo e cientista da religião.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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