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Casa própria – parte final: Por quê?

"Esqueça o que te disseram, Sobre casa filhos e televisão, É preciso sangue frio pra ver Que o sangue é quente E que tudo vai ser diferente" Herbert Vianna

Anderson de Alcantara - 21/05/2019 12h57

Olá, caro leitor do Pleno.News! Como vai? Tudo bem?

Conforme eu havia prometido, hoje eu tenho uma revelação bombástica para fazer. Prepare-se, abra sua mente, pois o que eu irei demonstrar através dos números vai abalar sensivelmente suas crenças sobre formação de patrimônio familiar, que lhe foram plantadas por seus pais, seus tios, seus avós, e que acabaram até (aparentemente) dando certo para eles; mas às custas de um resultado inferior ao que eles gostariam, e de uma falsa sensação de segurança que pode ser substituída pela verdadeira segurança na construção de um patrimônio mais eficiente.

Conforme já vimos nos artigos anteriores dessa série de casa própria:
1. O que é barato pode custar muito caro quando estamos diante de uma oportunidade de adquirir uma moradia irregular (leia na íntegra);
2. Que o fator tempo pode ser a chave do sucesso (com planejamento) ou do fracasso (com pressa) na tomada da decisão mais correta para aquisição da casa própria (leia na íntegra);
3. Que morar de aluguel e guardar dinheiro é muito mais vantajoso do que contrair um financiamento imobiliário (leia na íntegra);
4. Que o consórcio pode até ser uma opção interessante, mas só se você gosta de contar sempre com a sorte a seu favor (leia na íntegra).

E hoje quero provocar em você a seguinte reflexão:

Comprar uma casa própria… POR QUÊ ?
Desde muito cedo a gente é criado ouvindo que, para a gente ter sucesso na vida, é preciso “estudar para ter uma profissão para ter um emprego para se ganhar um salário e com esse salário se comprar uma casa própria”. Parece que você só será feliz se você tiver um emprego de carteira assinada e uma casa em seu nome. Até que já foi assim mesmo, mas o mundo vem mudando drasticamente nos últimos anos (e a gente já tem visto isso aqui em alguns dos estudos nessa nossa coluna semanal) e hoje eu queria pôr em prova parte desse raciocínio: Será mesmo que para ser feliz e realizado eu preciso ter que ter uma casa própria em meu nome?

Tenho que ver se as minhas premissas de segurança e construção de um patrimônio passarão no teste quando eu fizer as seguintes provocações:

Quem financia um imóvel, tem que ter consciência que ele não é seu.
Quando eu financio um imóvel com dinheiro do banco, eu não saio com uma escritura em meu nome! Eu saio com uma hipoteca que diz que aquela casa pertence ao banco enquanto eu não terminar de pagar o empréstimo. Nesse meio tempo o meu teto, o meu lar, o meu porto seguro, poderá ruir se eu ficar desempregado e não conseguir arcar com as prestações. Bastam 3 meses em atraso para o banco ter o direito de executar a dívida e tomar a posse do imóvel – que é dele;

Se o imóvel estiver dentro de um condomínio você nunca terá segurança.
Mesmo que eu tenha comprado meu imóvel à vista, sem pegar empréstimo junto a um banco, se o imóvel está localizado dentro de um condomínio e pelo mesmo motivo para cima (eu ficar desempregado e atrasar mais de 3 meses) o condomínio pode entrar na justiça e pedir o leilão do imóvel para quitação das dívidas. O juiz determinará uma ordem de despejo para colocar o imóvel a leilão para pagar a dívida com o condomínio, e você ficará só com o restante – abatidas todas as custas judiciais – o que vai lhe deixar com bem menos dinheiro que antes de investir na compra do imóvel.

“Só cresce quem faz dívida” é uma das maiores mentiras que se pode contar.
Nós já vimos aqui que dívida não tem nada de bom! É um um assunto tão sério e desgastante que eu escrevi uma série de 5 artigos aqui no portal (procure-os no índice de artigos) só para tratar desse assunto. Na verdade esse pensamento negativo de que “como o país deve, todo mundo deve, eu também devo dever” é uma das maiores maldições que nós temos em nossa terra. Nos países desenvolvidos e ricos as pessoas formam poupança para depois adquirir os seus bens, aqui no Brasil nós formamos dívida e com isso enriquecemos os bancos que estão sempre com seus balanços dando lucros recordes – não importa o tamanho da crise que a gente atravessa.

Quem aplica todo o produto do seu esforço financeiro em um imóvel, não tem liquidez.
Uma família que aplica todo seu esforço financeiro (suas economias mais a capacidade de guardar dinheiro mensalmente) na compra de um imóvel e não tem uma Reserva Técnica de Liquidez e Segurança (já ensinamos aqui – clique para ler) ficará à mercê de contrair um novo empréstimo quando surgir um imprevisto, desses que fazem parte da vida de qualquer um. Não é lá uma decisão muito sábia.

Fixar raízes durante a fase mais produtiva da vida pode impedir o desenvolvimento.
Enquanto nossos ancestrais eram fixados no campo e nossos pais fixados na cidade em função da natureza dos seus trabalhos, a geração atual tem o mundo à sua disposição para crescer e se desenvolver – seja para trabalhar ou estudar. Sendo assim, fixar raízes em um lugar na fase mais produtiva da vida, comprando um imóvel para morar, pode significar a perda de oportunidade de crescimento de estudar e trabalhar em outros países. Mesmo que eu venda e compre o imóvel de moradia toda vez que eu me mudo, eu sempre vou perder cerca de 20% na diferença do valor de compra e venda, além dos gastos com mudança e reforma que consomem cerca de 5% do valor do imóvel. Dessa forma estou sempre jogando dinheiro fora. Cerca de 1/4 do meu patrimônio vai pro bolso de outras pessoas toda vez que eu me mudo.

Quem guarda dinheiro e o investe corretamente pode morar aonde quiser no fim da vida.
Morar de aluguel a vida inteira, mesmo que financeiramente possa ser vantajoso, pode ter um risco embutido (supervalorização dos aluguéis, como a que foi vista no Brasil entre 2012 e 2015). Eu defendo a tese de que sim, no final da vida, depois de ter usufruído de todas as oportunidades de carreira e desenvolvimento profissional, e de guardar dinheiro e construir patrimônio financeiro, já podemos escolher uma cidade para curtir a aposentadoria, brincar com os nossos netos e descansar. Aí sim eu posso pensar em comprar um imóvel e ficar tranquilo, com a sensação do dever cumprido inteligentemente.

Diante desse cenário, vamos comparar a situação de duas famílias que no início do Plano Real (em julho de 1994) tinham os mesmos R$ 100 mil para comprar um imóvel ou investir. Vamos ver o resultado comparativo entre as duas decisões possíveis levando em conta a valorização média dos imóveis nas principais capitais brasileiras e os juros da taxa básica da economia (clique aqui para saber como ela funciona) , extremamente segura e conservadora, nos últimos 25 anos:

Observe que mesmo no período em que os imóveis estiveram no auge da sua valorização (pré-crise de 2016) eles não foram páreo para a força dos juros compostos somados às altas taxas praticadas aqui no Brasil. Mais uma vez, contra os fatos não há argumento.

Sendo assim, está provado que comprar um imóvel no início ou no meio da vida não é o melhor investimento que você pode fazer para a construção do patrimônio de sua família.

É lógico que esta não é uma verdade absoluta e o que eu estou demonstrando aqui não se aplicará a todos os casos. O que toda pessoa – toda família – deve fazer é um teste concreto daquilo que se aplica melhor para ela, fazendo contas honestas, e renovando seus conceitos. Mas, de um modo geral, o que nós vimos aqui é um raciocínio bastante coerente e embasado através da observação do comportamento dos ativos financeiros (no caso os imóveis e a aplicação financeira básica), ao longo do tempo, no Brasil nos últimos 25 anos.

Há colegas meus que defendem que um imóvel no longo prazo teria sempre que se valorizar por uma questão de lógica: pois como, no mundo, há uma quantidade limitada de terra e uma quantidade crescente de habitantes, logo haveria uma tendência quase certa do metro quadrado de terra sempre se valorizar. Mas, como pudemos demonstrar no exemplo acima, como o Brasil possui uma economia sempre cambaleante, nunca com uma trajetória de crescimento econômico consistente, acaba impedindo que essa premissa se aplique em nossas terras. Infelizmente, aqui, a inflação sempre vence e o único jeito de derrotar a inflação é usar os juros reais a meu favor.

É isso. Por hoje fico por aqui, lembrando que, caso você tenha alguma questão ou dúvida relacionada a Finanças Pessoais, envie-a para redacao@plenonews.com.br e eu terei o maior prazer em responder e tentar lhe ajudar.

Forte abraço, até semana que vem com um novo assunto. Sucesso, e fique em paz!

Anderson de Alcantara é profissional do mercado financeiro há 30 anos, atua como consultor financeiro na 3468 Finance e é professor titular do Ministério Videira – Educação Financeira à luz da Bíblia.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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