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Bitcoins – e aí, vale a pena investir?

“Todas as especulações são pardas, certamente, mas eternamente verde é a árvore de ouro da vida.” - Goethe

Anderson de Alcantara - 04/12/2018 12h01

Olá, amigos do Pleno.News! Tudo na Paz?

Espero que esteja tudo bem com vocês e suas famílias!

Bem, a essa altura do nosso convívio aqui, ao longo dos últimos três meses, consigo imaginar que aqueles que são leitores assíduos dessa coluna e que tenham se disposto a colocar em prática as dicas que venho compartilhando por aqui desde o início (clique aqui para acessar o índice completo), já estejam começando a vivenciar os primeiros sinais de uma mudança de patamar em sua vida financeira, saindo de um programa orientado ao consumismo, escassez e dívidas para um novo nível voltado à liberdade, abundância e formação de riqueza.

Em três meses, tenho que reconhecer que não deu tempo de eu fazer ninguém rico por aqui – ainda. Mas alguma mudança você já tem que estar notando; como os muitos leitores de quem eu tenho recebido um feedback bastante positivo e gratificante por aqui (Muito obrigado!). Caso você ainda não esteja se sentindo assim, sugiro clicar no link do parágrafo anterior e seguir minhas dicas na sequência (comece de baixo para cima e confira se você não perdeu nenhum artigo). Não pule assuntos, nem tenha preguiça. Nossa proposta aqui é vencer a maratona, e não ganhar uma corrida de 100 metros! É ter vida financeira plena, e não trabalhar só pra pagar as contas do mês.

Hoje falaremos sobre um assunto do qual muito foi dito em 2016 e 2017, mas que em 2018 passou meio quieto – para quem ainda não havia se envolvido com ele. A palavrinha da moda em matéria financeira se chama Bitcoin.

Você certamente deve ter ouvido falar, mas não sabe muito do que se trata. Aqui vai uma explicação resumida (sem querer ser muito técnico, me perdoem os especialistas): Bitcoin é uma criptomoeda, que é um tipo de moeda digital descentralizada, não controlada por nenhum governo; é um meio de troca que se utiliza da tecnologia de blockchain e da criptografia para assegurar a validade das transações e a criação de novas unidades da moeda. Logo, a grosso modo, podemos chamá-la de uma moeda virtual.

Essas você conhece bem: sabe aqueles programas de pontos que cartões de crédito, lojas e companhias aéreas vivem lhe oferecendo como recompensa para a sua concentração de consumo com eles? Aqueles pontos também são moedas virtuais. Esse é um bom comparativo para você começar a entender as criptomoedas.

A grande revolução não são as moedas virtuais em si. Estas, como acabamos de exemplificar, não são nenhuma novidade. A grande mudança está por trás da tecnologia de blockchain, que tem inúmeras aplicações práticas e que pode ser implementada livremente por quaisquer grupos de pessoas que queiram trocar ou validar informações entre si.

Como exemplo prático do bom uso desta tecnologia, a Estônia, um pequeno país da Europa, implementou o uso desta tecnologia em quase todos os serviços públicos. Naquele país, apenas três serviços exigem a presença física de um cidadão em uma instituição do governo: casamento, divórcio e transferência de imóvel. Tudo o que sobra — de abertura de empresas à votação nas eleições presidenciais — é possível ser feito com plena segurança, sem troca de papéis ou nenhum deslocamento físico, apenas com assinatura digital. Dos 1,3 milhão de estonianos, 98,2% possuem RG digital, com um chip que lhes garante acesso a mais 500 serviços do governo.

Aqui no Brasil, nas últimas eleições presidenciais, uma das propostas do candidato à Presidência da República pelo Partido Novo, João Amoedo, afirmava ser possível eliminar muitas burocracias desnecessárias no Brasil através da digitalização de serviços públicos e daqueles que são prestados por cartórios, eliminando diversos custos e obrigações desnecessárias por parte dos cidadãos.

A tecnologia é revolucionária, e veio para ficar. Suas aplicações são múltiplas, e uma delas – sem dúvida – seria poder permitir a transferência de valores entre as pessoas de forma mais rápida e barata. Imagine poder fazer (ou receber) uma transferência para uma pessoa em qualquer parte do mundo em questão de segundos, sem ter que trocar números de banco, agência, conta, CPF/CNPJ, de forma bem mais barata? Seria legal, não?

Pensando nisso, alguns programadores começaram a desenvolver moedas virtuais baseadas nessa tecnologia de criptografia, as criptomoedas. Uma das ‘vantagens’ que os programadores perceberam ao criá-las consiste no fato de que, por serem unidades descentralizadas (não passam pelo Banco Central de nenhum país ou grupo econômico) elas podem ser negociadas livremente, seu valor não recebe influência política e não precisa ser declarado a ninguém. Interessante! Mas liberdade demais deve ser olhada com desconfiança, pois, na verdade, pode ser libertinagem (anarquia) disfarçada de evolução.

Por essas características, muitos criminosos vêm utilizando as criptomoedas porque confiam que transações desse tipo não podem ser rastreadas – o que é uma suposição comum, mas errada. Um estudo feito meses atrás pela empresa de pesquisas CipherTrace mostrou que criminosos usaram Bitcoin para lavar US$ 2,5 bilhões nos últimos 10 anos. Na pesquisa, esta empresa considerou como criminosas as transações que eram geradas em sites do mercado negro ou tinham alguma ligação com extorsões, malwares, lavagem de dinheiro e serviços de financiamento de grupos terroristas.

Isso não é fato novo na humanidade. É sabido que Santos Dumont entrou em profunda depressão ao ver seu maior invento – o avião – ser usado como máquina de guerra para ceifar vidas, ao invés de facilitá-la e promover o bem-estar. Infelizmente, mesmo a melhor ideia pode ser usada com objetivos malignos.

Além disso, as criptomoedas ainda são uma tecnologia em desenvolvimento. Ainda não dá para substituir toda a matriz global de transferências (envolvendo depósitos, transferências, câmbios internacionais e cartões de crédito) de uma hora pra outra. Se isso fosse feito, da noite pro dia, teríamos que simplesmente dobrar o fornecimento global de energia elétrica canalizando-o 100% para alimentar sistemas de processamento de blockchains. Isso, hoje, simplesmente colocaria o planeta Terra em colapso.

– “Mas e aí?”

Bom, eu precisava que você entendesse minimamente os fundamentos e o momento atual da tecnologia por trás do Bitcoin e demais criptomoedas para conseguir entender claramente a próxima parte: quem “investiu” em Bitcoins baseado apenas nos lucros vistos durante o período de máximas (até dez/2017) foi alvo de especulação e pode ter perdido bastante dinheiro. Ponto.

“As inovações tecnológicas e financeiras geram, às vezes, expectativas irracionais. Nas criptomoedas, o hype tecnológico se mistura com a bolha especulativa. O excesso de liquidez no mercado se juntou a uma tecnologia atraente para gerar, no caso do Bitcoin, uma supervalorização muito atraente desse ativo. Esses processos acabam sempre em uma correção importante, o que, no caso do bitcoin, aconteceu com uma violência inusitada”. – Juan Pedro Gravel, sócio de Estratégia Tecnológica da Deloitte

Este processo irracional de comportamento financeiro é denominado de Bolha Especulativa, que decorre – sobretudo – por conta do Efeito Manada, que é quando as pessoas passam a repetir um ato de outras pessoas somente pelo fato de outras pessoas estarem fazendo, sem passar na racionalidade por detrás do ato.

No início de uma bolha as pessoas começam a comprar de forma muito intensa um certo ativo. Então, pela lei da oferta e da demanda, este ativo começa a se valorizar. Esta valorização, por sua vez, faz com que as pessoas passem a visualizar o ativo como uma boa oportunidade de investimento, mesmo sabendo pouco ou nada sobre ele. Assim, mais e mais pessoas passam a comprar este ativo, fazendo com que a alta se acentue cada vez mais. Isto ocorre repetidamente até que, em um dado momento…

  1. Quem plantou a ideia inicial começa a vender o ativo e lucrar muito dinheiro dos incautos que compraram ou ainda estão comprando-o;
  2. As pessoas percebem que o valor real do ativo em questão é muito abaixo do valor que ele está sendo negociado.

A partir de então se inicia um processo de vendas em massa. Esse processo de venda faz com que o efeito manada ocorra mais uma vez, e as pessoas passam a vender quantidades cada vez maiores por preços cada vez menores. Isto causa, finalmente, o estouro da bolha especulativa e prejuízos enormes para quem entrou na alta e saiu na baixa do ativo – o que ocorre, geralmente, com pequenos e leigos investidores.

Variação do Bitcoin nos últimos 12meses Investing.com

Olhando o gráfico acima vemos que nos últimos 12 meses investir em Bitcoin só não foi pior do que comprar a moeda da Venezuela. A moeda digital perdeu 78% de seu valor; a da Venezuela, 99,6%.

Defensores irão dizer que “tecnologia de blockchain veio para ficar”, que “altas e baixas fazem parte do histórico de valorização de qualquer ativo”, e que “quem comprar agora vai sorrir lá na frente”. Há aí o perigo de uma falácia que se vale de premissas estabelecidas no mercado financeiro para justificar o injustificável. O fato é que US$ 800 bilhões simplesmente desapareceram do mercado financeiro global, e ninguém poderá ser responsabilizado por isso (lembram-se das ‘vantagens’ de ter uma moeda independente, descentralizada e tal? pois é…).

E não vai parar por aí. Diversos ‘rachas’ ocorridos entre os corretores de Bitcoin, aliados à pressão dos governos e ao custo relativamente ainda alto de processamento desta tecnologia poderão fazer com que a cotação despenque ainda mais, até se consolidar de fato.

Um dos homens mais ricos da história, o Rei Salomão de Israel (966 a.C‎ – 926 a.C) já disse certa vez:

“O que quer enriquecer depressa é homem de olho maligno, porém não sabe que a pobreza há de vir sobre ele.” Provérbios de Salomão, 28:22

Para terminar, eu não condeno as criptomoedas por si. Acho que este é um processo que veio, sim, para ficar, quando ocorrer a consolidação da tecnologia de blockchain, com diversas vantagens para os cidadãos em geral; mas que invariavelmente irá passar pelo controle dos Bancos Centrais e dos governos para coibir seu mau uso. Ter um pouco de criptomoedas, de forma variada e não só em Bitcoins, pode fazer sentido para uma parcela da carteira de investimentos de alguns investidores no longo prazo – mas certamente não o será para todos.

Por isso, a partir da próxima semana começaremos a falar mais sobre como investir seu dinheiro com inteligência e segurança, entendendo as principais alternativas disponíveis para pequenos e grandes investidores. Se eu fosse você, não ia perder por nada!

Por hoje fico aqui, lembrando que, caso você tenha alguma questão ou dúvida relacionada a Finanças Pessoais, envie-a para redacao@plenonews.com.br e eu terei o maior prazer em responder e tentar lhe ajudar.

Forte abraço, até semana que vem, sucesso, e fiquem em Paz!

Anderson de Alcantara é profissional do mercado financeiro há 29 anos, atua como Consultor Financeiro na Sukses Consulting Advisory e é Professor Titular do Ministério Videira – Educação Financeira à luz da Bíblia.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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