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A tragédia da Muzema e o sonho da casa própria

Nosso enorme déficit habitacional explica a tragédia, mas não a justifica

Anderson de Alcantara - 23/04/2019 11h39


Olá, caro leitor do Pleno.News! Como vai? Tudo bem?

Na verdade, não muito, né? Esse ano de 2019 tem sido marcado por uma sucessão de tragédias que têm nos desgastado bastante.

Uma das mais recentes, no dia 12/04, foi o desabamento de 2 prédios residenciais na comunidade da Muzema, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, o qual causou – até o fechamento desta coluna – 20 vítimas fatais, 8 feridos, 3 pessoas ainda desaparecidas e dezenas de desabrigados.

Após a tragédia, o Brasil inteiro tomou conhecimento da realidade a respeito da ocupação imobiliária naquele local: ao invés de unidades autônomas que foram sendo erguidas pelos próprios moradores (como acontece na maioria da favelas brasileiras), ali foi implantado um modelo de ocupação através de construções irregulares controladas por um grupo que exerce o poder paralelo local – as conhecidas milícias.

É triste, porém oportuno e necessário, comentar a respeito da realidade a respeito do que pode ter levado tantas pessoas – as vítimas e mais milhares de outras – a optar por ingressar num modelo irregular e de alto risco na busca pelo sonho de ter seu próprio teto, sua casa própria.

Segundo o IBGE, o Brasil tem um déficit habitacional de 7.757 milhões de moradias, com base na última Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (Pnad). A maioria das pessoas sem casa própria concentra-se nas grandes cidades, o que acaba causando o crescimento das favelas e das ocupações irregulares.

Dada uma série de questões históricas, econômicas e culturais, acabamos chegando nesse ponto de uma verdadeira catástrofe social. Nossas cidades estão tomadas por moradias de baixa qualidade, em áreas de risco de deslizamentos e/ou enchentes, loteamentos clandestinos e a expansão desenfreada de áreas urbanas. Isso sem contar as ocupações e invasões, muitas das quais invadem áreas de proteção ambiental com construções que não respeitam a legislação em vigor, configurando dupla infração.

Além da crise econômica que levou muita gente ao desemprego e corroeu o poder de compra, o alto custo do valor dos imóveis nas grandes cidades, somados aos altos juros cobrados pelos bancos para o financiamento são alguns dos principais fatores que impulsionam as pessoas a se sujeitarem a entrar em imóveis nessas situações precárias.

Então, que alternativa as pessoas podem ter quando o custo para arcar com a aquisição de um imóvel chega ao limite ou até ultrapassa sua renda total? Abordaremos essa questão nas nossas próximas colunas, mas hoje, como reflexão, devemos nos fazer as seguintes perguntas:

  • Se um imóvel legalizado, numa grande cidade, tem um custo médio de R$ 300 mil e eu recebo uma oferta para compra de um na mesma faixa de tamanho e conveniências por R$ 60 mil, eu não deveria desconfiar?
  • Se o imóvel que eu quero comprar não possui o “Habite-se” (licença do Corpo de Bombeiros dando o aval para a moradia de pessoas) e/ou escritura no Registro Geral de Imóveis da cidade, eu não deveria considerar o risco de estar pagando por algo que amanhã ou depois poderá vir a ser declarado como não sendo meu, de fato?
  • Se eu quero ter qualidade de vida e morar perto do trabalho, certamente terei que pagar por isso. As alternativas seriam: ver quem possa oferecer um espaço para eu coabitar (morar com amigos ou familiares), ou morar mais longe em um lugar que eu possa arcar com a aquisição legal de um imóvel, certo?

Como bem disse nosso amigo Fábio Guimarães em sua coluna “Como lidar com a tragédia?” (clique aqui para ler):

“Apesar de não termos uma receita pronta, receita como as de bolo, que levam açúcar, farinha, ovo, leite e manteiga, podemos, sim, definir alguns ingredientes que são imprescindíveis, que, interligados, trabalham em sintonia, já que um não vive sem o outro e são eles a motivação, a superação e o propósito”.

Eu mesmo fui criado em uma casa que não era legalizada, uma posse/invasão. Mas, desde cedo, instruído por meu pai, criei consciência de que aquele modelo não era o ideal e fiz desta conscientização um propósito. Quando me casei, eu e minha esposa começamos morando num quarto/sala pequeno, num bairro mais afastado do que os que morávamos com nossos pais, mas era nosso e 100% legalizado. Dali começamos a subir nossa escada de crescimento patrimonial (prosperidade), devagar e com humildade, até o ponto em que estamos hoje. Anos depois, pude ajudar minha mãe a, depois de 40 anos morando naquela localidade, fazer o mesmo e hoje ela pode dizer que mora em um imóvel que é seu, longe do risco de intervenções inesperadas. Tudo isso que você leu em poucas linhas levou décadas para acontecer, mas quem é nosso leitor sabe: prosperar de verdade leva tempo e tomar atalhos pode causar prejuízos.

Nas próximas semanas, quero tentar ajudar você a construir “o sonho da casa própria” da maneira correta, saudável e sustentável. Não perca!

Por hoje fico por aqui, lembrando que, caso você tenha alguma questão ou dúvida relacionada a Finanças Pessoais, envie-a para redacao@plenonews.com.br e eu terei o maior prazer em responder e tentar lhe ajudar.

Forte abraço, até semana que vem, sucesso, e fique em paz!

Anderson de Alcantara é profissional do mercado financeiro há 30 anos, atua como consultor financeiro na 3468 Finance e é professor titular do Ministério Videira – Educação Financeira à luz da Bíblia.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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