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Especial Vida para Síria: A esperança durante a guerra

Muhammad Najem é um garoto sírio, de 15 anos, que relata os horrores do conflito nas redes sociais

Juliano Medeiros - 06/04/2018 13h21 | atualizado em 09/04/2018 10h42

O último grupo rebelde deixou a região de Guta Oriental, na Síria, na última segunda-feira (2). O processo de retirada é resultado de um acordo mediado pela Rússia.

Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, mais de 105 mil pessoas, entre civis e combatentes, seguem para áreas comandadas por rebeldes perto da fronteira com a Turquia, ao norte do país.

Especialistas acreditam que as forças do governo dominam 95% do território ao redor da capital Damasco, onde havia uma forte resistência. Em 2018, mais de 1.600 civis morreram e as forças do governo ficaram enfraquecidas.

Ao mesmo tempo, um relatório divulgado pela ONU denuncia a violência na Síria. O documento destaca violações cometidas pelas partes envolvidas no conflito: as forças de Bashar al-Assad, a Rússia de Vladimir Putin, a coalizão liderada pelos Estados Unidos de Donald Trump e os rebeldes.

A guerra civil da Síria é considerada uma das mais covardes de toda a história da humanidade. Além dos ataques aéreos e dos confrontos em terra, o governo usou gás químico, o que resultou na morte de centenas de pessoas por asfixia.

Um cessar-fogo foi solicitado para permitir ajuda humanitária, mas a pausa nos ataques foi rejeitada pela Rússia, que apoia o regime sírio, juntamente com o Irã. O presidente da Comissão de Inquérito da ONU sobre a Síria, Paulo Sérgio Pinheiro, cobra ajuda internacional.

– É necessário uma preocupação por parte dos países envolvidos e no tratamento de atender as necessidades desta população. Desde a manutenção alimentar até o problema do seu acesso aos direitos mais básicos de sobrevivência – diz Pinheiro.

Uma das pessoas que quer chamar a atenção do mundo para esse conflito é Muhammad Najem. O garoto de 15 anos compartilha os horrores da guerra na rede social. Ele mora em Guta Oriental, nos arredores de Damasco, onde desde fevereiro os bombardeios se intensificaram. Najem atua como uma espécie de correspondente de guerra.

Na internet ele relata que as situações médica e humanitária são difíceis de serem explicadas com palavras e define os ataques como genocídio.

A verdade que Najem conta ao mundo não é a mesma de outras publicações na internet. Fotos feitas em momentos diversos não são exatamente o que as legendas revelam.

O professor de História e Relações Internacionais, Márcio Scalércio, estudioso também de guerras, analisa que a divulgação de notícias mentirosas, infelizmente, não é uma novidade.

– O uso da informação como ferramenta de guerra. Isso não é novo. O homem sábio disse uma vez que a primeira vítima da guerra é a verdade. O que as pessoas têm que tentar fazer é saber filtrar as notícias que recebem e ter ciência quem é o agente que está divulgando aquela notícia – instrui o professor.

Entre muitas imagens que aparecem nas redes sociais, algumas são mesmo de dor e sofrimento. Pais socorrendo nos braços os filhos feridos em Alepo; o menino Omran Daqneesh, de 5 anos, ensanguentado no banco de uma ambulância. Estas são algumas das imagens que mostram que a guerra é cruel e as vítimas precisam de ajuda.

A psicóloga e voluntária da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras, Ionara Rabelo, diz que esse é um trabalho difícil:

– Nas últimas duas semanas, em Guta Oriental, nós tivemos, em média, 344 feridos e 71 mortos por dia. Os serviços de ajuda dentro da Síria foram bombardeados, vários deles. As equipes estão exaustas, os suprimentos estão acabando e existem vários feridos que precisam ser evacuados. Então, a gente conclama a comunidade internacional que peça um cessar-fogo para retirar os feridos graves, mandar insumos e medicamentos, para que os feridos possam ser atendidos com a qualidade que os médicos sem fronteiras sempre prezam.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha é outra instituição envolvida nesta ajuda. No início de março, apenas 16 de 46 caminhões da organização conseguiram chegar com mantimentos em Guta Oriental. Nem tudo foi descarregado por causa dos ataques aéreos.

Como explica o assessor de comunicação da Cruz Vermelha Internacional, Diogo Alcântara, é essa ajuda que chega do mundo que renova as esperanças de quem sobrevive à guerra.

– O conflito da Síria tem se caracterizado pelas violações regulares ao direito internacional humanitário, o que quer dizer cercos, barricadas, ataques desproporcionais em áreas urbanas e civis. Então, essa situação faz com que precisemos cada vez mais de recurso para manter nossas atividades e levar proteção e assistência às vítimas dos conflitos armados, que é nossa missão.

Mortes e violência reescrevem a história da Síria. Cada um pode fazer a diferença contra as marcas deixadas pela guerra, como enfatiza Luciana Capobianco, do projeto social Estou Refugiado.

– Cada pessoa pode ajudar, mas tem de abrir o coração – afirma Capobianco.

*Esta reportagem foi veiculada originalmente na rádio 93FM.

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