Rússia faz queixa no Vaticano contra fala do papa: ‘Indignação’
Pontífice indicou que minorias étnicas que lutam contra Ucrânia são ainda mais "cruéis" que os russos
Thamirys Andrade - 29/11/2022 15h55 | atualizado em 29/11/2022 18h27
Autoridades da Rússia manifestaram “indignação” em relação ao papa Francisco, após o pontífice avaliar que os soldados de minorias étnicas que lutam na guerra contra a Ucrânia são ainda mais cruéis que os russos. O embaixador da Rússia no Vaticano Aleksandr Avdeyev chegou a apresentar uma queixa oficial, defendendo a “unidade do povo multinacional russo”.
– Expressei minha indignação com tais insinuações e ressaltei que nada pode abalar a coesão e a unidade do povo multinacional russo – assinalou, segundo a agência russa Ria Novosti.
Já a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, falou em “perversão”, por meio de seu canal no Telegram.
– Isso não é mais russofobia, é uma perversão em um nível que nem consigo nomear. Somos uma família com buriates, chechenos e outros representantes de nosso país multinacional e multiconfessional – pontuou.
Mesmo aqueles contrários à guerra não encararam a fala com bons olhos. A ativista de direitos humanos e fundadora da organização antiguerra Free Buryatia, Alexandra Garmazhapova disse que a declaração do pontífice configura “racismo” e é “indesculpável”.
– Fiquei extremamente desapontada ao ler essas declarações racistas e indesculpáveis. A Rússia está travando uma guerra imperial iniciada e liderada por Vladimir Putin, que, segundo todos os relatos, não é membro de uma minoria étnica. O papa deveria condená-lo pessoalmente, mas decidiu contornar o presidente russo. Não vamos esquecer que a Igreja Ortodoxa Russa é uma das maiores apoiadoras da guerra – defendeu.
A polêmica fala do papa ocorreu nesta segunda-feira (28), em entrevista à revista católica America. Os chechenos possuem origem caucasiana, já os buriates são um povo indígena da Sibéria.
– Quando eu falo da Ucrânia, falo de um povo martirizado. Se há um povo martirizado, há alguém que o martiriza. Quando eu falo sobre a Ucrânia, eu falo sobre crueldade porque tenho muitas informações sobre a crueldade das tropas invasoras. Geralmente, os mais cruéis talvez sejam aqueles que são da Rússia, mas não são da tradição russa, como os chechenos, os buriates e assim por diante – disse.
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