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Bolívia: Senadora se declara presidente sem votação

Jeanine Añez é opositora ao ex-presidente Evo Morales

Henrique Gimenes - 12/11/2019 21h32

Jeanine Añez Foto: Reprodução

Apesar de não ter reunido quórum nem na Câmara de Deputados nem no Senado, a senadora Jeanine Añez, 52, declarou-se presidente da Bolívia, ocupando o vácuo de poder deixado pela renúncia de Evo Morales e de seu vice no domingo (10).

– Assumo a Presidência do Estado. A Bolívia precisa ser livre, pacificada e democrática. Minha prioridade é convocar eleições o mais cedo possível – disse ela na Assembleia Nacional, poucos minutos antes das 19h (20h em Brasília).

Ao final de seu pronunciamento, os senadores celebraram com gritos de “Bolívia, Bolívia” e entoaram o hino.

Não houve votação, e muitos legisladores do MAS (Movimento para o Socialismo), partido de Evo, não estavam na sessão -parte deles não conseguiu chegar porque as estradas que ligam o aeroporto a La Paz estão bloqueadas.

Añez justificou que assumiria a Presidência de acordo com o que estabelece o regimento do Senado sobre sucessão na Casa.

Segundo a interpretação que ela apresentou da regra, “ante a renúncia do presidente e do primeiro vice-presidente do Senado, o regimento da Câmara dos Senadores permite que eu assuma o comando do Estado para garantir a transição”.

Depois do anúncio, os militares que protegiam a entrada da Assembleia usaram gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes reunidos ali desde o começo da tarde.

Jeanine Añez caminhou escoltada por policiais e militares do parlamento até o Palácio Quemado, sede do governo. Estava cercada também por opositores de Evo.

Ela subiu a escadaria com a Constituição em mãos.

– Agradeço aos que nos acompanham, o movimento cívico, os irmãos indígenas, a Igreja, amamos a Bolívia. Quero agradecer a essa juventude que saiu às ruas e que não conhecia outro objetivo. Eles saíram para mostrar que sim, se podia. Queria pedir um minuto de silêncio pelos que morreram nas últimas semanas – apontou.

O minuto de silêncio foi respeitado, e houve aplausos e um grito de “viva a Bolívia”.

Política sem muita expressão nacional, que acabou alçada aos holofotes internacionais com a renúncia de Evo, Jeanine Añez Chávez é advogada de formação e foi diretora de um canal de TV local em sua cidade, Trinidad, no departamento de Beni.

Entrou para a política em 2006 como membro da Assembleia Constituinte e participou da elaboração da Constituição boliviana promulgada em 2009.

Já era de oposição nessa época, defendendo bandeiras como a limitação aos poderes presidenciais e a maior autonomia dos governos regionais.

Em 2009, foi eleita senadora pela aliança de direita Plan Progreso para Bolívia-Convergência Nacional. Em 2015, foi reeleita pela também direitista Unidad Democrata.

Sua bancada sempre foi minoritária, e foi graças a isso que ela se tornou a segunda vice-presidente do Senado. Pela lei boliviana, esse cargo deve ser ocupado por um integrante da minoria na Casa.

– Ela nunca foi uma líder de primeira linha, apesar de ter bastante experiência na política. É conhecida por ter desempenhado forte papel na Constituinte e na defesa da autonomia regional. Mas não teria sido candidata a esse cargo [de presidente] em outra situação – conta Christopher André, jornalista do El Deber, na Bolívia.

A Constituição da Bolívia determina que, em caso de ausência do presidente do país, assuma o vice-presidente ou o líder do Senado, mas ambos renunciaram junto com Evo.

O primeiro vice-líder do Senado, também governista, foi outro que pediu demissão. Assim, segundo a interpretação de Añez, ela seria a próxima na linha sucessória.

Quando chegou à sede do governo, ela apareceu com a faixa presidencial ao lado do opositor Luis Fernando Camacho. Ela segurava a Bíblia, e ele, a Constituição.

O ex-presidente boliviano, que renunciou por pressão das Forças Armadas e de manifestações populares, chamou a manobra de Añez de golpe.

– O golpe mais astuto e nefasta da história foi consumado. Uma senadora de direita golpista se autoproclama presidente do Senado e presidente interina da Bolívia, sem quórum legislativo, rodeada de um grupo de cúmplices e cercada pelas forças armadas e pela polícia que reprimem o povo – escreveu em uma rede social.

*Folhapress

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