Ana Luiza Menezes - 04/07/2018 20h59 | atualizado em 05/07/2018 15h18

No estado de Tamil Nadu, no sul da Índia, um pastor pulou de um veículo em movimento para escapar de uma multidão de radicais hindus que queriam executá-lo. Segundo agências missionárias, a polícia local teria se recusado a apresentar acusações contra os agressores.

O pastor Jayaseelan Natarajan e seu filho, Samuel, vêm tentando há anos construir uma igreja no distrito de Karur. Eles foram atacados em junho no local da construção da igreja, na área Thozilpettai por uma multidão que se opôs ao desejo do pastor de construir uma casa para sua congregação.

A Morning Star News relatou que o pastor e seu filho foram atacados pela multidão formada por cerca de 20 hindus que estariam associados ao grupo nacionalista hindu Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS). Os dois também foram acusados ​​de administrar um bordel.

PERSEGUIÇÃO
O primeiro incidente ocorreu quando Samuel foi ao terreno da igreja para regar flores. Na ocasião, um grupo foi até o local para perguntar sobre uma mulher que eles acreditavam que estava na igreja.

Mesmo não tendo encontrado a mulher, o grupo ameaçou o rapaz e o pastor de morte.

Dois dias depois, eles apareceram novamente e iniciaram o ataque.

– Uma multidão de 20 pessoas invadiu o complexo da igreja. Perguntamos o que estava errado e por que eles estavam entrando nas instalações. Eles não prestaram atenção, pegaram vasos de flores e os esmagaram. Eles me perseguiram e me bateram muito – disse Natarajan ao Morning Star News.

Segundo o site, Samuel foi atingido por um bastão de madeira, mas conseguiu escapar. No entanto, o pastor não teve a mesma sorte.

Embora Natarajan tenha chamado uma ambulância, os agressores disseram aos médicos que ninguém estava ferido. O pastor tentou correr atrás do veículo, mas eles se recusaram a levá-lo.

– Eu andei mancando e sangrando pela rua e implorei para a ambulância parar e disse ao motorista que era eu quem ligava, mas ele me disse que só deveria pegar as pessoas do endereço que mencionam, e que ele não poderia me pegar – disse Natarajan.

FUGA E FALTA DE JUSTIÇA
Ele conseguiu continuar andando até ser visto por um advogado chamado Kumar, também conhecido como Gobi.

– Ele primeiro me bateu e depois me puxou com força para dentro de seu carro. Ele ordenou ao motorista que nos levasse a um lugar desolado e disse que eu deveria ser morto naquele local. Pela graça de Deus, depois de viajar cerca de um quilômetro, havia uma rotatória e disjuntores de velocidade na estrada, e o motorista desacelerou o carro. Eu silenciosamente soltei a porta do carro para o meu lado e pulei para fora rapidamente – relatou o pastor.

No entanto, Gobi parou o carro e, em seguida, pegou o pastor pelo colarinho e levou-o para uma delegacia de polícia que estava a apenas alguns metros de distância.

Gobi acusou o líder cristão de administrar um bordel e estar envolvido em adultério.

A polícia enviou Natarajan para um hospital para se recuperar e ele prestou sua declaração oficial no dia seguinte.

A polícia se recusou a coletar informações relacionadas à ameaça de morte contra ele, visto que o agressor tem conexões políticas na cidade.

– Ele (o policial), simplesmente escreveu que Kumar e uma turba de 15 a 20 criminosos atacaram. Quando perguntei por que ele não queria uma queixa contra Gobi, ele me ameaçou – contou o pastor.

Ranjendran Ramasamy, advogado de Natarajan, disse que nenhuma ação policial foi tomada contra os atacantes hindus na semana após o ataque.

ÓDIO A CRISTÃOS
O ataque contra o pastor e seu filho ocorreu no período em que a Índia foi classificada como a 11ª pior nação do mundo quando se trata de perseguição cristã, de acordo com a lista World Watch de 2018 feita pela Missão Portas Abertas dos Estados Unidos.

Nos últimos anos, os cristãos na Índia sofreram uma perseguição crescente.

– Como os radicais hindus vêem os cristãos como forasteiros, eles estão sofrendo uma perseguição crescente. Esses radicais têm a intenção de limpar a nação tanto do islamismo quanto do cristianismo e empregam a violência para esse fim – declarou a organização.

Em maio, o proeminente líder hindu Om Swami Maharaj advertiu os cristãos na Índia a deixarem o país ou seriam expulsos à força.

Cristãos na Índia também correm o risco de serem acusados ​​de conversão forçada, um ato que é proibido em certos estados.

Em vários casos, adultos cristãos viajando com crianças a caminho de acampamentos cristãos ou programas bíblicos foram presos com base no fato de que eles estavam tentando forçar a conversão de crianças hindus.

Além disso, há relatos frequentes de assassinatos motivados por motivos religiosos, tumultos e agressões contra minorias religiosas no país.

EUA SE PRONUNCIAM
Em seu relatório sobre Liberdade Religiosa Internacional de 2018, o Departamento de Estado dos Estados Unidos explicou que a embaixada americana e os quatro consulados gerais discutiram questões religiosas e de tolerância com os partidos governantes e de oposição, bem como com líderes de várias religiões.

– Funcionários da embaixada também contrataram funcionários da Comissão Nacional para Minorias e da Comissão Nacional de Direitos Humanos, líderes políticos, autoridades estaduais e locais, organizações religiosas e grupos da sociedade civil de todas as comunidades religiosas – informou o relatório.

A comissão solicitou novamente ao Departamento de Estado que classificasse a Índia como um país “Nível 2”, juntamente com outras nações que se envolvem ou toleram violações de liberdade religiosa de forma contínua ou notória.

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