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Líbano: Gases tóxicos podem levar a danos nos pulmões

Pneumologista Elie Fiss, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, falou sobre riscos

Pleno.News - 10/08/2020 17h37 | atualizado em 10/08/2020 17h39

Gases tóxicos após explosão em Beirute podem levar a danos nos pulmões Foto: EFE/Wael Hamza

A explosão que ocorreu em Beirute, no Líbano, no último dia 4, foi documentada em vários ângulos. Em alguns dos vídeos divulgados nas redes sociais, é possível ver, em poucos segundos, uma gigante bola de fogo tomar os céus para, em seguida, eclodir em uma enorme explosão.

O impacto percorreu quilômetros da capital libanesa e destruiu casas, prédios e as imediações da zona portuária. Milhares de pessoas ficaram feridas, com queimaduras, fraturas e sangramentos decorrentes da explosão. Outras tantas podem também ter sequelas pulmonares.

Além dos estilhaços de vidros das janelas e os escombros dos edifícios demolidos, uma poeira de partículas da explosão ainda deve pairar no ar vários dias após o incidente.

Essa nuvem contém compostos de fibra de vidro, cimento, tijolos e tintas, entre outros, muitas vezes em partículas suficientemente pequenas para serem inaladas por pessoas próximas à explosão.

A uma distância menor, o gás liberado pela combustão das 2.750 toneladas de nitrato de amônio, que foi a origem do incidente, composto altamente tóxico, também é inalado. Com isso, podem surgir diversas complicações nos pulmões daqueles diretamente atingidos ou próximos ao local da explosão.

Em um primeiro momento, a inalação dos gases tóxicos e as altas temperaturas provocam queimaduras da mucosa nasal e da garganta. Dependendo da distância que a vítima estava da explosão no momento do evento, as queimaduras podem ser severas e provocar edemas (inchaços) também nesses órgãos.

Em seguida, os gases e a poeira inalados provocam desidratação extrema.

– É como a sensação de andar em uma estrada de terra muito seca, inalando poeira liberada no ar, multiplicada por mil, 10 mil. Essa é a secura causada pela explosão – explicou o pneumologista Elie Fiss, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Também professor da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), ele compara os efeitos pulmonares da explosão àqueles descritos nos bombeiros e sobreviventes do atentado de 11 de Setembro de 2001, quando as duas torres do World Trade Center, em Nova York, foram atingidas por aviões e destruídas.

Na ocasião, as autoridades locais recomendaram atenção à saúde pulmonar de todas as pessoas em um raio de até 5 km do incidente.

– No caso da explosão de Beirute, o estrago é maior, porque o nitrato de amônio libera um gás extremamente tóxico.

A poeira inalada pode se acumular nos alvéolos pulmonares, causando broncoespasmo, o fechamento dos brônquios. A condição pode gerar falta de ar e, se for muito grave, morte por asfixia, explicou Fiss.

– Além disso, a inflamação causada por esses gases e pelo acúmulo de poeira nos pulmões podem levar a edemas pulmonares que nós chamamos de não cardiogênicos, isto é, quando não tem relação a uma condição pré-existente. Podem deixar sequelas por toda a vida.

Diversos estudos foram feitos para avaliar os danos no trato respiratório dos sobreviventes e de bombeiros do World Trade Center, e muitos problemas só foram informados anos após o ocorrido. Dentre os mais graves, fibrose pulmonar (endurecimento dos pulmões), edemas e até câncer de pulmão.

A atual pandemia de coronavírus pode agravar ainda mais as sequelas causadas pela explosão de Beirute. Em capacidade máxima, os hospitais trabalham para atender os feridos com queimaduras na pele e fraturas, casos já graves que necessitam de internação, além dos pacientes de Covid-19.

Mas os danos nos pulmões também podem precisar de internação, e, embora alguns dos efeitos sejam notados nas primeiras horas ou dias após a explosão, outros podem surgir até semanas ou anos depois.

Fiss recomendou atenção especial nos hospitais aos pacientes com relatos de falta de ar nas próximas semanas, pois pode ser decorrente dessa inalação de gases e de poeira.

– O paciente vai precisar de tratamento extensivo, até mesmo com corticoides [anti-inflamatórios] e balão de oxigênio, se for o caso.

Dentre os sintomas que podem surgir nas primeiras horas até os primeiros dias estão tosse e falta de ar.

O médico ressaltou ainda a diferença no diagnóstico desse quadro para o de Covid-19.

– A Covid-19 é um quadro infeccioso. Pode vir acompanhado de febre, dor no corpo, infecção generalizada. Os sintomas associados à inalação de gases tóxicos são mais agudos, de queimaduras e inflamação imediata das vias aéreas, além de broncoespasmos. As autoridades de saúde precisam ficar em alerta – finalizou.

*Folhapress

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