Greve de caminhoneiros no Chile derrubou o presidente
Paralisação, que desencadeou uma crise trabalhista, durou 26 dias no país
Jade Nunes - 29/05/2018 09h32
A greve dos caminhoneiros no Brasil já dura nove dias e afeta o abastecimento de alimentos, combustíveis e da indústria. No Chile, uma história semelhante aconteceu em 1972 e acabou tirando o então presidente Salvador Allende do poder.
A paralisação, que duraria 26 dias, começou em outubro de 1972. Os caminhoneiros protestavam contra a criação de uma autoridade nacional de transporte. Com o movimento, eles desencadearam uma crise trabalhista no país.
Segundo estimativas do governo, a paralisação inicial custou ao Chile 200 milhões de dólares na época. Hoje, esse valor superaria 1,2 bilhão de dólares (mais de R$ 4,5 bilhões). Apesar do governo Allende ter tentado negociar com os caminhoneiros no final de outubro, já era tarde.
Salvador Allende era um presidente alinhado com a esquerda e havia sido eleito com promessas de democratizar certos serviços como o sistema de saúde. Outra bandeira era a redistribuição de terras.
Praticamente um ano depois da negociação, em agosto de 1973, 40.000 caminhoneiros voltariam a paralisar o país. Mas, desta vez, ao lado de 210.000 donos de pequenos negócios e empresários.
As crises recorrentes fariam com que o presidente fosse deposto pelo exército e pela força nacional em 11 de setembro de 1973. O golpe de Estado contou com o bombardeio do palácio presidencial de La Moneda. Allende acabou se suicidando. O episódio ficou marcado como um dos mais sangrentos da história chilena.
– A agricultura está seriamente ameaçada, a indústria desacelerou e o suprimento de commodities atingiu um ponto crítico – afirmava o relatório na época, após 23 dias da segunda greve de caminhoneiros.
O governo Allende chegou a apostar em forças de segurança para resolver o problema. Medida parecida foi tomada pelo presidente Michel Temer. Para o primeiro a estratégia não surtiu efeito.
E se no Brasil há dúvidas de quem está por trás da paralisação, no Chile não foi diferente. Um ano depois da queda de Allende, foi revelado nos Estados Unidos que a maior parte de um montante de 8 milhões de dólares, 48 milhões de dólares em valores atuais (ou R$ 180 milhões), enviados ao país pelos americanos, havia sido usada para dar suporte às greves trabalhistas que comprometeram o governo chileno.
O então secretário de Estado do governo Richard Nixon confirmou, em depoimento ao Congresso americano, a existência do investimento, mas afirmou que o objetivo era manter vivos “partidos políticos e veículos de imprensa ameaçados pelo governo de Allende” e não derrubar o governo.
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