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Estudantes brasileiros pedem ajuda para sair da Bolívia

Grupo teme o recrudescimento da violência por causa de manifestações recentes

Ana Luiza Menezes - 29/10/2019 19h13

Estudantes brasileiros no campus da Unifranz, em Santa Cruz de La Sierra Foto: Arquivo Pessoal

Estudantes brasileiros que vivem em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, pedem ajuda do governo do Brasil para deixar o país e não perderem o semestre de aulas. O grupo teme o recrudescimento da violência por causa de manifestações recentes entre partidários e opositores de Evo Morales.

Cerca de 1,2 mil brasileiros estudam na Unifranz, instituição de ensino superior com campus em Santa Cruz, uma das principais cidades do país. Universidades bolivianas tornaram-se nos últimos anos destino comum de estudantes de medicina em busca de cursos mais baratos e com vestibulares menos concorridos.

Em torno de 450 brasileiros têm se organizado por grupos de WhatsApp. Os estudantes entregaram na segunda-feira (28) uma carta ao consulado do Brasil. O objetivo é que o consulado interceda junto à universidade para que o semestre seja encerrado com antecedência e atividades possam ser realizadas online. O fim do semestre está previsto para 11 de dezembro.

As manifestações já duram duas semanas no país, mas a violência cresceu desde o fim de semana em Santa Cruz. Ao menos 35 pessoas ficaram feridas em confrontos com manifestantes desde domingo, segundo o jornal local El Deber.

Por causa das manifestações, a cidade tem passado por toque de recolher e o comércio só funciona até as 12h, o que dificulta até a compra de alimentos. As principais vias da cidade, que passou por uma greve geral, foram bloqueadas por manifestantes e a locomoção ocorre apenas a pé ou de bicicleta.

A estudante de medicina Helen Carolina Ribeiro Agrelli, de 35 anos, diz que, além do clima de medo, tem sido difícil receber dinheiro do Brasil. Vários estudantes contam com ajuda dos chamados cambistas, que recebem depósitos das famílias de brasileiros e repassam o dinheiro para os estudantes -com os atos, não tem sido possível encontrar essas pessoas.

– Estamos em cárcere privado desde terça passada, mas a violência se intensificou. Estou com medo, muito medo, é uma insegurança e instabilidade e não sabemos o que fazer. A gente vê exemplos de Venezuela, Chile, e pra gente que é estrangeiro a situação é ainda pior – disse ela, que é aluna de medicina na instituição.

Helen é natural de Trombas, Goiás, e ingressou no curso em 2016. Ela conta que, assim como outros colegas, tem estocado alimentos. Mantimentos básicos, como água mineral e gás de cozinha, têm sido vendidos pelo dobro do preço nos breves períodos em que o comércio fica aberto.

A estudante afirma que, apesar dos conflitos, os brasileiros ainda estão seguros e os familiares podem ficar tranquilos.

– Ainda temos comida e não teve nenhum brasileiro ferido – disse.

Ainda não houve respaldo da universidade para que os alunos possam deixar o país sem perder o semestre. A Unifranz, segundo os alunos, espera manifestação do Consulado brasileiro para que possa liberar os alunos sem que haja conflito com a legislação boliviana.

Nesta terça-feira, os estudantes se reuniram novamente no campus da universidade para redigir e assinar uma nova carta para o Consulado. Dessa vez, esperam também ter a assinatura do reitor.
O grupo ainda espera algum aceno do governo brasileiro para ajudar os que pretendem sair do país. “Alguns alunos não têm condição de sair do país, o único meio de sair agora é de avião”, diz Helen.

A reportagem solicitou informações ao Ministério das Relações Exteriores, que até a publicação desse texto não havia retornado. O Ministério da Educação também foi questionado, mas informou que o tema deve ser tratado pelo Itamaraty. A reportagem entrou em contato com a Unifranz, mas não recebeu resposta.

Estudantes na Bolívia também pediram ajuda ao gabinete do deputado Gastão Vieira (Pros-MA), que fez contato com o MEC e com a secretaria geral da Presidência.

Os conflitos entre apoiadores e opositores de Evo começaram após a reeleição do líder indígena, anunciada na última quinta-feira. O Tribunal Supremo Eleitoral, órgão responsável pela votação, alterou o método de contagem dos votos ao longo da apuração, marcada por muitas idas e vindas.

Evo, que está no poder desde 2006, considera que as manifestações fazem parte de um plano de golpe de Estado contra sua vitória nas urnas para o período 2020-2025.

O governo Jair Bolsonaro (PSL) informou, em publicação do Itamaraty, que não reconhece a vitória por enquanto.

*Folhapress/Paulo Saldaña

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