China punirá experimentos genéticos que “violam a ética”
O cientista He Jiankui, que fez modificação genética em bebês, chocou o país
Jade Nunes - 29/11/2018 14h33

A China anunciou nesta quarta-feira (28) que punirá firmemente os responsáveis por um caso que “viola leis e regulações” do país, assim como “princípios éticos”, em referência aos embriões humanos que supostamente foram modificados geneticamente pelo cientista chinês He Jiankui.
O diretor-adjunto da Comissão Nacional de Saúde da China, Zeng Yixin, afirmou em entrevista à Televisão Central da China (CCTV) que os departamentos e os governos locais “estão investigando o caso e que punirão firmemente os infratores”.
– Com o rápido desenvolvimento da ciência e da tecnologia, a pesquisa e a aplicação científica devem ser mais responsáveis e devem acompanhar normas éticas e técnicas – disse Zeng.
O vice-ministro de Ciência e Tecnologia chinês, Xu Nanping, disse à mesma emissora que sua pasta combaterá o experimento e anunciou que todas as atividades de pesquisa relacionadas devem ser suspensas.
– É contra a lei e contra a ética. É inaceitável – afirmou.
Huai Jinpeng, secretário do partido da Associação Chinesa de Ciência e Tecnologia, também disse hoje à CCTV que se opõe ao experimento e disse que o órgão dará “todo apoio” às investigações das autoridades.
O pesquisador Wang Haoyi, da Academia de Ciências da China, condenou o experimento em entrevista à emissora estatal e afirmou que o caso alterou “gravemente” as bases da pesquisa científica e prejudicou a reputação da China nesta área.
– Ele não nos representa. Nem o chamaria de cientista. É uma pessoa impiedosa que sabe muito pouco de ciência e que fez um experimento muito irresponsável em um ser humano – disse Wang.
He Jiankui afirmou na última segunda-feira ter criado os primeiros bebês geneticamente modificados do mundo sem qualquer tipo de apoio institucional. Ontem, ele justificou seu experimento, apesar das dúvidas e das controvérsias que gerou entre a população e a comunidade científica dentro e fora da China.
Em discurso no Congresso Internacional de Edição de Genomas Humanos, na Universidade de Hong Kong, ele disse estar “orgulhoso” pelo uso da técnica de edição genética CRISPR/Cas9 em duas gêmeas e destacou que o estudo não tinha o objetivo de eliminar doenças genéticas, mas de “dar às meninas a habilidade natural” para resistir a uma possível futura infecção ao vírus HIV.
Na segunda-feira, a direção da Universidade de Shenzhen, onde He Jiankui trabalhou, anunciou que vai investigar o cientista e que está “profundamente comovida com o caso”, que qualificou como “grave violação da ética e dos padrões acadêmicos”.
Mais de 120 acadêmicos da comunidade científica chinesa alertaram no mesmo dia em declaração emitida no Sina Weibo, o equivalente ao Twitter na China, que “qualquer tentativa” de fazer alterações em embriões humanos através de modificações genéticas é “uma loucura” e que dar à luz a um bebê assim representa “um alto risco”.
Em nível global, a revista Nature se uniu ao debate e sustentou que o anúncio provocou “indignação” da comunidade científica internacional e que, se for verdade, representará “um salto significativo – e controverso – no uso da edição do genoma humano”.
*Com informações da Agência EFE
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