Evangélicos não esperam por presidente da mesma religião

Pesquisadores entrevistaram participantes da última edição da Marcha para Jesus, em São Paulo

Pleno.News
Marcha para Jesus 2018 Foto: Reprodução Instagram

Uma pesquisa do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política (Neamp) da PUC-SP em parceria com o Grupo de Pesquisa Comunicação e Religião da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação) feita durante a última edição da Marcha para Jesus revelou que os evangélicos não fazem questão que o presidente eleito tenha a mesma fé.

De acordo com os dados apurados, 40,9% dos frequentadores do evento afirmaram não ter expectativa de que o novo presidente do Brasil seja cristão.

Quase um terço (32,62%) dos participantes até prefere que o Executivo fique nas mãos de alguém que professe outra ou nenhuma fé.

Sobre as intenções de voto para presidente este ano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apareceu em primeiro lugar, escolhido por 20,09% dos respondentes, seguido pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), com 15,6% de simpatizantes, e pela ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede), com 5,91% de eleitores evangélicos.

Os resultados da pesquisa se assemelharam às de pesquisas com ampla amostragem. Na última pesquisa Datafolha, divulgada em 15 de abril, o petista alcançava entre 30% e 31%, a depender do cenário. Bolsonaro conseguia entre 15% e 16% das intenções de voto, e Marina, entre 9% e 10%, sempre que Lula era apresentado como um dos candidatos.

A conclusão é de que a religião tem pouca influência no voto dos eleitores da Marcha para Jesus.

– Não existe voto evangélico. O que pesa, nessa hora, é a questão da classe social, a da formação educacional. São os interesses da população em torno daquele que querem que seja a sua liderança maior – disse a pesquisadora Magali Cunha, da Intercom.

Já o pesquisador Leandro Ortunes atribuiu os resultados a outros fatores. Um deles seria a ideia de que a política, por constituir um ambiente corrupto, não é lugar para um cristão. Outro ponto é a própria desconfiança nas instituições políticas.

– Isso leva ao pensamento de tanto faz. Os entrevistados não acreditam que um evangélico faria a diferença – avaliou Leandro.

Entre as 423 pessoas entrevistadas no evento, 16,78% se identificaram como membros da igreja Assembleia de Deus e 15,37% são integrantes da igreja Renascer em Cristo, responsável pela organização da Marcha. Outros 14,89% eram cristãos, mas católicos. Havia, ainda, 4,26% de adventistas e 3,31% de frequentadores da Igreja Universal do Reino de Deus. Os demais 32,86% pertenciam a outras denominações evangélicas.

Os participantes do evento também disseram que não se veem refletidos no Legislativo, com 27,66% afirmando que a chamada Bancada Evangélica não os representa. Outros 16,55% disseram que nem sequer a conhecem, e 18,20% se declararam indiferentes a esse grupo de parlamentares.

A 26ª edição da Marcha para Jesus, realizada no dia 31 de maio na capital paulista, reuniu mais de 2 milhões de cristãos.

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