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"Temos certeza de que nem morte, nem vida vai nos separar do amor de Deus em Cristo Jesus"

Natalia Lopes - 21/11/2024 19h11

Fikiru (Imagem ilustrativa) Foto: Portas Abertas

Fikiru é um cristão africano casado e pai de uma filha. Logo após a sua conversão a Cristo, ele enfrentou oposição e pressão da própria família e comunidade. Hoje, atua na área de pesquisa da Portas Abertas no leste africano. Em sua primeira visita ao Brasil, ele conversou com o Pleno.News e testemunhou sobre a perseguição que enfrentou.

Como você conheceu a Portas Abertas?
Eu frequentei a igreja na Etiópia desde muito cedo. Mas aquela igreja ensinava um sincretismo religioso sem fundamento bíblico, sem falar de Jesus e Seu Evangelho. Então, eu recebi uma Bíblia que estava sendo distribuída por um trabalho que a Portas Abertas estava apoiando. Eu vi em um carimbo na contracapa da Bíblia que a Portas Abertas apoiava aquele trabalho. Nunca tinha ouvido falar da organização e nem conhecia este ministério.

Então, ao ler o Evangelho de Jesus, eu e um grupo, resolvemos compartilhar aquilo com outras pessoas e um grupo de estudo bíblico e oração se formou ali. Então, em pouco tempo, milhares de pessoas frequentavam esses estudos e resolvemos, então, aceitar a Jesus.

Você pode contar um pouco sobre a perseguição que você enfrentou?
Eu costumo dizer que a perseguição religiosa teve início na minha vida assim que a Portas Abertas me deu aquela Bíblia. Eu conheci a verdade libertadora do Evangelho e o nosso grupo crescia mais e mais. Então, os líderes religiosos daquela comunidade perceberam que um novo movimento e uma nova fé nascia ali e que nós não participávamos do sincretismo religioso que eles pregavam. E eles ficaram muito bravos e nos atacaram, levantaram a comunidade contra nós, nos excomungaram e nos chutaram para fora daquela igreja.

O que mais me doeu, no entanto, foi que meu pai, assim que viu que eu fazia parte daquele movimento, também me rejeitou. Formamos uma igreja, mas a comunidade, inflada pelos líderes religiosos, atacou e destruiu a nossa igreja. Meu pai me colocou para fora de casa e minha comunidade me expulsou. Estávamos sós, sem trabalho ou dinheiro, passando fome e necessidade.

Até oficiais do governo estiveram envolvidos?
Na região da África Subsaariana, os governos ou são aliados de grupos extremistas islâmicos, sendo coniventes com o que fazem, ou são alheios à perseguição, dizem que ela não existe e, por isso, não protegem o cristão. Em muitos casos de ataques, nós ficamos vulneráveis, pois as autoridades não nos apoiam e, muitas vezes, também nos atacam.

Você temeu pela sua vida?
O cristão perseguido é, por sua natureza, resiliente. Sempre tememos em momentos de ataques e em momentos de rejeição da família e por nos sentirmos abandonados, mas sabemos que Deus não nos abandona e sentimos a presença constante da proteção Dele. Temer pela vida é inerente ao ser humano, mas temos certeza de que nem morte, nem vida vai nos separar do amor de Deus em Cristo Jesus.

O que mais chocou você em toda a perseguição?
Temos muitas histórias que nos tocam e nos marcam. Como, por exemplo, do irmão em Moçambique. Moçambique vive ataques de extremistas muçulmanos sucessivamente. As vilas de maioria cristãs são atacadas, pessoas são mortas, crianças sequestradas, há muita violência física, sexual e psicológica. Houve um irmão, em específico em uma dessas vilas. Quando a insurgência islâmica atacou a vila dele, ele não conseguiu escapar. Então, eles o jogaram em um poço, derramaram combustível sobre ele e atearam fogo nele vivo. Ele gritava e se debatia. Os insurgentes foram embora e deixaram ele lá. Mas havia outros cristãos escondidos por perto que viram o que aconteceu e correram para salvá-lo. Ele foi levado para o hospital. A Portas Abertas o visitou e pagou por seu tratamento. Ele passou por várias cirurgias, inclusive no rosto. Eu o visitei em agosto deste ano e a resiliência dele é fora do normal.

Sempre que encontramos cristãos perseguidos depois de um ataque como esse, nós ficamos gratos a Deus de poder ajudar como ajudamos e por tudo o que conseguimos fazer, como família. Porque quando viajo pelo Brasil e vejo o esforço dos irmãos em orar, contribuir e sobretudo amar aos cristãos perseguidos, vejo que todo esse esforço é recompensado quando ajudamos a curar essas feridas físicas, emocionais e psicológicas.

Muitos têm medo de seguirem no cristianismo por não terem segurança para isso?
Sim. E é por isso que a Portas Abertas está lá para nos abraçar, orar por nós e nos garantir que, mesmo em um ambiente inseguro e hostil, não estamos sozinhos.

Qual a importância da Portas Abertas para você?
Enquanto eu fugia dos líderes religiosos da nossa cidade e da hostilidade da minha família, a Portas Abertas chegou na casa que nos abrigava e disse que ouviram falar de nós. “Nós ouvimos falar de vocês, e viemos te ajudar. Mais que isso, queremos saber como vocês estão”. Eles só queriam nos ouvir e isso curou nossa alma e fez fortalecer a nossa fé. Porque nada daquilo fazia sentido para nós, mas nós tínhamos quem orasse por nós, nos ouvisse e nos ajudasse. “De agora em diante estaremos com vocês e vocês jamais estarão sozinhos”, disse o grupo da Portas Abertas que nos visitou. Nosso time se fortaleceu e muitos outros membros receberam Bíblias; eu recebi o meu primeiro treinamento bíblico.

Anos depois, fui convidado a fazer parte do time de colaboradores da Portas Abertas e hoje eu encaro isso não como um trabalho, mas como uma oportunidade ministerial de ajuda a outros cristãos em situação de perseguição no meu país e em outros países da África.

Você conhece alguém que morreu por ser cristão?
Muitas pessoas. Olha, em países como Somália, Eritreia, Nigéria, Sudão, Etiópia e Moçambique, os cristãos estão sob ataque constante. Vilas são incendiadas. Pessoas são sequestradas, violentadas, presas sem direito a julgamento, mortas. A Nigéria é o país em que os cristãos mais são mortos*. Os constantes ataques de grupos extremistas muçulmanos em Moçambique pode até não ser necessariamente contra cristãos. Pode ser em vilas em que o exército se faz presente, mas se eles encontram cristãos, eles são sumariamente mortos. Então, sim. Quando eu conheço um cristão que é perseguido na África Subsaariana e me despeço dele, eu não sei se nos veremos novamente. Porque ele pode morrer em um ataque no país dele. Ou eu posso morrer em um ataque na Etiópia ou outro país que eu estiver visitando um cristão perseguido.

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