Israel Belo - 22/08/2019 05h00

“Você que inventou a tristeza, ora, tenha a fineza de desinventar”. (Chico Buarque de Holanda)

Ela vem, por vezes, sem que percebamos.
Em algumas circunstâncias, sequer sabemos por que ela se apresenta.
Ela pode vir por causa de uma saudade que já é real, distante de quem amamos, ou mesmo de uma ausência, que apenas se prenuncia, porque a hora da separação se aproxima.
Ela pode aparecer por causa do cansaço que debilita nossos músculos.
Ela pode surgir depois que uma intensa alegria nos habitou mas agora se recolheu, terminado o encontro, encerrada a festa, finda a celebração.
Ele pode se instalar diante da repetição de um mau hábito que acreditávamos ter deixado definitivamente para trás.
Ela pode acompanhar a confissão de um pecado que cometemos, especialmente se dissemos para nós mesmos que nunca mais erraríamos desse modo.
Quando chega, ela pode começar discreta, mas pode crescer e dominar nossos olhares de modo que até outras pessoas a observem, tão real é em nosso corpo.
Não temos que ter medo dela. Ela não é nossa exclusiva propriedade, porque se oferece a todos.
Quando percebemos que ela nos alcança, devemos primeiramente agradecer a Deus por termos claramente notado o que está acontecendo conosco.
Temos que aceitá-la. Pessoas partem. Nossos músculos sofrem. A festa acaba. Erramos.
Temos que aceitá-la, mas não devemos permitir que se aprofunde para dentro do quarto de nossa alma nem se alongue para a varanda dos nossos afazeres.
Se a nossa tristeza for recebida convenientemente e tratada cuidadosamente, ela ficará por um tempo e partirá, para que sigamos em nossa alegre trajetória.

“Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se melhora o coração”. (Eclesiastes 7.3)

Israel Belo é pastor da Igreja Batista Itacuruçá, na Tijuca, Rio de Janeiro, graduado em Teologia e Comunicação, pós-graduado em História, mestre em Teologia e doutor em Filosofia.

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