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O que fazer antes de apontar o dedo

Maurício Zágari - 15/05/2019 05h00


O gesto de apontar o dedo é muito comum. Apontamos nosso indicador em uma variedade de situações, com diversas finalidades, mas, em geral, o que esse gesto faz é colocar algo ou alguém que não somos nós no centro das atenções. Se alguém me pergunta, por exemplo, onde fica determinada rua e eu aponto o dedo em uma direção, o que meu dedo põe no foco não sou eu, mas, sim, a tal rua. Se eu aponto para uma pessoa com o meu dedo, o assunto em questão é a pessoa, não eu. Portanto, invariavelmente, o gesto de apontar tira quem aponta dos holofotes e põe em destaque quem é apontado. Devemos, porém, tomar cuidado com o que o dedo apontado para o outro diz a nosso respeito.

Uma das maneiras de fugir das próprias responsabilidades é desviar as atenções para os erros alheios. Muitas vezes, quando não queremos encarar os nossos problemas e as nossas falhas, usamos como estratégia apontar o dedo para os erros de outra pessoa qualquer, a fim de que todos os olhos se voltem para ela e, com isso, nossas questões deixem de ser o assunto em pauta.

Por que esse assunto é espiritualmente importante? Porque a fé cristã exige de nós uma atenção constante aos nossos defeitos. O que devo trabalhar prioritariamente são as minhas deficiências; as dos outros vêm depois. O Evangelho nos confronta a todo instante com nossas falhas e exige de nós arrependimento. Porém, como se arrepender se sempre tentamos justificar nossas falhas, apontando o dedo para o próximo?

Costumo desconfiar de gente que só vive botando o dedo na cara dos outros. Sei bem disso, porque eu mesmo já fui um apontador de dedos — mas, felizmente, Deus me chamou ao arrependimento. Cristãos que dedicam a vida a apontar a falha alheia, muito provavelmente deveriam se preocupar com os próprios pecados com muitíssimo mais atenção.

Esse fenômeno acontece em diversas instâncias. Esposas e maridos conformados com seus procedimentos antibíblicos apontam o dedo para o cônjuge ao serem confrontados com seus pecados e dizem “Ah, mas você…”. Pronto. Tirou o foco das próprias atitudes e o pôs na falha do outro para não ter de se reconhecer como errado e fazer algo a respeito. Patrões que não querem se assumir como exploradores dos empregados põem o dedo na cara do governo e dizem “Ah, mas o governo…”. Cidadãos comuns que dão propina a policiais ou funcionários do governo tentam aliviar sua consciência apontando o dedo para o Planalto e dizendo “Ah, mas os políticos…”. E assim por diante.

Você tem apontado o dedo? Nenhum problema quanto a isso, se a sua motivação for corrigir com amor e se, antes, tenha feito uma profunda autoanálise. Nossa prioridade é examinar a nós mesmos e buscarmos, em nós, o arrependimento.

Responda com sinceridade e transparência: seu dedo apontado tem como motivação a amorosa edificação e correção do seu próximo ou uma pretensa superioridade moral e espiritual sua? Será que você aponta as falhas dos demais por amor a eles ou porque, afinal de contas, você é o tal, o defensor da verdade, o paladino mascarado do Evangelho? Pior: será que seu dedo apontado não tem por finalidade tirar as atenções das suas próprias falhas?

Cuidado, meu irmão e minha irmã. Examinem-se. Ponham suas motivações às claras e cuidem do seu coração, para que não se tornem, como eu já fui no passado, um cego querendo guiar outros cegos.

Maurício Zágari é teólogo, escritor, editor, comentarista bíblico e jornalista. Escreve regularmente em seu blog, Apenas. É membro da Igreja Cristã Nova Vida em Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro.
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