Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte…
Não temerei mal algum, porque Tu estás comigo

Ainda que ande pelo vale da sombra da morte... Foto: Pixabay
Valtair Miranda - 27/07/2020 05h00
“Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam. ” Salmos 23:4
O salmo 23 fala de um vale da sombra da morte. O salmista, tendo Deus como seu pastor, ainda que ande pelo vale da sombra da morte, não temerá qualquer mal.
É curioso perceber que a sombra da morte, neste caso, está no vale. Eu poderia imaginá-la com mais facilidade nos becos escuros, nas alturas de uma montanha perigosa ou na travessia de um rio caudaloso.
Mas o autor deste Salmo conhece vida de ovelha, e parece saber que o perigo pode estar onde ele menos espera. Em outras palavras, a sombra da morte está nos vales, nas montanhas, nos becos e nos rios. Está em todos os cantos. Se alguém tem medo desta sombra, não sai do lugar.
A sombra também lembra a escuridão, momento em que os medos parecem aflorar com mais intensidade. Mas o salmista não teme. Sua coragem não está na força de seus braços ou na velocidade de suas pernas. De onde vem, então, a coragem do salmista?
Primeiramente, da companhia de Deus. Ele não teme o mal, porque Deus está com ele. A presença de Deus é algo maravilhoso. Mais maravilhoso ainda é a percepção dessa presença.
É triste perceber que alguns crentes não conseguem perceber a presença de Deus ao seu lado, e, por isso, mesmo com ele por perto, se sentem sozinhos. O crente não está sozinho porque Deus nunca o abandona. Suas promessas vão ainda além, ao dizer que “o anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra” (Salmos 34:7).
A expressão “o anjo do Senhor” é uma referência ao próprio Deus. Ele está acampado ao nosso redor para nossa proteção. Isso não significa que nada passará por este muro, mas o que passar objetiva o nosso bem.
Paulo escreveu na sua carta para a igreja de Corinto: “Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar” (1 Coríntios 10:13).
Em segundo lugar, a coragem do salmista vem do consolo de Deus. Ele usa as imagens do bordão e do cajado. Com estes dois instrumentos o pastor guia o seu rebanho. Se a ovelha precisa se afastar de um perigo, mas se encontra resistente, a vara será usada. Se ela estiver em um poço ou buraco, o cajado será usado para puxá-la de volta. Se ela quer ir para um lado, e o pastor deseja o outro, ambos os instrumentos podem ser úteis nesta hora.
O salmista, na sua experiência, poderia lembrar dos momentos em que precisou guiar suas ovelhas com o bordão e o cajado. Estes instrumentos não são armas contra as ovelhas. Um bom pastor não os usaria para bater no rebanho, como se bate numa rocha. A disciplina poderia até ser necessária, mas é o bem do seu rebanho que está em vista. Por isso, o salmista vislumbra a direção de Deus como alívio para alguma situação de tristeza ou angústia.
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Valtair Miranda é professor, conferencista e escritor de várias obras como O Caminho do Cordeiro e Lutero: História, Poder e Palavra. |