Cristã condenada à morte por críticas ao islã é absolvida
Caso de Asia Bibi provocou diversos embates no país durante o processo judicial
Camille Dornelles - 31/10/2018 08h35 | atualizado em 01/11/2018 07h35
A Suprema Corte do Paquistão absolveu, nesta quarta-feira (31), a cristã Asia Bibi, julgada por blasfêmia, e anulou a sentença de morte que havia sido imposta a ela. A religiosa havia sido condenada por insultar o profeta do islamismo Maomé durante um discurso em 2009.
– A pena de morte é cancelada. Asia Bibi é absolvida das acusações – afirmou o presidente do Supremo, Mian Saqib Nisar.
Nisar, diante de um tribunal de três juízes, disse que se não há outras acusações contra a cristã, “ela pode ser libertada”. O anúncio da sentença aconteceu em meio a fortes medidas de segurança com soldados da polícia e agentes do esquadrão antibombas na entrada da sede do principal órgão judicial.
A cristã perdeu o recurso apresentado à Suprema Corte de Lahore, capital de Punjab, em 2014, no ano seguinte, o Supremo paralisou a execução após concordar em estudar sua apelação. Milhares de islamitas reivindicaram sua execução em diferentes cidades.
EMBATES NO PAÍS
O caso de Asia Bibi provocou indignação internacional, mas no Paquistão tornou-se em uma causa para os grupos e partidos islâmicos e levou a pelo menos dois assassinatos. O partido radical paquistanês ameaçou os juízes com “perigosas consequências” se a Asia Bibi fosse era declarada inocente.
Um deles, o do ex-governador de Punjab, Salman Tasir, morto em 2011 por defender publicamente a causa de Asia Bibi por um de seus guarda-costas, Mumtaz Qadri, que, por sua vez, foi executado em 2016 e enterrado depois como um herói.
O segundo foi o de um ministro cristão de Minorias, Shahbaz Bhatti, assassinado a tiros na porta da sua casa, também em 2011, por defender a cristã e opor-se à legislação contra a blasfêmia.
A dura lei anti-blasfêmia no Paquistão foi estabelecida na era colonial britânica para evitar confrontos religiosos, mas na década de 1980, várias reformas patrocinadas pelo ditador Muhammad Zia-ul-Haq favoreceram o abuso desta norma.
Desde então, aconteceram mil acusações por blasfêmia, um crime que no Paquistão pode levar a pena de morte, embora ninguém nunca tenha sido executado por este crime.
*Com informações da Agência EFE
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