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Augusto Cury: ‘Os cristãos costumam ser os piores pacientes’

Autor afirmou que foi "o maior ateu" da Terra até estudar o comportamento de Cristo

Camille Dornelles - 23/10/2019 11h05 | atualizado em 23/10/2019 14h48

Psiquiatra formado pela faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, com pós-graduação em Ciências da Educação e Psicologia e doutor em Administração de Empresas. O currículo do doutor Augusto Cury não expressa sua principal característica: de escritor brasileiro mais vendido do século 21.

O médico possui 56 livros publicados em mais de 70 países e se tornou o autor brasileiro mais lido na última década. Em uma entrevista especial ao Pleno.News, o escritor falou sobre sua visão, vida pessoal e defendeu a importância da gestão emocional.

Confira a entrevista abaixo.

Pleno.News Entrevista
Augusto Cury
por Pleno.News - 23/10/2019

Doutor Augusto, queria começar falando sobre esse fenômeno que é a quantidade de livros que o senhor possui lá fora. Como o senhor percebe esse interesse de países e culturas diferentes nos assuntos que o senhor aborda?
Eu não me considero em hipótese alguma um fenômeno. Eu sou um carregador de pedras. Meu objetivo não é a fama até porque eu acho que o culto à celebridade é um dos sintomas de uma sociedade doente, intoxicada pela necessidade neurótica de evidência social. Estamos vivendo isso desde que a mídia ganhou uma relevância no teatro da humanidade, ela construiu mitos e celebridades sem perceber. E quem está em nosso redor e que não aparecem são essenciais. Sem eles, nossos céus não teriam estrelas e nossas manhãs não teriam orvalhos.

E num mundo que a gente vive hoje, também temos uma polarização que demoniza o outro lado, o senhor não acha? Tanto levanta deuses quanto cria demônios?
Bom, eu vou falar uma coisa muito complexa, ligada à última fronteira da ciência. Nós somos a única espécia que pensa e que tem consciência de que pensa, que saibamos. E o pensamento consciente é virtual. Toda vez que um pai orienta um filho, ele o faz a partir de si mesmo. Se ele não se esvazia, ele se coloca demais e distorce a capacidade de comportamento do filho e de orientar. Toda vez que um juiz está julgando um caso, a mesma coisa. A mesma coisa acontece com psicólogos e psiquiatras do mundo todo. Nós também temos que ter consciência que o smartphone opera na esfera da virtualidade. Somado ao pensamento virtual, maximiza a solidão.

O fracasso é importante nos processos?
O fracasso é vital, mas as pessoas não gostam de falar dos fracassos. Por isso não estamos formando líderes que são apaixonados pela vida, resilientes, capazes de transferir o que dinheiro não pode comprar.

Quais foram os seus fracassos?
Quando eu fazia ensino médio eu era a segunda nota da classe de baixo para cima. Eu não me adaptava ao currículo escolar, para mim a escola era chata, o ambiente era chato. Então quando me reuni com os amigos para falar o que queria da vida, disse que queria ser um médico e um cientista. Vieram os deboches. Aí eu descobri uma das primeiras ferramentas de gestão da emoção. E foram 54 livros pela paixão pela humanidade. Só vale a pena dar o melhor de nós se tiver apreço pela humanidade.

Muitas pessoas perguntam sobre como lidar com o luto, a tristeza. E o senhor teve que passar pela perda, não é? Como foi isso?
A vida tem curvas imprevisíveis. Cedo ou tarde nós passamos pelos invernos, mas as flores não surgem na primavera, mas surgem no inverno. Nós seríamos as flores. Eu passei por perdas dramáticas, minha família passou. A esposa e os dois filhos pequenos do meu irmão, que é juiz, de 3 e 5 anos, voltavam de um clube e sofreram um acidente. O carro pegou fogo e, infelizmente, nós perdemos a minha cunhada, meus dois sobrinhos e mais um garotinho. Muito triste. A família toda passou pelo caos, mas qual é a melhor maneira de encarar a perda? Não é se deprimindo e nem fazendo perguntas sem respostas, mas honrando quem nós amamos sendo mais feliz.

Sobre depressão, muitos cristãos nos enviaram perguntas querendo saber se é correto uma pessoa fazer um tratamento psiquiátrico/psicológico sendo cristão. O que o senhor diria para essas pessoas?
Os cristãos costumam ser as pessoas que mais dão trabalho para tratamentos, porque acham que não precisam. Qual o problema? Eu fui o maior ateu que já pisou na Terra. Quando eu estudei a mente de Jesus pela percepção humana eu fiquei perplexo. Uma das coisas que me deixou assombradamente positivo foi que ele chamou três alunos (Pedro, que iria trai-lo, Tiago, que iria abandoná-lo, e João, que iria preso) que iriam decepcioná-lo. Mas foi para esses jovens que ele disse: “a minha alma está deprimida até a morte”. E eu me perguntava: que homem é esse que, no auge da sua fama, decide se abrir para três jovens que iriam decepcioná-lo? Enquanto cristãos do mundo todo não tem coragem de não esconder sua dor? Dissimulam e se escondem atrás de seus títulos. Isso é uma atrocidade, uma violência contra a própria saúde emocional. Ele (Jesus) deu o exemplo da pessoa que, para ser grande, tem que se tornar pequena para deixar os pequenos, grandes.

Confira essa entrevista completa no podcast e vídeo acima.

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