Pai de Caio Ribeiro diz que Raí errou ao criticar Bolsonaro
Estatuto do clube proíbe que associados promovam manifestações de caráter político nas dependências do clube
Pleno.News - 05/05/2020 18h04
A discussão entre os comentaristas Walter Casagrande e Caio Ribeiro nesta segunda-feira (4), durante o programa “Bem, Amigos!”, do SporTV, ecoa no ambiente político do São Paulo, clube em que Caio foi revelado como jogador no início dos anos 1990, e seu pai, Dorival Decoussau, é conselheiro.
O motivo da discussão foram as críticas que Caio fez na semana passada sobre a fala de Raí, diretor-executivo do São Paulo, que mostrou desacordo com a condução do presidente Jair Bolsonaro no combate à pandemia de Covid-19.
Nesta terça (5), Decoussau, ex-diretor do clube, disse à reportagem que concorda com a opinião do filho. Para ele, Raí não deveria ter feito críticas políticas pelo cargo que ocupa na agremiação.
– O Raí é uma pessoa pública e tem todo o direito de expressar suas opiniões. Agora, não pode, quando está exercendo um cargo no São Paulo e, questionado sobre condutas do futebol, como diretor assalariado, fazer críticas ao governo. O estatuto do clube não permite manifestação política – afirmou.
O estatuto do clube, no artigo 33, proíbe especificamente “que associados promovam manifestações de caráter político, estranho ao objeto do São Paulo, nas dependências do clube”.
Procurado pela reportagem, o presidente são-paulino, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, descartou qualquer medida contra o seu diretor-executivo.
– A declaração do Raí revela a sua compreensão pessoal dos fatos, manifestada como forma de expressão de exercício da democracia – disse.
Assim como o filho fez durante o programa do SporTV, o conselheiro são-paulino declarou que sua contrariedade diante das declarações de Raí não tem viés político, mas sim o objetivo de preservar a imagem institucional da equipe.
– Como o Caio colocou, não se trata de tomar um lado de direita ou de esquerda. Achamos que não se deve misturar clube com a política – afirmou.
Sobre a discussão com Casagrande no programa, ele elogiou a postura do filho.
– Como pai, você não gosta do seu filho sendo questionado como foi. Caio sempre foi assim, Deus queira que não mude – apontou.
Em fevereiro do ano passado, após a queda da equipe para o Talleres (ARG), na segunda fase da Copa Libertadores, Decoussau foi um dos conselheiros da oposição são-paulina que se reuniram com Leco para fazer cobranças. Ele nega que o objetivo tenha sido pedir a saída de Raí da diretoria de futebol.
– Eu critico o Raí, sim, os números dele como diretor de futebol estão aí. É meu amigo, meu ídolo, mas quem não pode receber críticas? O Raí é um ser infalível? É como todos nós – disse.
Raí assumiu o cargo em dezembro de 2017 e ainda não conseguiu ajudar o São Paulo a conquistar um título oficial, o que não ocorre desde a Sul-Americana de 2012.
Há uma semana, na entrevista que deu origem à polêmica, o ídolo são-paulino e hoje dirigente disse ao Globoesporte.com que Bolsonaro estava “no limite da irresponsabilidade” ao ir contra as recomendações da Organização Mundial da Saúde.
Durante o programa desta segunda, Caio ganhou uma espécie de direito de resposta após Galvão Bueno, que participava de sua casa, levantar o tema.
– O que me incomodou é que minha opinião não teve nenhum viés político. Eu não estou analisando se o Raí é de direita ou de esquerda, se é a favor ou contra o governo, nada disso. Ele tem todo o direito de emitir a opinião dele. O que me incomodou foi que me colocaram no meio de uma guerra política como se estivesse defendendo o governo, e em nenhum momento eu emiti opinião política – disse Caio.
O apresentador Cléber Machado, Casagrande e o comentarista Maurício Noriega foram contrários à visão de Caio e manifestaram apoio à postura de Raí.
O ex-jogador do Corinthians, inclusive, já havia usado sua conta no Instagram para elogiar o dirigente são-paulino, que é irmão de Sócrates (1954-2011), amigo de Casagrande e companheiro de time no clube do Parque São Jorge na época da Democracia Corintiana.
A crítica de Casagrande à opinião de Caio se deu justamente por considerá-la antidemocrática.
– Eu fui contra [a sua opinião], mas não fui agressivo, fui bem educado. Mas eu acho que você tem que ser mais claro – disse Casagrande.
Caio rebateu.
– Mas eu fui – disse.
E Casagrande retrucou.
– Não, não foi. Você está dizendo que foi claro só para as pessoas que te entenderam. E para as pessoas que não te entenderam, você não foi claro? Eu discordo quando você fala que o Raí só tem que falar de futebol, que não pode falar de política. Isso é antidemocrático. Ninguém pode censurar o que o outro está falando. Foge da democracia. […] Então, você tem que ser mais claro, porque, nesses anos todos, não é a primeira vez que você tem que vir no ‘Bem, Amigos!’ explicar uma declaração porque você não é claro – afirmou Casagrande.
Ele e Caio, mesmo com algumas intervenções dos outros participantes do programa, continuaram discutindo por mais alguns minutos. Até que Caio encerrou sua fala justificando mais uma vez a tomada de posição com relação a Raí.
– Só queria terminar dizendo o seguinte: a minha fala, para mim, é clara e coerente com o que eu penso e vocês têm o direito de discordar. Eu só queria reiterar de que não tem viés político, de que não tenho problema com o Raí. Mas eu continuo pensando dessa maneira: quando você representa um time, você tem que tomar mais cuidado – concluiu.
*Folhapress
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