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Técnico reclamou da agressividade dos treinadores brasileiros

Gabriela Doria - 18/11/2019 18h09 | atualizado em 18/11/2019 21h39

Técnico Jorge Jesus criticou a agressividade dos técnicos brasileiros Foto: Reprodução

Sempre que um técnico estrangeiro chega a um grande clube do Brasil, ressurge a discussão sobre conceitos, formação, qualidades e defeitos dos treinadores brasileiros. Aconteceu com o colombiano Juan Carlos Osorio e o uruguaio Diego Aguirre, por exemplo, no passado recente.

Mas nenhum nome acalorou tanto o debate que opõe profissionais de fora aos daqui quanto Jorge Jesus, de 65 anos, que chegou ao Flamengo em junho deste ano e colocou a equipe carioca na final da Copa Libertadores e muito próxima de conquistar o Campeonato Brasileiro.

De Renato Gaúcho a Argel Fucks, passando por Mano Menezes e Vanderlei Luxemburgo, os técnicos do país verbalizaram seu incômodo com o frenesi gerado pelo português, especialmente diante do espaço que ele ganhou no noticiário esportivo nacional.

Em entrevista ao programa Bem, Amigos!, do SporTV, no último dia 4 de novembro, Mano Menezes, técnico do Palmeiras, questionou os seguidos elogios a Jorge Jesus.

– O jeito que o Flamengo está jogando agrada a todo mundo. Nós [técnicos] não somos contra isso. Mas não podemos achar que o futebol brasileiro começou agora – disse Mano, que em tom jocoso sugeriu a vinda de comentaristas portugueses ao Brasil para “darmos uma qualificada no nosso debate”.

Presidente da Federação Brasileira de Treinadores de Futebol, Zé Mário defende a posição de Mano Menezes com relação aos comentários da imprensa.

– Os jogadores que ele tem hoje são os melhores. Quero ver quando começar a perder, se vão enaltecer o trabalho ou se vão continuar com os resultados – disse.

Para o ex-técnico de Figueirense, Internacional e Guarani, entre outros, o sucesso do português deve ser dividido com o ex-presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, responsável pela diminuição da dívida do clube, o que permitiu o investimento em jogadores como Gabigol, De Arrascaeta e Bruno Henrique na gestão de Rodolfo Landim, e também com Abel Braga, antecessor de Jorge Jesus no comando do time.

– Não adianta você ser treinador e não ter jogador. Quero ver se o Jesus lá na Chapecoense ia fazer isso. Hoje, como ontem, como sempre, o jogador vai ser a peça fundamental. Se o Jesus tivesse hoje no Coritiba, na Chapecoense ou no Botafogo, ele estaria fazendo isso aí? – indaga Zé Mário.

Renato Gaúcho, dono do trabalho mais longevo entre os técnicos brasileiros (está desde 2016 no Grêmio), é um dos que mais tem abordado o tema.

Às vésperas das semifinais da Copa Libertadores, o comandante gremista elogiou o futebol apresentado pelo Flamengo no ano, mas também fez questão de pontuar que o rubro-negro ainda “não ganhou nada, o Grêmio sim”, referindo-se às conquistas da Copa do Brasil, de 2016, e da Libertadores, em 2017, ambas sob seu comando.

Após o empate em 1 a 1 na partida de ida, na Arena do Grêmio, os flamenguistas golearam os gaúchos por 5 a 0 no jogo de volta, no Maracanã, e asseguraram a vaga na decisão continental.

No último domingo (17), o Flamengo foi a Porto Alegre e novamente venceu os gremistas, dessa vez por 1 a 0, deixando o time rubro-negro mais perto da conquista do Campeonato Brasileiro.

Perguntado sobre a reação dos colegas de profissão ao seu trabalho, Jorge Jesus desabafou e disse não entender a aparente antipatia dos treinadores brasileiros.

– Sou um treinador como eles, vim trabalhar. Não vim tirar o trabalho de ninguém, não vim ensinar ninguém. Também queria lembrar para os meus colegas que em Portugal já trabalhou um brasileiro, chama-se [Luiz Felipe] Scolari, um grande treinador. Foi acarinhado por todos os treinadores portugueses – afirmou Jesus, após o triunfo no Rio Grande do Sul.

Jesus também falou da “agressividade verbal” da qual tem sido alvo.

– Além dele [Felipão] teve Lazaroni, Abel Braga, Carlos Alberto, René Simões, Paulo Autuori. E nós treinadores portugueses, quando eles tiveram lá, tentávamos aprender e tirar alguma coisa positiva e nunca foi essa agressividade verbal que os treinadores brasileiros têm sobre mim. Não entendo essas mentes fechadas. Espero que olhem para mim como colega de profissão – completou.

No mesmo pacote da resistência a Jesus também está o sucesso de Jorge Sampaoli no comando do Santos. Hoje, a equipe ocupa a terceira colocação no Campeonato Brasileiro.

Tanto sobre o argentino como sobre o português recaem os questionamentos a respeito das licenças que ambos têm para trabalhar no Brasil.

A CBF exige que os treinadores tenham a Licença Pro, estágio máximo da CBF Academy, para que possam trabalhar nas Séries A e B do Campeonato Brasileiro. Há exceções para os veteranos, como Vanderlei Luxemburgo, Abel Braga e Felipão, que ganharam uma licença honorária.

No caso de Jorge Jesus, ele foi aceito no país por ter a licença Pro da Uefa, curso mais avançado ministrado pela entidade europeia. Já Sampaoli possui uma licença da Associação do Futebol Argentino (AFA), que lhe permitiu trabalhar na Espanha (no Sevilla) e também foi aceita agora no Brasil.

Segundo a CBF, para que os técnicos brasileiros possam trabalhar na elite europeia, eles precisam ter a Licença Pro e pelo menos cinco anos de experiência comprovada como treinadores.

Tiago Nunes, ex-Athletico e que treinará o Corinthians a partir de 2020, afirmou que Jesus tem como uma de suas responsabilidades ajudar os treinadores do Brasil a chegar ao mercado europeu, fechado para profissionais do país.

Luxemburgo, na mesma linha de Tiago Nunes, disse que a troca de experiências com Jorge Jesus e Sampaoli é positiva, mas cobrou ajuda da CBF para que os técnicos do país tenham mais reconhecimento no exterior e consigam trabalhar em centros importantes.

– Gostaria de ver a posição da CBF, não impedindo que ele [Jorge Jesus] venha, mas a posição de proteger os técnicos brasileiros na Fifa, para que nós possamos ir para a Europa, para a Ásia, e que prevaleça a nossa Licença Pro – disse Luxemburgo, na época da chegada do português ao Flamengo.

*Folhapress

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