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No Dia da Alfabetização, país vive analfabetismo funcional

No Brasil, 38 milhões de pessoas apresentam dificuldade em se comunicar

Rafael Ramos - 14/11/2018 13h33 | atualizado em 14/11/2018 16h52

Cerca de 38 milhões de brasileiros são considerados analfabetos funcionais Foto: Pixabay

Nesta quarta-feira (14), quando se comemora o Dia Nacional da Alfabetização no Brasil, vale conhecer uma pesquisa realizada entre fevereiro e abril deste ano. O estudo mostrou que 3 em cada 10 brasileiros reconhecem letras e números, mas possuem grande dificuldade de entender e se expressar plenamente. O Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf) entrevistou 2.002 brasileiros, de 15 a 64 anos, e registrou 38 milhões de analfabetos funcionais. Criado em 2001, o Inaf é uma parceria entre a ONG Ação Educativa e o Instituto Paulo Montenegro.

De acordo com a coordenadora do núcleo de Educação da Pós-Graduação da UNISUAM, Waldirene Araújo, o analfabeto funcional é aquela pessoa que apresenta dificuldades na comunicação. Em outras palavras, ela até lê e escreve, mas não consegue reunir as palavras que lê e ainda interpretar esse texto. Uma das causas seria a falta de motivação para estudar. Algo visto até entre universitários, que compreendem 17% dos analfabetos funcionais.

– Os cursos ainda formam professores com metodologias antigas. As escolas insistem ainda em manter aquela estrutura do professor lá na frente escrevendo no quadro e o aluno copiando. Há um desestímulo muito grande nas pessoas e, se interessar pela tarefa de estudar, é algo árduo – disse Waldirene ao Pleno.News.

Apesar de muitos acharem que a rapidez da informação oferecida pela internet e pelas redes sociais seja um fator nessa dificuldade na comunicação, a coordenadora vê a era digital como uma ferramenta que pode reverter esse quadro.

– Não temos como afirmar que essas informações rápidas possam ser o motivo. Eu acredito, inclusive, que essas redes sociais podem ajudar na alfabetização de adultos que perderam a oportunidade de se alfabetizar na idade certa. As novas metodologias e a própria internet são ferramentas facilitadoras de aprendizagem que o professor pode lançar mão para um trabalho diferenciado para trazer o jovem e a criança.

Para o professor Otavio Pinheiro, a internet deixou o indivíduo mais ansioso na hora de ler textos longos e acelerou e simplificou nossa maneira de ler, escrever e interpretar.

– A média de leitura do brasileiro nunca teve um desempenho significativo em relação aos outros países, como a Argentina. A internet e as redes sociais chegaram e contribuíram para uma formato de leitura mais superficial, acelerado e com conclusões muitas vezes simplistas – argumenta o professor ao Pleno.News.

CEO e fundador do Redação Online, uma plataforma de correção de redação para Enem e vestibulares, Otavio ressalta que 80% dos erros cometidos pelos alunos em 2017 se repetiram nas mais de 300 mil redações corrigidas este ano. Entre eles se destacam o uso da vírgula, crase, conectivos, coesão e concordância.

A DESVALORIZAÇÃO DO PROFESSOR
O Índice Global de Status de Professores, divulgado pela Varkey Foundation, no último dia 7 de novembro, colocou o Brasil em último lugar no ranking que avalia o nível de valorização dos professores. Ao total, 35 nações foram avaliadas e a China ficou em primeiro lugar.

Para Otavio Pinheiro, essa desvalorização desmotiva o professor e se torna um ciclo vicioso. Os profissionais são formados com metodologias que não dão conta das mudanças que o mundo da educação está passando. Além da falta de reconhecimento e remuneração abaixo da média, principalmente dos professores da Rede Pública.

– Este ciclo desmotiva os melhores alunos a seguir a carreira de professor e perpetua o modelo. É importante ressaltar que existe diversos heróis da educação que continuam superando desafios para educar com poucos recursos e reconhecimento.

E neste Dia Nacional da Alfabetização, Otavio crê que a criação de políticas públicas de valorização do professor pode ser um dos pontos que pode mudar a situação do analfabetismo funcional no país.

– Seja com recursos didáticos ou salários mais justos e isso em conjunto com políticas públicas de incentivo à leitura, tanto online como impressa nas escolas. Tudo isso aliado a metodologias de aprendizagem que priorizem a leitura, interpretação, escrita e resolução de problemas de lógica – conclui.

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