Manifestações: Jornalistas são inimigos do povo?
Virgínia Martin - 16/08/2018 10h40 | atualizado em 16/08/2018 11h21
Já era esperado. E logo cedo, grandes e pequenos jornais dos Estados Unidos iniciaram uma manifestação via editoriais. Aproximadamente, 350 veículos de comunicação americanos publicaram editoriais que condenam as atitudes do presidente Donald Trump em relação à imprensa. Desde o ano passado, Trump tem feito críticas aos jornalistas e chegou a dizer que a CBN não passava de fake news. Detalhe: o presidente dos EUA não aceitou um diálogo com a CBN a fim de fornecer perguntas e respostas sobre a acusação.
O mais grave, nos discursos de Trump, é a constante frase de que “jornalistas são inimigos do povo”. Tal conduta faz lembrar a performance de Hitler contra os judeus. Em sua campanha ideológica, o líder nazista dizia que os judeus eram inimigos do povo. Era uma forma de marcar os que incomodavam o governo. Portanto, trata-se de uma estratégia já usada e… perigosa.
Taxar jornalistas ou qualquer outro grupo de inimigos do povo é, além de ofensivo e perigoso, um detonador de prováveis ações negativas. Até porque profissionais da mídia são fáceis de atacar e muitos são bastante visíveis pelas ruas. Estão por todos os lados. Sejam de direita ou de esquerda, mantém informações circulando, mesmo que sejam discordantes de uma linha editorial governamental.
Mas a imprensa americana “não deixou por menos”. Fez desta quinta-feira (16) um dia em que a ênfase dos editoriais fosse um grande alarde sobre o comportamento de Trump. O movimento em defesa da liberdade de expressão foi iniciado pelo jornal Boston Globe e acompanhado também por pequenos veículos. O editorial de hoje do News York Times tem como chamada A Imprensa Livre Precisa de Você e o Boston Globe ostenta Jornalistas não são os Inimigos em seu editorial desta quinta.
Certamente, a pequena ou grande mídia não é perfeita. Aqui no Brasil, a imprensa também erra e recebe críticas todo o tempo. Mas é sempre cobrada, sofre processos judiciais, recebe fiscalização, é monitorada por sindicatos, por fontes e pela própria audiência. Em suma, é cercada por monitoramento.
O Pleno.News apoia o manifesto dos colegas americanos. Afinal, por que tentar calar os que discordam? Além de bom senso, é preciso cuidado para que poderosos e formadores de opinião não usem de sua influência para montar uma campanha de ódio contra quem está incomodando.
Virgínia Martin é editora-chefe do Pleno.News. Formada em Jornalismo, com pós-graduação em Propaganda e Marketing, em Comunicação Empresarial e em Pedagogia, tem mestrado em Multimeios. |
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