Virgínia Martin - 12/04/2018 07h30 | atualizado em 12/04/2018 10h21

“Esse sujeito fala com Deus?”, foi o retumbante comentário do ministro Gilmar Mendes referindo-se ao juiz Sergio Moro. A frase é expressão do desesperado inconformismo do ministro para com as decisões do juiz e foram ditas ontem durante sessão do STF no julgamento pela defesa do Habeas Corpus de Antônio Palocci. Em seu discurso, Gilmar atacou a Lava Jato e demonstrou impaciência com os colegas que defendem a operação.

Hoje o país acorda e apresenta suas observações sobre a crítica de Gilmar. Manchetes, memes, análises de comentaristas reverberam a voz do ministro. E o Pleno.News pergunta: “Com quem, afinal, Gilmar fala?”

Se absolveu o presidente Temer e sua antecessora de irregularidades na campanha de 2014 após julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral.

Se defende o Semipresidencialismo como sistema de governo ideal para o país, em que o presidente como chefe de Estado indica o primeiro-ministro, considerado o chefe de governo. Ou seja, eles dividem o poder.

Se nesta semana atacou indiretamente os colegas Luís Roberto Barroso e Edson Fachin por “falta de sensibilidade” ao mandar prender pessoas de 70 e 80 anos (apenas Paulo Maluf se enquadra nessa faixa).

Se respondeu ao repórter da Folha de S.Paulo: “Devolva essa pergunta a seu editor, manda ele enfiar isso… Isso é molecagem, esse tipo de pergunta é desrespeito, é desrespeito”.

Se afirmou que ter um ex-presidente da República como o Lula, condenado, é muito negativo para o Brasil.

Se em 2017 tornou-se obcecado em concessões de liberdade a corruptos encarcerados temporária ou preventivamente pela Lava Jato (libertou por três vezes Jacob Barata Filho – o rei do ônibus).

Se ficou negativamente conhecido com a expressão “Gilmar solta”, já que mandou soltar Eike Batista, Anthony Garotinho, Antônio Carlos Rodrigues (presidente do PR) e Adriana Ancelmo etc.

E por aí segue… Portanto, é mais que válido também perguntar: “Com quem será que Gilmar Mendes fala?”.

Enquanto isso, a força-tarefa da Lava Jato segue trabalhando. Só no Rio de Janeiro recuperou quase R$ 46 milhões em acordos de colaboração. No Paraná realizou 1765 procedimentos instaurados, 953 mandatos de busca e apreensão, 103 mandatos de prisões preventivas,188 condenações, 73 acusações criminais contra 305 pessoas (40 já foram sentenciados). Investigou crimes de pagamento de propinas que somam o prejuízo de R$ 6,4 bilhões.

E o Brasil vai se remexendo com uma limpeza contra a corrupção. Portanto, ainda bem que Sergio Moro tem falado mais com Deus do que com qualquer outro ser inapropriado à missão de colocar ordem e progresso da ética e da dignidade neste país. E que venham mais conversas entre Deus e o juiz!

Virgínia Martin é editora-chefe do Pleno.News. Formada em Jornalismo, com pós-graduação em Propaganda e Marketing, em Comunicação Empresarial e em Pedagogia, tem mestrado em Multimeios.

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