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A era dos votos nulos que não precisa voltar

Virgínia Martin - 23/10/2018 10h46 | atualizado em 23/10/2018 11h11

Lá se foi o tempo do voto em papel. Hoje, basta apertar um botão e o processo é concluído. Mas muitos devem lembrar da insatisfação do país com a política e seus candidatos que era estampada na cédula de votação. Tal qual uma prova rabiscada com palavras ilógicas era o papel do voto. Escrevia-se de tudo a fim de garantir o poder de ter o próprio voto anulado.

Não havia redes sociais nem memes, mas o povo brasileiro dava seu jeito de inventar uma moda eleitoreira nada oficial ou convencional. Foi o caso com o Macaco Tião. Um simples animal primata que morava no Jardim Zoológico da cidade do Rio de Janeiro foi escolhido como candidato entre muitos cariocas. Por quê? Insatisfação em forma de deboche.

Era o ano de 1988. Tudo começou quando uma publicação que circulava na cidade fez uma brincadeira e lançou o macaco como candidato não oficial para a Prefeitura do Rio de Janeiro. A defesa pelo voto nulo ganhou tom de comédia. E fez efeito.

Dizem que ele quase foi eleito. Afinal, Macaco Tião era muito querido entre as crianças em visita ao zoo. E acabou tornando-se uma celebridade. Passados tantos anos, o animal possui uma estátua em uma das praças do local. Após sua morte, recebeu homenagens por sua alegria e conquista de tantos votos. E ainda emplacou um record no Guinness Book como o chimpanzé que recebeu mais votos na história do mundo. Todos nulos, obviamente.

Mas essa ideia não é nova. Nem é de hoje que o brasileiro, um povo que gosta de fazer piadas, vota em animais como forma de enfrentar a frustração com o cenário político do país. Em 1959, foi registrado no jornal O Globo, o caso de um rinoceronte como candidato. Chamava-se Cacareco e recebeu cerca de 100 mil votos na eleição para vereador de São Paulo.

Outro caso registrado foi em Vila Velha, no Espírito Santo. Era 1988 e o candidato não oficial, identificado como Mosquito, ganhou a eleição para prefeito. Teve porcentagem de votos maior que os candidatos oficiais. O resultado foi uma reação da população que sofria em meio ao aumento de focos de aedes aegypti, o transmissor da dengue, na cidade.

Esses e outros exemplos são reconhecidos como fenômeno social. Escancaram o desconforto dos eleitores que optam pelo voto de protesto. Mas a urna eletrônica trouxe outro cenário para os que gostam de registrar inconformismo. E a consciência da importância do voto de cada um assumiu um poder maior. O Brasil acordou e sabe que seu voto não pode ser desperdiçado. Sem mais bichos para candidatura, chega a hora de cobrar de quem for eleito e é humano de verdade.

Virgínia Martin é editora-chefe do Pleno.News. Formada em Jornalismo, com pós-graduação em Propaganda e Marketing, em Comunicação Empresarial e em Pedagogia, tem mestrado em Multimeios.

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