Dólar registra alta de 0,61% e fecha o dia custando R$ 5,75
Dia foi de ajustes de olho em quadro fiscal
Pleno.News - 24/03/2025 20h00 | atualizado em 25/03/2025 11h29

Nesta segunda-feira (24), o dólar emendou o terceiro pregão seguido de valorização e voltou a fechar acima da linha de R$ 5,75, pela primeira vez em cerca de dez dias. Segundo operadores, após o rali recente do real, investidores promoveram ajustes de posições e realizaram lucros no mercado doméstico, apesar do avanço de commodities e de divisas emergentes pares do real, como os pesos mexicano e chileno.
Além do aumento da volatilidade em razão do vaivém das expectativas em torno do anúncio das tarifas recíprocas pela administração Donald Trump em 2 de abril, analistas afirmam que o comportamento do real reflete a volta dos ruídos políticos e fiscais internos, sobretudo após as dúvidas em torno dos números do Orçamento de 2025.
Para a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, o real sofreu nesta segunda-feira com ajustes e movimentos especulativos provocados por questões internas, como certo desconforto com declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela manhã.
– No exterior, houve até uma melhora do apetite ao risco com a perspectiva de tarifas mais baixas. O mercado acabou recebendo mal as falas de Haddad, que, na verdade, não foram ruins. Vejo o comportamento do câmbio hoje mais como algo especulativo – afirma Quartaroli.
A divisa chegou a ensaiar uma alta mais forte e registrou máxima a R$ 5,7728 durante apresentação do ministro. Haddad disse que seria “vergonha nenhuma mudar um parâmetro ou outro do arcabouço”, mas pontuou que “não mudaria”, porque está convencido de que o sistema funciona. Foi a senha para interpretações de que o governo poderia alterar metas fiscais.
O ministro reagiu de imediato e, em post na rede social X, disse que distorceram suas palavras. Ele reiterou que está confortável com a estrutura e os parâmetros atuais do arcabouço e que pretende reforçá-los. Houve apenas uma menção à possibilidade de mudança dos parâmetros no futuro, “se as circunstâncias mudarem”.
As explicações de Haddad abriram espaço para um alívio do dólar, que passou a operar ao redor de R$ 5,73 ainda no fim da manhã. Ao longo da tarde, a moeda norte-americana ganhou um pouco de força e superou os R$ 5,75, em sintonia com mínimas do Ibovespa.
O dólar fechou o dia cotado a R$ 5,7524, em alta de 0,61%, após ter recuado 0,45% na semana passada. Apesar do avanço nos três últimos pregões, a moeda americana ainda acumula desvalorização de 2,77% em março. No ano, perde 6,92%.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY subiu e voltou a superar os 104,000 pontos, com máxima aos 104,444 pontos. As taxas dos Treasuries aceleraram os ganhos ao longo da segunda etapa de negócios, com o retorno da T-note de dez anos voltando a superar 4,30%.
À tarde, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Atlanta, Raphael Bostic, disse que projetava anteriormente dois cortes de juros pelo Fed neste ano, mas que, diante das incertezas econômicas, passou a prever apenas um corte. Na semana passada, após o encontro de política monetária do BC norte-americano, as projeções da maioria dos dirigentes do Fed, espelhadas no chamado “gráfico de pontos”, eram de duas reduções da taxa básica em 2025.
Trump confirmou à tarde que vai anunciar sobretaxas adicionais nos próximos dias, que devem incluir setores como automóveis, madeira e chips. Ele pontuou, contudo, que pode conceder “várias pausas em tarifas de dIversos países” e que “nem todas as tarifas começarão em 2 de abril”.
O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, destaca que o comportamento errático de Trump adiciona volatilidade aos negócios, com investidores tentando entender se haverá mesmo um tarifaço ou se o presidente dos EUA utiliza ameaças para obter uma posição de vantagem na hora de negociar com os parceiros comerciais.
– Existe essa preocupação de que essas tarifas provoquem desaceleração maior da atividade nos EUA e inflação, impedindo o Fed de cortar juros – afirma Velloni.
Ele ressaltou que o real se beneficiou nas últimas semanas do carry trade elevado e do deslocamento de recursos de países mais afetados pelas tarifas, como o México, para ativos brasileiros.
*Com informações da AE
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