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Comprar produto roubado é crime, dizem especialistas

Pleno.News ouviu analistas sobre ação de consumidores que adquirem esse tipo de material

Emerson Rocha - 13/12/2017 12h36 | atualizado em 13/12/2017 12h41

Força Nacional em operação no Rio de Janeiro contra roubo de carga Foto: Agência Brasil/Vladimir Platonow

A palavra mais amada pelos consumidores é promoção. Preços mais em conta chamam sempre a atenção de quem vai às compras. O problema é quando esses valores mais baixos são desproporcionais e os produtos são oferecidos nas ruas ou transportes públicos. Normalmente esse material é oriundo de roubos de cargas.

Segundo especialistas, esse tipo de crime tem acontecido com muita frequência no país. No Rio de Janeiro, os números são ainda mais assustadores. Até por isso, o Ministério da Defesa já determinou operações da Força Nacional, nas principais vias de acesso ao estado para tentar evitar a ação dos bandidos.

Mesmo com esse suporte na segurança, na última sexta-feira (8), mais um caso de assalto a um caminhão de carga deixou os cariocas em alerta. Criminosos roubaram um veículo de frigorífico e o levaram para o Complexo da Pedreira, na Zona Norte da cidade. Os bandidos colocaram a carga em um caminhão menor e fugiram para um esconderijo na mata. Como toda a ação foi filmada, a polícia conseguiu resgatar todo o material.

Roubo de carga no Complexo da Pedreira, na Zona Norte do Rio de Janeiro Foto: Reprodução TV Globo

O Pleno.News ouviu alguns profissionais que lidam diretamente com esse tipo de crime. Para todos, as maiores razões para o aumento do roubo de cargas é a procura e a compra dele por parte da população. O diretor de segurança do Sindicato das Empresas do Transporte Rodoviário de Cargas e Logística do Rio de Janeiro (Sindicarga), coronel Venâncio Alves de Moura, culpa a falta de punição até para os consumidores de produtos roubados.

– A impunidade é tão grande, que a pessoa sabe que o produto é roubado, mas compra sabendo que nada vai acontecer com ela. Além disso, falta fiscalização. A gente sabe que há vários comércios a céu aberto espalhados pela cidade e ninguém faz nada. Esse comércio criminoso acontece na nossa cara e as pessoas acabam achando “normal” comprar produto roubado – criticou o diretor.

Por causa dos últimos casos, coronel Venâncio está bem pessimista com o atual momento da segurança pública para esse tipo de crime.

– Não vejo solução para isso do jeito que está. A mentalidade do consumidor é de cada um por si. Até porque, ele acha que está sendo “roubado” pelo governo e acaba se dando bem em comprar um produto mais barato. Chega até a comemorar. É tudo falta de educação – sentenciou.

Consumidores são cúmplices do crime?
Mas quem acaba consumindo produtos de roubos pode ser enquadrado pelo crime de receptação. O especialista em segurança pública e ex-oficial do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), Paulo Storani, alerta as pessoas que há leis de punição também para quem compra esse tipo de material.

– Mesmo não agindo de má-fé, ela faz parte do ciclo criminoso. Basta perceber a diferença absurda de preço e do local onde está sendo vendido tal produto, que o consumidor tem uma noção clara se é ou não um material obtido através de crime. É a lógica do mercado. Quem compra um produto roubado, acaba financiando e estimulando o crime – explicou.

Vale a pena comprar?
Na questão econômica, muita gente também sai perdendo. Além das empresas que têm o material roubado, o comércio também é obrigado a aumentar o preço. Quem acaba pagando por isso é o consumidor. O economista Fabio Guimarães analisa que quem adquire esses produtos acaba não tendo nenhum benefício.

– Moralmente é inaceitável. Sabemos que por trás de cada mercadoria comprada por um preço inferior ao preço de mercado, seja com ambulantes e/ou comércios irregulares temos um assalto, vítimas e possivelmente até homicídios. Economicamente também não vale a pena. O risco para o consumidor é muito grande. Se for um produto alimentício, por exemplo, ele não consegue ter clareza se está na validade, pois pode ter sido adulterado, ou se foi acondicionado de forma correta. Produtos eletrônicos não têm nenhuma garantia – afirmou.

Ensinamentos bíblicos
Participar mesmo que indiretamente de um crime é uma forma de a pessoa também agir contra a conduta cristã. O pastor, teólogo e cientista da religião, André Mello, considera que esse consumidor vai de encontro com os mandamentos da Bíblia.

– A pessoa que compra um produto sabidamente roubado está descumprindo, em um só ato, dois dos dez mandamentos de Deus. Por fazer a compra movida pela cobiça e porque não obedece os ensinamentos de “não furtar” ou “não roubar”. Eticamente, também pode se tornar cúmplice de um eventual assassinato. E, assim, desobedece em uma só “comprinha”, três mandamentos – informou o teólogo.

Como pastor, André Mello orienta que as pessoas pensem que seus atos podem influenciar uma comunidade toda.

– A melhor sugestão é não se tornar cúmplice do mal. Evitar o produto roubado, contrabandeado e falsificado. É a única atitude correta. E isso também vale para programas de computador que usamos em nossos aparelhos. Nada do que fazemos em coletivo têm apenas efeitos individuais – alertou.

Os números de 2017 são assustadores
De acordo com os dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, no período de janeiro até outubro deste ano, ocorreram 8.508 roubos de cargas no estado. Apenas em outubro, a polícia registrou 901 casos. Os números vinham diminuído desde junho, quando a Força Nacional aumentou o patrulhamento nas principais vias de acesso.

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