Leia também:
X Empresa fabricante da Barbie lança bonecos sem gênero

Suicídio mata mais policiais do que confronto com o crime

Rio Grande do Sul é o estado com o maior índice de suicídio entre a população brasileira

Virgínia Martin - 25/09/2019 18h16 | atualizado em 26/09/2019 12h05

A Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo divulgou uma pesquisa, nesta quarta-feira (25), que aponta que 17 policiais civis do estado de São Paulo tiraram a própria vida no período entre 2017 e 2018. Com um efetivo de 28 mil homens e mulheres na corporação, o número de mortes equivale a uma taxa de 30,3 a cada 100 mil policiais, o que já é considerado uma situação epidêmica segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) quando a taxa é de 10 para 100 mil. No caso da Polícia Civil de São Paulo, o valor é três vezes maior e ainda mostra que o suicídio mata mais policiais do que o exercício da profissão no dia a dia. Para agravar ainda mais o quadro, a corporação não conta com um programa para tratar a saúde mental de seus agentes.

Dados divulgados pela 13ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública reforçam essa epidemia. Em 2018, 104 policiais cometeram suicídio, enquanto que 87 morreram em confronto com o crime. Em Minas Gerais, um levantamento feito por sindicatos e associações junto à ONG Defesa Social, com foco em segurança pública, estima cerca de 30 casos de suicídio entre agentes de segurança só em 2019. A pesquisa ouviu mais de 2 mil servidores estaduais, entre policiais militares e civis, agentes penitenciários e socioeducativos e bombeiros como forma de entender o alto índice de afastamento de agentes por transtorno psicológico. A PM lidera com seis casos registrados, seguido por agentes penitenciários, com cinco.

Estado com maior índice de suicídio entre a população brasileira, o Rio Grande do Sul tem uma taxa grande de casos entre policiais militares, o que supera o índice entre policiais civis e outros agentes de segurança. A exposição à violência, a falta de reconhecimento, o estresse e a rigidez hierárquica são fatores que desencadeiam o aumento de casos. De acordo com dados da Lei de Acesso à Informação, entre 2015 e 2018, 17 militares tiraram a própria vida, atingindo a média de 30,7 suicídios a cada 100 mil habitantes.

Em virtude do Setembro Amarelo, o governo do Rio Grande do Sul preparou uma série de atividades de prevenção ao suicídio. No dia 1º de outubro, em Porto Alegre, acontecerá o Seminário Internacional Sobre Prevenção ao Suicídio na Segurança Pública. Dentre os palestrantes estarão o capitão Diógenes Martins Munhoz, do Corpo de Bombeiros de São Paulo, que falará sobre protocolos de ação para PMs que atendem ocorrências de suicídios de civis, e a psicóloga argentina Alicia Galfaso, que vai abordar a saúde mental do policial e os riscos associados ao sofrimento psicológico.

QUEBRANDO PARADIGMAS
No Rio de Janeiro, o chefe do Núcleo Central de Psicologia da Polícia Militar (NuCePsi), o tenente Fernando Carvalho Derenusson já lidou com a depressão e relatou ao Pleno.News que, diferente do que foi divulgado pela ouvidoria de São Paulo, a corporação conta com a presença dos psicólogos destinados a todos os policiais militares e dependentes que procuram atendimento ou são encaminhados por colegas ou superiores. Ao se fazer presente nas unidades, o oficial psicólogo pode intervir e atender aqueles que necessitam de cuidados.

Junto a isso, existe o Serviço de Atenção à Saúde do Policial para avaliação geral da saúde dos policiais de unidades mais conflagradas com atendimento semanal e durante o período que se achar necessário.

– Os policiais são submetidos a uma avaliação psicológica através de testes destinados para tal fim. Os testes indicam o estado emocional atual do candidato, bem como a capacidade de atenção concentrada e medidas de personalidade, que irão retratar o indivíduo naquele momento. Através da avaliação psicológica não evitamos todo agravo mental no decorrer da carreira, mas inferimos a predisposição do indivíduo a desenvolver transtornos mentais, selecionando aqueles que apresentam melhor perfil e adaptabilidade para o cargo.

Tenente Fernando Carvalho Derenusson, chefe do Núcleo Central de Psicologia da PMERJ Foto: Arquivo Pessoal

Fernando explica que o serviço de psicologia realiza campanhas internas para que todos prestem atenção no estado psicológico de seus colegas, de forma a encaminharem os policiais afetados ao serviço de psicologia da corporação. Uma súbita melhora ou piora no humor, presença de agressividade e irritabilidade ou apatia são sinais para os quais eles devem estar alertas.

Outro trabalho desenvolvido pelo NuCePsi é quebrar o paradigma de que o agente não pode demonstrar qualquer tipo de fraqueza. Visto que os próprios membros da corporação correspondem a 44% dos atendimentos do núcleo, o trabalho acaba sendo o maior responsável pela derrubada dessas barreiras.

– Em 2018 tivemos quatro casos de suicídios na tropa ativa e, em 2019, chegamos ao mesmo número alarmante. Os policiais necessitam se ver amparados pela corporação, uma vez que a realidade que enfrentam é muito dura. Ao receber apoio da PMERJ, se estabelece um vínculo de confiança e se torna possível atingir o policial de maneira positiva. É um trabalho continuado, que se constrói com esforço constante e dedicação – finaliza.

BUSQUE AJUDA
No Brasil, o Centro de Valorização da Vida é uma das instituições que dão apoio emocional e trabalham para prevenir o suicídio. Para pedir ajuda ligue para o número 188 ou acesse o site.

Leia também1 Suicídio: o que fazer diante de uma ameaça
2 Suicídio: Como ajudar aqueles que passam pelo luto?
3 Pastores com depressão não devem liderar igrejas, diz líder

Siga-nos nas nossas redes!
WhatsApp
Entre e receba as notícias do dia
Entrar no Canal
Telegram Entre e receba as notícias do dia Entrar no Grupo
O autor da mensagem, e não o Pleno.News, é o responsável pelo comentário.