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Suicídio entre pastores gera sinal de alerta permanente

"O ministério não deve ser de solidão", avalia psicóloga

Rafael Ramos - 18/10/2019 13h10 | atualizado em 18/10/2019 13h11

 

Pastor Lisandro Canes deixou desabafo antes de se matar Foto: Reprodução

Apesar do fim do Setembro Amarelo, a luta pela prevenção do suicídio é algo que precisa perdurar. Afinal, dados da Organização Mundial da Saúde revelam que 1 pessoa comete suicídio a cada 40 segundos ao redor do mundo. Só no Brasil, o suicídio é segunda maior causa de mortes no país, o que o coloca na oitava posição do ranking mundial.

E, se antes casos como depressão e suicídio eram tidos como falta de Deus entre a comunidade religiosa, principalmente por parte dos evangélicos, as igrejas começaram a se abrir ao diálogo sobre as questões psicossomáticas, que afligem o ser humano. Uma prova tem sido o aumento de casos de suicídio até mesmo entre pastores.

Em janeiro deste ano, a psicóloga Marisa Lobo fez um alerta em suas redes sociais para o assunto. Entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, 14 líderes religiosos tiraram a própria vida.

– É necessário ter muito cuidado quando falamos a respeito de uma coisa tão violenta como essa, que é tirar a própria vida, porque cada vez que se noticia um fato desse, pode acabar desencadeando outros. Tragédia silenciada pelo tabu. Precisamos falar sobre isso com honestidade, tolerância e amor.

Igrejas começaram a se abrir ao diálogo sobre as questões psicossomáticas que afligem o ser humano

O caso mais recente aconteceu no dia 25 de setembro, quando o pastor Lisandro Canes, da Igreja Nova Vida em Rio Grande, tirou a própria vida devido ao esgotamento e cansaço. Dias antes de morrer, ele usou o Facebook para desabafar sobre as agruras da vida ministerial.

– Nenhum trabalho ou responsabilidade consumiu mais as minhas energias e minha saúde do que liderar uma Igreja. Como pastor posso dizer que a Igreja precisa urgentemente se preocupar com o descanso e a saúde dos seus pastores. Antes de pensar no pastor como um super homem, lembre-se que existe um ser humano a Imagem de Deus atrás do púlpito. Um ser humano igualzinho a você – escreveu o pastor.

Em seu texto, Lisandro fez menção a outro caso ocorrido nos Estados Unidos. No dia 9 de setembro, o pastor Jarrid Wilson, de 30 anos, se matou após uma luta contra a depressão. Há 18 meses, ele atuava como conselheiro de saúde mental na Harvest Christian Fellowship, na Califórnia. Ele chegou a desabafar sobre sua situação no dia em que resolveu tirar a vida.

– Amar a Jesus nem sempre cura pensamentos suicidas. Amar a Jesus nem sempre cura a depressão. Amar a Jesus nem sempre cura o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Amar a Jesus nem sempre cura a ansiedade. Mas isso não significa que Jesus não nos oferece companhia e consolo. Ele sempre faz isso.

GERAÇÃO TRISTE
A mentora e coach de famílias pastorais, Susanne Sá, desmistifica a crença de que os pastores são imortais e inabaláveis. Ela afirma que as muitas expectativas do próprio pastor e das pessoas ao redor se tornam um peso e sobrecarrega o seu emocional.

– Seria inimaginável que um pastor admitisse de alguma forma a sua fragilidade para sua igreja ou mesmo para amigos. Afinal, o pastor precisa estar sempre aprovado, como referência inabalável para seus seguidores. Ainda existe um preconceito, ou uma ideia errada de que depressão é sinal de fraqueza, depressão é falta de caráter, que depressão é doença espiritual.

Muitos desses líderes sentem vergonha de seus transtornos emocionais e não conseguem por suas dores para fora

Susanne explica que muitos desses líderes sentem vergonha de seus transtornos emocionais e não conseguem por suas dores para fora. A escolha, muitas vezes, de tentar resolver esse problema sozinho pode colocar o ministro em um caminho rumo ao fim.

– Estamos na era de muito sucesso e expectativas, mas também com uma geração triste. Precisamos parar de espiritualizar a enfermidade. Transtorno psicológico é doença e pode ser tratada a tempo. A oração é bem-vinda, o milagre de Deus é possível, assim como em qualquer outro caso, mas não é o único meio. Assim como o pastor e líder deve procurar um profissional, ele também deve procurar amigos e mentores que o ajudem nessa situação. O ministério não deve ser de solidão, não deve ser um fardo pesado, mas encontrar colegas que o sustentem nesse momento faz parte da caminhada cristã – encerra.

PEÇA AJUDA
No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma das instituições que dão apoio emocional e trabalham para prevenir o suicídio. Para pedir ajuda ligue para o número 188 ou acesse o site do CVV.

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