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Suicídio de pastores: Epidemia silenciosa

Três casos na mesma semana alertam sobre depressão entre líderes de igrejas

Virgínia Martin - 14/12/2017 19h11 | atualizado em 15/12/2017 10h17

Casos de suicídio entre pastores têm ocorrido periodicamente. Com o avançar dos anos, a mídia, cada vez mais, publica histórias de perdas irreparáveis de líderes evangélicos. Os fatos comprovam que algo está errado. Se pastores estão no limite de sua saúde mental, ou isso deriva de um problema no indivíduo ou vem de um sistema que não esta funcionando muito bem. Então, o que leva um pastor a se suicidar?

Recentemente, dois episódios no Brasil soaram mais um aviso de alerta. O pastor Júlio César Silva, da Assembleia de Deus, foi encontrado morto na terça-feira (12). De acordo com o registro policial, Júlio César se enforcou. No último domingo (10), o pastor Ricardo Moisés, também da Igreja Assembleia de Deus, se enforcou em sua casa que fica nos fundos da igreja. Aos 28 anos de idade, foi encontrado já sem vida por sua esposa.

Mais de 50 pastores estiveram no velório do pastor Júlio César Silva, que enforcou-se Foto: Reprodução

As tragédias aconteceram dois meses depois da campanha nacional de prevenção ao suicídio, denominada Setembro Amarelo. O campanha sinalizou que a cada 40 segundos morre uma pessoa no mundo por suicídio.

Outro exemplo recente é do pastor evangélico Dan Johnson, congressista estadual do Kentucky (EUA). Segundo a agência EFE, ele se atirou de uma ponte na quarta-feira (13), mas deixou uma mensagem se justificando que sofria de estresse pós-traumático, devido ao atentado de 11 de setembro. Mas o pastor também havia sido acusado de assédio sexual.

O esgotamento físico e mental e, ainda, a solidão são apontados como principais causas de uma epidemia silenciosa entre pastores. Altas expectativas e cobranças do meio eclesiástico podem afetar a vida de um líder de igreja. Para a instituição, muitas vezes, um pastor não pode estar estafado; caso esteja isso pode revelar que não tem capacidade para cuidar de sua própria alma ou mesmo que não tem lido a Bíblia suficientemente ou até que vive uma espiritualidade decadente.

– Pastores e líderes precisam de cura da alma. Proponho que haja disciplinas em nossos seminários que possam tratar as mazelas da alma, que não desaparecem com o tempo – sugere o pastor Ângelo Eder, psicólogo clínico, mestre em Educação.

Ângelo Eder explica também que caso de alguém tenha sido rejeitado no passado, essa raiz da rejeição pode resultar em dois comportamentos extremos, dependendo da pessoa. Ou levará à tristeza, ao desânimo, à depressão e ao suicídio ou ao outro extremo igualmente nocivo: ira, revolta, rebelião, violência e homicídio.

Assim, sem uma vida emocional saudável, pastores estão sujeitos a muitos riscos. Podem se tornar reféns da dobradinha destrutiva: igrejas que matam seus pastores e pastores que se matam por sua igreja. Então, em um mundo intensamente doente, pastores também podem adoecer.

– Suicídio, depressão e angústia são manifestações clínicas e não simplesmente simbolizam decisões. Pastores também precisam se tratar e buscar ajuda, precisam do mesmo tipo de apoio que damos a qualquer crente. São apenas gente com uma missão e não são super-super-heróis. Se a igreja que pastoreiam entendesse isso, muito sofrimento e mortes poderiam ser evitados – avalia o pastor presbiteriano Andre Mello, também jornalista e cientista da Religião.

Tragédias aconteceram dois meses depois da campanha nacional contra o suicídio

Segundo pesquisa do Instituto Schaeffer, 80% dos pastores acredita que o ministério pastoral tem afetado negativamente suas famílias e 70% deles crê que não possuem um amigo próximo. Outro dado é que 70% dos pastores lutam contra a depressão. É inegável que um líder não consiga ser bom em administração, gestão financeira, louvor, visitação, pregação, evangelismo e discipulado e ainda cuidar da própria família ao mesmo tempo. A busca desenfreada por satisfazer expectativas, os “nós emocionais” do passado e a solidão, intensificada pela falta de amigos, representam fatores de risco no exercício do pastorado.

Sem amizades

  • Nas reuniões entre pastores, há muita conversa sobre sucessos e conquistas, mas as aflições estão latentes na mente.
  • O exercício do gabinete pastoral também provoca sofrimento e desgastes.
  • Cobranças de metas e resultados ministeriais empurram para uma rota autodestrutiva.
  • Atender demandas, como cuidar de viúvas e enfermos e ainda da própria família conduz à um estado agonizante.
  • O conflito entre o chamado pastoral e as exigências do mercado religioso institucional são fatores que adoecem.

Comumente, pastores são seres solitários. Têm poucos amigos ou nenhum. E o isolamento é perigoso. Desprovido de apoio e de mentoria, esses homens precisam ser cuidados porque cuidam de pessoas. Assim como um psicólogo terapeuta precisa ser mentoriado por outro terapeuta.

– Uma das razões porque Sansão não terminou bem foi porque ele escolheu andar sozinho, o que pode nos levar a loucura – observa o pastor Josué Gonçalves, escritor e líder na área de família.

Josué Gonçalves aconselha que pastores tenham uma rede de amigos e mentores, façam aquilo que traga alegria, vejam filmes, pesquem, caminhem, nadem, viajem… Tenham uma vida normal e comum.

– Eles não são “semi-deuses” ou “super-homens”, são seres humanos que precisam da compreensão da sua família e da sua igreja. Que o Espírito Santo console o coração das famílias que perderam de uma forma trágica esses homens que foram vencidos por uma crise existencial – conclui pastor Gonçalves.

 

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