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Série: Psicopatas que usam a religião

Como homens doentes se disfarçam de pastores para abusar e manipular

Virgínia Martin - 22/06/2018 11h35 | atualizado em 28/06/2018 11h46

George Alves e Juliana Salles: muitos enganam com sua aparência religiosa. Foto: Reprodução

O caso dos pastores de Linhares (ES) continua em progressiva repercussão. George Alves e a esposa Juliana Salles estão sendo investigados pelo homicídio dos meninos Kauã, de 6 anos, e Joaquim, de 3, ocorrido em 21 de abril, quando um incêndio consumiu a casa onde a família vivia, matando as duas crianças.

Mas o crime está sendo apontado como uma premeditação do casal. Segundo o juiz André Bijus Dadalto, da 1ª Vara Criminal de Linhares, “George, em parceria com a pastora Juliana, buscava uma ascensão religiosa e aumento expressivo de arrecadação de valores por fiéis e, para esta finalidade, ceifou a vida dos menores Kauã e Joaquim para se utilizar da tragédia em seu favor”. As duas crianças também eram abusadas por George, que está preso desde o dia 28 de abril e a prisão de Juliana Salles foi cumprida nesta quarta (20). Ambos eram os líderes da Igreja Batista Vida e Paz. E após a tragédia, foram vistos como exemplo de fé pelos membros.

Mídia, redes sociais e autoridades mostram-se chocadas com o crime que tem mobilizado ações de investigação com acompanhamento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Maus-Tratos. O senador Magno Malta (PR-ES), presidente desta CPI, esteve no Espírito Santo em maio e declarou:

– Padre que é padre e pastor que é pastor, cuida de criança, cuida de família, e não abusa de criança.

O que, porém, permite que situações como esta aconteçam dentro de igrejas e, principalmente, feitas por seus líderes? A tragédia de Linhares alerta para o cuidado na formação e na escolha de pastores, na importância de selecionar uma igreja séria, no comprometimento com doutrinas baseadas em um Evangelho verdadeiro e em princípios bíblicos.

Para começar, a igreja de George e Juliana tinha a classificação como batista, sem ser. O estado do Espírito Santo possui 660 igrejas filiadas à Convenção Batista Brasileira e a Igreja Batista Vida e Paz não faz parte desta lista. Ou seja, é uma igreja independente. Até porque igrejas evangélicas históricas, como a batista, tem uma plataforma de pertencimento junto às Convenções que agem com parâmetros, monitoramento, sistema de votação, que atribuem maior seriedade ao trabalho religioso. Como a marca “batista” não possui patente ou exclusividade, qualquer igreja pode usar o nome.

A maioria dos pastores de igrejas sérias precisam cursar um Seminário de Teologia por quatro anos. Após formados, passam por uma sabatina para testar seus conhecimentos teológicos, filosóficos e eclesiásticos e só então, são considerados pastores. Para o pastor Luciano Vergara, é importante ter em mente que todos estão constantemente expostos ao risco de aproveitadores que buscam diferentes grupos sociais, nos quais almejam aceitação da maioria e, alcançando-a, dão vazão à suas mistificações e seduções enganadoras.

Formado em Jornalismo, Teologia e coordenador do Curso de Pós-Estudos do Seminário Teológico Betel, Vergara também destaca o alerta do apóstolo Pedro sobre quanto a “falsos profetas”, “falsos mestres”, registrado no trecho bíblico de 2 Pedro capítulo 2.

– O efeito destrutivo da mácula da desintegração logo se percebe, pois o abandono da razão de ser da Igreja (amor a Deus e ao próximo) é substituído por algo voltado à auto-satisfação. As conseqüências dessas excrescências não se tratam apenas de desvios teórico no conjunto teológico ou litúrgico das comunidades de fé, mas se tornam dolorosos resultados de dimensões concretas na vida prática.

Na esfera psíquica, Marisa Lobo denomina tais “líderes” como Psicopatas da Fé, título de um de seus livros. Na obra, ela ainda incluiu um questionário que funciona como uma espécie de anamnese e poderia ser aplicado em todos os candidatos ao pastorado antes de assumirem o púlpito de uma igreja.

– O George Alves é um psicopata, um perverso sexual, um pedófilo, não um pastor. Todo psicopata acha um lugar, um celeiro para seus crimes, que pode ser tanto em uma igreja evangélica quanto em uma católica. Ele se aproveita de seu papel principal para enganar as pessoas. Psicopatas são extremamente sedutores. E gostam de estar em altos cargos ou em posições de importância. Podem atuar na Política, nas Forças Armadas… E por causa da função que ocupam, poucos suspeitam deles.

“Todo psicopata acha um celeiro para seus crimes, que pode ser tanto uma igreja evangélica quanto uma católica”, analisa Marisa.

Marisa é psicóloga, preocupada com algumas anomalias que afligem a sociedade, especialmente, nas igrejas. Ela explica que homens e mulheres com este tipo de patologia, normalmente, são muito prestativos, têm aparência de religiosos. E também lembra o trecho bíblico em 2 Timóteo 13, que alerta sobre os últimos dias em que existirão homens amantes de si mesmos, com aparência da fé, mas que negarão a eficácia dela.

– São pessoas más e cruéis. No entanto, iludem, manipulam, seduzem e entram na religião em busca de poder. E ser um pastor traz poder. Estes psicopatas não têm remorso nem culpa. Eles buscam o prazer, o poder político e público. E a religião é um poder público. E assim acabam enganando pastores verdadeiros, que têm boa fé e não desconfiam de nada.

O episódio tem gerado, além da polêmica, muita reflexão. Igrejas precisam estar em alerta. É uma realidade que muitos homens e mulheres usam a religião para abusar e alienar pessoas. Pode até ser uma minoria, mas que precisa ser extirpada e evitada com cautela. Talvez com testes psicológicos e, principalmente, com muita lucidez. Vale lembrar de que Judas caminhou com Jesus em todo o tempo.

 

 

 

 

 

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