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Série: Psicopatas que usam a religião – 2

Como igrejas podem detectar, se defender e excluir líderes psicopatas de seu meio

Virgínia Martin - 28/06/2018 11h32

Um dos casos mais emblemáticos que exemplifica a existência de pastores com patologias psíquicas entre igrejas foi o do reverendo Jim Jones na década de 70, quando aconteceu um massacre suicida no noroeste da Guiana. Jones fundou o Templo do Povo, uma seita pentecostal denominada cristã. Em novembro de 1979, Jim Jones promoveu a morte de 918 pessoas no sítio que chamava de Jonestown, em formato de projeto agrícola. Ali, o cenário chocou o público com imagens de suicídio coletivo.

Jones se classificava como messiânico. Por sua ordem, centenas beberam um veneno misturado a suco de uva, o que resultou em um trágico final. A seita era orquestrada com “curas milagrosas”, imposição de regras, apoio humanitário… e muita doença mental. O falso pastor pregava um cristianismo com vertentes socialista e marxista. Ainda explorava financeiramente seus seguidores e controlava suas vidas.

Quase 40 anos depois, ambientes religiosos ainda estão suscetíveis à ação destes psicopatas da fé, como foi o recente caso do pastor George Alves e de sua esposa Juliana Salles. Acusados de matarem os filhos, ainda são suspeitos de terem cometido o crime com o objetivo de se promoverem como ícones de fé e coragem. Conforme avaliação do juiz André Bijus Dadalto, da 1ª Vara Criminal de Linhares, o ato foi uma tentativa para “uma ascensão religiosa e aumento expressivo de arrecadação de valores por fiéis”.

George Alves e Juliana Salles: acusados de assassinato. Foto: Reprodução

– No caso do pastor de Linhares, se o ministério que o ordenou como pastor sabia que ele era um novo convertido, agiu com irresponsabilidade. É bom lembrar que seja possível que George tenha mentido para o líder do ministério, pois a igreja onde ele se converteu exige, no mínimo, oito anos de estudo para ter competência ao pastorado. Talvez ele tenha saído daquela igreja por não aceitar as regras e por não querer ficar tanto tempo se preparando, observa o senador Magno Malta, presidente da CPI do Maus-Tratos de Crianças e Adolescentes.

Malta alerta os líderes de todas as denominações para que reavaliem seus critérios de aceitação e ordenação de pastores e obreiros. Ainda traz uma preocupação na esfera jurídica.

– Já soube, inclusive, que tem senadores querendo convocar o presidente da tal denominação que ordenou o George para depor na CPI dos Maus-Tratos de Crianças e Adolescentes no Senado Federal. Não se assustem se logo a sociedade não pedir que seja instalada uma CPI para investigar as igrejas no Brasil por causa da irresponsabilidade de algumas poucas denominações.

“O ministério que o ordenou como pastor agiu com irresponsabilidade”, declara senador Malta.

O episódio, no entanto, não deve generalizar a grande parcela de pastores sérios que exercem com rigor o que a Bíblia determina como critérios básicos para alguém ser separado ao trabalho pastoral. Mas deve chamar atenção para alguns cuidados. O líder do Ministério Flordelis, pastor Anderson Carmo, diz que o principal monitoramento daquele que se diz pastor deve ser a própria ovelha. Não será o poder de uma boa oratória que poderá manipular pessoas.

– A gente conhece a boa árvore por seus bons frutos. Procure saber o histórico de como esta “igreja” ou como este “pastor ou pastora” foi separado ao serviço pastoral. Muitas igrejas estão sendo abertas de maneira clandestina. Muitos saem de seus antigos ministérios de maneira rebelde e se intitulam “pastor”.

Exemplos de “pastores” suspeitos estão nas mídias sociais. A assessoria do deputado federal Marco Feliciano detectou um jovem de 28 anos, que se intitulava pastor, ex-padre, com várias agendas de pregação. Só que seu nome consta como preso no Distrito Federal por condenação no Estado do Ceará em decorrência de abusos sexuais de meninos em torno de nove anos de idade.

– Igrejas fazem agenda com pastores itinerantes sem terem a cautela de pesquisarem sua igreja de origem, sua referência pastoral. Mandei contactar a instituição católica onde este pastor acusado alega ter sido padre para confirmar esse título. A vida de alguém que se propõe a pastorear gente tem que demonstrar conduta ilibada, dedicação e constância. Na ausência destes requisitos, é mais fácil desmascarar impostores. A partir daí, se torna caso de polícia.

Deputado Feliciano: “É preciso denunciar abusos com o uso indevido do título eclesiástico de pastor”,

Enquanto aumenta a busca por discernimento diante de falsos pastores, o prejuízo causado por eles tem se tornado irreparáveis. Estes infiltrados na religião podem ser criminosos, sem nenhum vínculo espiritual ou moral com a verdade que dizem seguir. São competentes para abrir igrejas, arregimentar fiéis com promessas falsas e facilidades espirituais. Nem sofrem qualquer tipo de controle.

– E aqui está o segredo das igrejas evangélicas históricas, já que possuem controle espiritual, administrativo e moral por meio de suas Convenções. Creio que deveria haver uma espécie de central evangélica, composta pelos principais ministérios, a fim de fiscalizar e, se preciso for, denunciar abusos com o uso indevido do título eclesiástico de pastor, afirma Feliciano.

Marcos Luis Lopes é pastor e já foi presidente da Convenção Batista Fluminense, no Rio de Janeiro. Em sua opinião, se a igreja pós-moderna parar de exigir líderes com perfil de gerente e passar a examinar os frutos dos candidatos e o que dizem comparado às Escrituras, será mais fácil saber se estes homens falam da parte de Deus ou são enganadores.

– Deus não se deixa enganar e nem o seu povo, regido pela Palavra que liberta. Jesus veio em busca dos feridos e não dos sãos. Ele, entretanto, avisou que pessoas travestidas de ovelhas, de trigo, de pastores, poderiam ser lobos, joio e devoradores.

Quem é também da denominação batista e faz uma observação é Pedro Luis Litwinczuk, pastor da Comunidade Batista da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Ele aponta que de janeiro de 2010 a fevereiro deste ano, 67.951 entidades se registraram na Receita Federal sob a rubrica de “organizações religiosas ou filosóficas”, uma média de 25 por dia. Ao levar em conta apenas os grupos novos, que não são filiais daqueles já existentes, o número é de 20 por dia.

– Como vemos, não existe nenhum controle ou norma sobre isso. Basta alguém criar um estatuto, um CNPJ e, pronto, está aberta mais uma nova igreja. Mas qual a formação deste pastor? Na maioria das vezes, nenhuma. Como pode um professor de matemática ensinar sem conhecer matemática? Hoje aumenta o número de pessoas que se auto-denominam pastores. Sem curso, sem preparo e com um único objetivo: ganhar dinheiro e ter visibilidade.

Diante desta realidade de riscos, a igreja brasileira sofre, seja católica ou protestante. O foco de análise não deve ser apenas sobre a vida de membros ou fiéis, mas também sobre líderes.

Análises:

  • Procurar ser criterioso quanto a igreja que você irá frequentar. Observar a postura e a coerência na vida do pastor.
  • Avaliar histórico do líder (formação teológica, trajetória eclesiástica, performance familiar).
  • Saber a que Convenção, Conselho ou organização aquela igreja está ligada.
  • Observar se o líder presta conta de seus atos e decisões e se é mentoriado por alguém de confiança.
  • Conferir se há coerência entre as ações do pastor e a Bíblia.
  • Estar em alerta se o pastor exerce uma liderança isolada, facilitando manipulação.

 

 

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